Desgoverno estatal

By | 13/12/2014 9:20 pm

(Editorial da Folha, nesta quinta)

Após entregar o pedido de demissão da Controladoria-Geral da União, que comandou por oito anos, o ministro Jorge Hage criticou a falta de mecanismos adequados de controle das empresas estatais. Em especial, as de economia mista, que executam a maior parte dos investimentos federais.

Hage destacou a esqualidez de recursos para a CGU cumprir seu papel de fiscalizadora da administração federal. Em 2014, houve redução de R$ 7,3 milhões no orçamento de custeio, para R$ 77,5 milhões. Desde 2008, segundo o ministro, a CGU perdeu 300 auditores.

Hage apontou ainda o fato de que o sistema de controle do governo, no caso das estatais, prevê só uma auditoria anual, que qualificou como formal e burocrática.

São críticas relevantes, mas a questão é mais ampla. Não basta obrigar as empresas a seguir normas dos órgãos da administração direta. Isoladamente, isso não garantiria eficácia no controle.

É preciso muito mais, uma mudança completa na cultura das empresas públicas. Para começar, cabe lembrar o óbvio: empresas com controle 100% governamental ou de economia mista não devem se confundir com o governo e seus interesses políticos e conjunturais.

A fim de atender ao interesse público, cabe-lhes conduzir os negócios de forma impessoal e eficiente. Note-se ainda que, mesmo no caso das sociedades públicas, a Constituição determina que sigam o regime jurídico das companhias privadas. Isso implica obediência às boas práticas nas esferas civil, comercial, tributária, trabalhista e previdenciária.

Aí se inclui também o comprometimento dos gestores e membros do conselho, que devem portanto passar a responder por eventuais desvios de conduta ou de recursos. Esse é o problema de fundo.

O governo federal usa cargos de direção e nos conselhos para indicar políticos e apaniguados a funções (inclusive nos fundos de pensão) que exigem longa experiência profissional. Contam-se às dezenas, porém, os servidores de segundo e terceiro escalões sem tal qualificação agraciados com cargos de conselheiros apenas para engordar seus rendimentos.

É preciso profissionalizar a direção das empresas, com critérios claros de nomeação e avaliação de resultados. Devem ser reforçados os mecanismos internos de controle e transparência, como comitês de auditoria e conselhos fiscais.

O escândalo da Petrobras seria uma grande oportunidade para rever tais práticas. Mas não: cogita-se a indicação de Anthony Garotinho (PR), candidato derrotado ao governo do Rio de Janeiro, para uma vice-presidência do Banco do Brasil. Não é um bom sinal.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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