Arrastões

By | 24/01/2015 5:22 pm

(Jânio de Freitas, colunista da Folha)

Vai continuar, mas a prova já está feita. A política de “ajuste” econômico adotada pelo segundo mandato de Dilma Rousseff consiste em sugar quem vive de trabalho e salário. Todas as medidas lançadas para aumentar a arrecadação do governo ou a redução dos seus gastos configuram uma política antissocial.

As duas mais recentes medidas confirmam a dispensa de referências à campanha eleitoral para duvidar da moralidade dos princípios agora dominantes. O ministro Marco Aurélio Mello define como confisco o veto de Dilma à correção de 6,5% da tabela de Imposto de Renda, aprovada pelo Congresso. O veto implica aumento automático dos descontos nos salários, para o chamado “Imposto de Renda na fonte”. Logo, redução dos salários. A perda é ainda maior para os que mudaram de degrau na tabela, por promoção ou correção salarial: uma punição por melhorar um pouco de vida.

Esse método de arrastão oficial, como lembraram Gustavo Patu e Sofia Fernandes na Folha, vem desde 1996, período em que a tabela do IR foi corrigida em 99% quando deveria sê-lo nos 226% de inflação de lá para cá. Criação do governo Fernando Henrique seguida pela desfaçatez pallociana, agora é um reforço na evidência do retorno ao velho conservadorismo.

Para aproveitar o embalo do dia, o governo fez um aumento tríplice de impostos que incidem sobre os combustíveis. Vão ser aumentados, portanto, os preços da gasolina e do diesel. Quem são os ferrados? A classe média absorve, com raiva passageira e sem dificuldade real, cada novo preço da gasolina e do álcool. Os usuários de transporte público, dos ônibus e vans, é que sofrem a mordida nos seus salários.

Em São Paulo e no Rio, as passagens de ônibus subiram de R$ 3 para R$ 3,50 e R$ 3,40. Quando o preço do petróleo caiu à metade. Sem que haja redução nos preços finais dos combustíveis e, portanto, das passagens. A expressiva diferença transforma-se em mais lucro para as empresas de transporte público, em cima do aumento das passagens já vigente e sobre o qual virá outro aumento, a pretexto do novo preço dos combustíveis. Aumento, também, para a arrecadação de impostos. A soma desses acréscimos é igual ao decréscimo do salário dos usuários.

Ficou lá atrás, como medida inaugural da era Levy/Rousseff, mas é tão simbólica que sempre valerá lembrá-la: a redução do salário mínimo deste ano, de R$ 790 para R$ 788. Tirar R$ 2 do salário mínimo, nem aqueles aventureiros da política econômica de Collor desceram a tanto. De dois em dois, o governo espera arrecadar R$ 600 milhões no ano, em comparação com os R$ 21 bilhões esperados só do arrastão desta semana. Para os que recebem salário mínimo, ao fim do mesmo ano, o governo lhes terá tirado dois almoços e dois jantares de PF, o seu malsinado “prato feito”.

Dilma Rousseff e Joaquim Levy têm muito apetite.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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