Oscar e Dalva, cidadania na melhor idade (*)

By | 30/11/2014 12:09 am

(José Augusto Longo, no Patos Online)

 

Um exemplo de cidadania nunca visto por essas bandas vem sendo dado pelo contador Oscar Leandro e pela comerciante Dalva Marques, na luta que ambos encabeçaram pelo restabelecimento do nome da Rua Vidal de Negreiros, mudada para João Bosco Araújo, num lastimável equívoco da nossa Câmara de Vereadores.

Com mais de oitenta anos, mas plenamente lúcido e disposto, Oscar Leandro, talvez o mais antigo contabilista da cidade,  assim como a empresária Dalva Marques, que tem mais de sessenta, comovem a cidade pela tenacidade e a energia com que buscam uma solução para o que julgam um desrespeito, não somente aos que residem ou negociam há anos naquele importante logradouro da cidade, mas, também, pela manutenção de uma história que vem sendo escrita paulatinamente no decorrer de décadas, pelos que lá nasceram e que, com a atitude da Câmara em mudar-lhe o nome, perderam parte significativa de suas identidades.

Nomeado como primeiro projeto de iniciativa popular da história do nosso legislativo municipal, a proposta enviada à Câmara conta com as assinaturas de mais de quatro mil patoenses eleitores em nossa cidade, o que, por si só, já serviria de convencimento aos nossos nobres legisladores, que se auto intitulam de “representantes do povo” e, em nome de quem dizem trabalhar. No entanto, há quem ponha dúvidas neste procedimento, dado a negativa de alguns e a reticência de outros, quando o assunto é focado.

Na verdade, quem teve a iniciativa de mudar o nome da Vidal de Negreiros para João Bosco Araújo, foi o vereador Ivânes Lacerda, que tem se mostrado irredutível quanto ao retorno da denominação original, mesmo no que pese a manifestação quase unânime da população e das mais de quatro mil assinaturas no abaixo-assinado que acompanha o projeto dado entrada esta semana, na Secretaria da Câmara. Número de eleitores que na conjuntura atual, podem eleger até quatro vereadores em Patos.

Ivânes, a quem sempre tive na conta de democrata e de homem de mente arejada, em quem, por assim entender, cheguei a votar algumas vezes, não pode, depois de tantos mandatos outorgados pelos eleitores que nele acreditaram, manchar sua biografia política, apenas por um capricho, fazendo um “cavalo de batalha” por um problema tão simples de resolver e que ocorre normalmente em todas as Casas legislativas mundo afora. Não seria nenhuma desonra, portanto, voltar atrás em uma iniciativa que, se não foi propriamente um erro, já que legislar é uma das funções do vereador, mostrou-se no mínimo inconveniente no entendimento dos que assinam a propositura, bem como da quase totalidade da nossa população.

Também é necessário avaliar positivamente, que não há, por parte de Oscar, Dalva ou dos demais moradores da Vidal de Negreiros, nenhum resquício de interesse em questionar pessoalmente o edil, nem muito menos desmerecer ou manchar a memória de João Bosco Araújo, um norte-rio-grandense  de Caicó, que aqui aportou, tornou-se empresário de destaque, constituiu família e colaborou, inegavelmente, com o nosso progresso.

Num trecho da justificativa anexada ao Projeto que será defendido pelo vereador Toinho Nascimento, está escrito: “A petição ora apresentada em forma de Projeto de Lei de Iniciativa Popular – constituída de milhares de assinaturas de eleitores importantes de Patos, dentre estes comerciantes, industriais, profissionais liberais das mais diversas categorias, homens e mulheres do povo e políticos de reconhecidos méritos, como nos casos do deputado Federal Hugo Mota, do deputado Estadual eleito Nabor Wanderley e da própria prefeita Francisca Mota, assim como importantes entidades representativas da sociedade civil, a exemplo da Ordem dos Advogados do Brasil, secção de Patos, Instituto Histórico e Geográfico, Lojas Maçônicas Augusto Simões e Templários do Oriente, Rotarys Club Patos, Patos Sul e Patos Norte, Giaasp e Diocese de Patos, através do Padre  José Ronaldo Marques da Costa, vigário da Catedral de Nossa Senhora da Guia, cujas declarações de apoio à iniciativa estão anexadas a esta justificativa, além de muitos outros, que nos merecem toda consideração – visa resguardar, além da tradição, que encerra a lembrança dos que nasceram na velha Vidal de Negreiros e dos que lá residem por vários e vários anos,  a conveniência em se manterem intactos todos os registros oficiais e escrituras, não só de residências e prédios particulares, mas, também, da manutenção da documentação  contábil das várias firmas ali instaladas há muito tempo e que, com a troca de denominação viria acarretar despesas desnecessárias que muito bem poderiam ser evitadas, assim como o enfrentamento cansativo que ocasionaria àqueles que, por tal motivo, teriam que alterar toda a documentação de suas firmas que tem como endereço, desde a sua fundação, a Rua Vidal de Negreiros”.

Outro fato que merece a atenção dos senhores vereadores, é a constatação por parte dos Correios de quase quinhentas ruas, assim como alguns bairros sem a devida denominação, que bem poderiam ser aproveitados para que homenagens fossem prestadas à memória dos que aqui viveram e nos honraram com o seu trabalho, sem a necessidade de se trocar nomes já tradicionalmente conhecidos, incluindo-se neste contexto o empresário João Bosco Araújo que, por todos os méritos, merece ser lembrado na posteridade.

Portanto, a sociedade como um todo, está esperando ansiosa pelo pronunciamento na nossa Câmara de Vereadores. Que os espíritos conciliadores de Maria Ester Fernandes, Virgílio Trindade, Elvina Caetano, Rênio Torres, Polion Carneiro, Abdias Guedes, Zé Caetano, Apolônio Gonçalves e de tantos outros ilustres filhos de Patos que por lá passaram deixando um legado de sensibilidade e compreensão aos anseios do povo, prevaleçam sobre a conduta dos nossos atuais representantes na Casa de Juvenal Lúcio de Sousa e que a não menos extraordinária lição de cidadania que nos dão os decanos Oscar Leandro e Dalva Marques, não tenha sido em vão.

(josaugusto09@gmail.com)

Comentário do programa – Endosso tudo o disse Zé Augusto, sobre Oscar e Dalva. São velhos e queridos amigos nossos. Oscar é meu contraparente, primo de meus primos, e dona Dalva é viúva de José Marques Dantas, saudoso amigo meu, colega no Seminário de Cajazeiras. Os dois estão fazendo o que todo idoso deve fazer e nós próprio pretendemos fazer: continuar ativo, apesar de nominalmente aposentados. Já estou preocupado com o que vou fazer a partir de outubro de 2015, quando a aposentadoria compulsória me atinge. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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