(Folha da terça)
A empreiteira Galvão Engenharia apresentou nesta segunda-feira (24) à Justiça comprovantes de que pagou R$ 8,8 milhões do que considera propina para um emissário da diretoria de serviços da Petrobras, então comandada por Renato Duque.
O engenheiro Shinko Nakandakari foi o encarregado de recolher o dinheiro como “emissário” da diretoria de serviços, segundo a Galvão. Dirigentes da área foram indicados pelo PT na época.
A Galvão já havia reconhecido ter pago R$ 4 milhões ao doleiro Alberto Youssef, que teria redirecionado o valor ao PP (Partido Progressista).
O advogado da empreiteira, José Luis Oliveira Lima, diz que a empresa foi vítima de extorsão. Segundo ele, o ex-diretor Paulo Roberto Costa ameaçava não pagar os contratos que a empresa tinha com a Petrobras se não recebesse “comissões”.
O segundo pacote de propinas, como revelou a Folha na segunda, não tinha, conforme a Galvão, relação com o esquema de Youssef e Costa. De acordo com a firma, Nakandakari exercia papel semelhante ao desempenhado por Youssef, mas em outra diretoria da estatal, a de serviços.
Foi o presidente da divisão industrial da Galvão, Erton Medeiros Fonseca, quem informou à PF o nome de Nakandakari, o mais novo personagem do escândalo, como quem recebeu a propina.
Com os documentos apresentados à Justiça, a empreiteira esclareceu que o valor correto alcançou R$ 8,8 milhões, e não R$ 5 milhões. Com isso, subiu para R$ 12,8 milhões o total que a Galvão diz ter pago a Yossef e Shinko.
Há repasses para Shinko mesmo após a Operação Lava Jato ter sido deflagrada (março deste ano). Os repasses foram feitos de novembro de 2010 a junho de 2014, com notas fiscais emitidas pela LSFN Consultoria, de Shinko e seus dois filhos. O dinheiro foi depositado em contas dos filhos.
No endereço que aparece no registro da firma, no Brooklin, em São Paulo, ninguém soube dizer se a consultoria funciona ali. A Folha procura Shinko desde domingo (23), sem sucesso.
A Galvão informou ao juiz Sérgio Moro que a propina foi paga a Shinko “com a efetiva ameaça de retaliação das contratações que a Galvão Engenharia S/A tinha com a Petrobras, caso não houvesse o pagamento dos valores estipulados de maneira arbitrária, ameaçadora e ilegal”.
Segundo a PF, a Galvão obteve R$ 3,47 bilhões em contratos com a Petrobras de 2010 a 2014 e mais R$ 4,1 bilhões como integrante de consórcios entre 2007 e 2012.
Em petição à Justiça na segunda (24), a Galvão diz que não participou de cartel.
O ex-diretor Renato Duque disse à PF que não houve pagamento de propina na época que comandou a diretoria de serviços e negou saber que o seu auxiliar, Pedro Barusco, tenha recebido suborno. Barusco fez um acordo de delação premiada e prometeu devolver US$ 97 milhões (cerca de R$ 250 milhões).