(Jânio de Freitas, colunista da Folha)
Vai continuar, mas a prova já está feita. A política de “ajuste” econômico adotada pelo segundo mandato de Dilma Rousseff consiste em sugar quem vive de trabalho e salário. Todas as medidas lançadas para aumentar a arrecadação do governo ou a redução dos seus gastos configuram uma política antissocial.
As duas mais recentes medidas confirmam a dispensa de referências à campanha eleitoral para duvidar da moralidade dos princípios agora dominantes. O ministro Marco Aurélio Mello define como confisco o veto de Dilma à correção de 6,5% da tabela de Imposto de Renda, aprovada pelo Congresso. O veto implica aumento automático dos descontos nos salários, para o chamado “Imposto de Renda na fonte”. Logo, redução dos salários. A perda é ainda maior para os que mudaram de degrau na tabela, por promoção ou correção salarial: uma punição por melhorar um pouco de vida.
Esse método de arrastão oficial, como lembraram Gustavo Patu e Sofia Fernandes na Folha, vem desde 1996, período em que a tabela do IR foi corrigida em 99% quando deveria sê-lo nos 226% de inflação de lá para cá. Criação do governo Fernando Henrique seguida pela desfaçatez pallociana, agora é um reforço na evidência do retorno ao velho conservadorismo.
Para aproveitar o embalo do dia, o governo fez um aumento tríplice de impostos que incidem sobre os combustíveis. Vão ser aumentados, portanto, os preços da gasolina e do diesel. Quem são os ferrados? A classe média absorve, com raiva passageira e sem dificuldade real, cada novo preço da gasolina e do álcool. Os usuários de transporte público, dos ônibus e vans, é que sofrem a mordida nos seus salários.
Em São Paulo e no Rio, as passagens de ônibus subiram de R$ 3 para R$ 3,50 e R$ 3,40. Quando o preço do petróleo caiu à metade. Sem que haja redução nos preços finais dos combustíveis e, portanto, das passagens. A expressiva diferença transforma-se em mais lucro para as empresas de transporte público, em cima do aumento das passagens já vigente e sobre o qual virá outro aumento, a pretexto do novo preço dos combustíveis. Aumento, também, para a arrecadação de impostos. A soma desses acréscimos é igual ao decréscimo do salário dos usuários.
Ficou lá atrás, como medida inaugural da era Levy/Rousseff, mas é tão simbólica que sempre valerá lembrá-la: a redução do salário mínimo deste ano, de R$ 790 para R$ 788. Tirar R$ 2 do salário mínimo, nem aqueles aventureiros da política econômica de Collor desceram a tanto. De dois em dois, o governo espera arrecadar R$ 600 milhões no ano, em comparação com os R$ 21 bilhões esperados só do arrastão desta semana. Para os que recebem salário mínimo, ao fim do mesmo ano, o governo lhes terá tirado dois almoços e dois jantares de PF, o seu malsinado “prato feito”.
Dilma Rousseff e Joaquim Levy têm muito apetite.