A “mancada” de Cássio (*)

By | 31/10/2014 8:16 am

Em 27 de fevereiro postamos no Patos Online, um artigo reproduzido aqui na audição da Revista da Semana de 09 de março, onde falávamos da inoportunidade da candidatura de Cássio Cunha Lima a governador. Vejamos o que dizíamos naquela altura.

A candidatura de Cássio

Há algum tempo venho remando contra a maré. Apesar de todas as evidências lançadas aos quatro ventos pelos seus partidários, ainda não acredito na candidatura de Cássio. A própria admissão feita por Cássio no início desta semana de que pode ser candidato ainda me parece fantasia.

Nada a nosso ver justifica uma disputa entre Cássio e Ricardo. Aliás uma única coisa poderia justificar. Cássio tem a “cara lisa”, é simpático. Ricardo tem a “cara dura”, é antipático. Mas João Agripino também tinha a cara dura, era antipático e foi o maior governador da história recente da Paraíba.

As outras comparações que possam ser feitas entre Cássio e Ricardo depõem contra Cássio. Em termos de realizações, quem realizou mais na Paraíba? Não vou enumerar obras para não parecer que quero “vender o peixe” de A ou B. Mas alguém se lembra de alguma obra importante de Cássio em seus seis anos de governo? Ricardo tem espalhado estradas asfaltadas por toda a Paraíba, muitas delas prometidas por vários governadores antes dele. Só para dar um exemplo, a estrada de Quixaba para Assunção, criando nova opção para quem vai do sertão para Campina Grande e João Pessoa, a chamada Rodovia da Reintegração, que permitirá reitegrar Quixaba, Cacimba de Areia, Passagem, Areia de Baraúna e Salgadinho ao resto do Estado.

Deputados reclamam de insensibilidade de Ricardo Coutinho para atender os seus pleitos. Na realidade o que eles mais têm a reclamar de Ricardo é que o governador tirou deles o direito de indicar vários cargos que eram preenchidos em governos anteriores por indicação do deputado da região. Que nomeavam seus cabos eleitorais, muitos deles sem a menor qualificação para os cargos. Ao tirar dos deputados essa prerrogativa, Ricardo tirou deles uma grande fonte de votos. Quem mais perdeu é quem mais reclama. Já os prefeitos, até adversários, elogiam Ricardo por que os trata bem e atende muito dos seus pleitos, outra causa da ciumada dos deputados.

Que Cássio tem carisma, que é mais simpático e mais acessível do que Ricardo não há a menor dúvida. Mas Cássio ainda tem quatro anos de mandato como senador. Por que não fica “na dele” e deixa para se candidatar daqui a quatro anos, quando não tem concorrente visível. Mas, por falar em candidato simpático, quem mais simpático do que Collor e “deu no que deu”?

Cássio está sendo pressionado a ser candidato por quem só pensa no próprio interesse. Os maiores exemples são Cícero Lucena e Ruy Carneiro. Sem Cássio, os dois não têm condições nem de serem candidatos. Depois vêm os deputados, que perderam “prestígio” no governo de Ricardo. Depois os órfãos da administração cassista que ocupavam cargos comissionados, muitas vezes sem a habilitação necessária, e que ficaram “a ver navios” depois que Ricardo assumiu o governo. Por fim, os tradicionais financiadores de campanha, que investiam no candidato para receber contrapartida dele, através de contratos de obras ou prestação de serviços, depois que assumia o governo. No atual governo mudou a prática ou pelo menos diminuiu consideravelmente. O maior exemplo é que as obras de estradas mais importantes têm sido “tocadas” por empresas de fora, com muito mais condições operacionais do que as empresas da terra. As obras têm caminhado com rapidez e são muito mais bem feitas. Outro tipo insatisfeito é o daquele funcionário público que não trabalhava ou trabalhava pouco e recebia o salário, mesmo com atraso, mas recebia. Esse é inimigo de Ricardo. Como seria de qualquer um que agisse do mesmo modo.

Conclusão, os maiores partidários de Cássio são os defensores do “statu quo” anterior. E eles querem voltar à mesma “vida mansa”. Mas será que ao povo e ao Estado da Paraíba interessa isso?

A maior contribuição que Cássio deu ao Estado foi dar seu apoio para que Ricardo fosse eleito governador na última eleição. Em termos estratégicos ninguém pode negar isso. Cássio levou o nome de Ricardo a todo o Estado, que em sua maior parte não conhecia o prefeito de João Pessoa. Quatro anos depois, Ricardo é conhecido e reconhecido em todo o Estado. A maior contribuição que Cássio pode dar e que ele pode cobrar em forma de apoio em 2018, é deixar Ricardo concluir a sua tarefa, governando mais quatro anos.

Mas, você me perguntaria: “Mas o que Cássio pode fazer para “amansar” os seus órfãos?” Conciliar os interesses de Cícero Lucena e Ruy Carneiro junto a Ricardo, seria a tarefa mais fácil. Difícil é contentar os órfãos menores. O que eles querem é difícil de ser obtido de Ricardo Coutinho. Para muitos bastaria um pouco de “sombra” do Governo, alguns cargos e algumas obras para tocar, já que o “Cabeludo” de Campina Grande não inspira muita esperança, nem que o PT se junte a ele. Se Cássio for candidato, o PMDB só tem chance se se juntar a ele. Caso contrário será massacrado. Se Cássio continuar com Ricardo o massacre é muito maior.  Com relação aos deputados, sem Cássio candidato, eles correriam para a “sombra” do Governo. “Ruim com ele, pior sem ele.”

Por fim, resta uma classe que, segundo dizem, é a mais revoltada com o Governo de Ricardo. O funcionalismo do Estado. Os mais revoltados não são os funcionários como um todo, são os funcionários que perderam “boquinhas” as mais diversas. Afinal, depois de governadores que não deram um aumento sequer, Ricardo vem dando aumento todo ano. Pode não ser o merecido e o desejado, mas é pelo menos o que é possível diante da Lei de Responsabilidade Fiscal. E nós já ouvimos muito funcionário público elogiando o governador, por pagar em dia e dar aumento todo ano. Para a maioria do funcionalismo talvez isto baste. E lembrar-lhes que alguns nunca deram aumento ou pagaram com atraso. Para concluir, lembramos uma afirmação que nos fez alguns anos atrás o nosso amigo Chico Sátyro, comentando a revolta dos funcionários com o prefeito de então. “Em muitos anos de serviço público, nunca vi funcionário público satisfeito com o prefeito. Ele sempre quer mais”. E é natural. (LGLM)

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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