Ensino público e justo (*)

By | 24/01/2015 5:26 pm

(Editorial da Folha, na quinta-feira)

Não faltam estudos a mostrar que a posse de um diploma superior propicia significativo acréscimo de renda ao longo da vida. Alguém que curse uma universidade pública e gratuita, desse modo, obterá amplo benefício pessoal do investimento que todos os contribuintes fizeram na sua formação.

Claro está que a coletividade tem interesse na preparação de especialistas, como médicos e engenheiros. Não parece descabido, apesar disso, defender que os beneficiários ofereçam à sociedade, além de bons serviços profissionais, alguma compensação para retribuir recursos neles aplicados.

Pouco se discute o assunto no Brasil, porém, porque a gratuidade das universidades públicas se tornou um tabu. Age bem, assim, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, ao reviver a questão da equidade com a sugestão de que egressos da academia paulista prestem um serviço social em contrapartida pelo privilégio de nela estudar.

Um médico recém-formado, por exemplo, poderia trabalhar por certo período no SUS; um engenheiro, engajar-se em projetos de habitação popular. A ideia embrionária foi apresentada por Zago no Conselho Universitário da USP.

A discussão da proposta certamente apontará suas deficiências. A mais saliente é que não se concebe a adoção dessa prática por uma única universidade. A consequência provável seria uma diminuição relativa na demanda por suas vagas, pois acarretaria ao candidato bem-sucedido um ônus inexistente em outras instituições.

Isolada, a USP também enfrentaria dificuldade para montar um sistema de alocação eficiente, capaz de encaminhar os formandos a postos de trabalho. Isso só parece exequível com a participação de todas as faculdades públicas num sistema nacional ou estadual de colocação. Ademais, há dúvidas sobre a constitucionalidade de tornar obrigatório esse serviço social.

Se a noção do ressarcimento vier a prosperar como deveria, por seu conteúdo de justiça, seria preciso agregar ao debate outras formas de efetivá-lo. Cobrar mensalidades de quem puder pagar seria a mais óbvia –desde que acompanhada de um programa de bolsas ou financiamento subsidiado–, mas conta hoje com renhida oposição.

Outro mecanismo é a cobrança de pequena alíquota adicional no Imposto de Renda dos diplomados, que garantiria um fluxo contínuo de verbas para as combalidas universidades públicas. A USP, por seu tamanho e excelência, teria muito a ganhar com isso.

Comentário do programaJá manifestamos várias vezes aqui no programa a nossa opinião de que os estudantes que se beneficiam do ensino público superior deveriam dar alguma forma de retribuição ao governo pela educação que receberam. Se ele por acaso utilizou o FIES para pagar o ensino privado ele vai ter que pagar o financiamento recebido depois de formado, por que não retribuir depois de formado ao governo que financiou o seu estudo? (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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