Ao Mestre Virgílio, com saudade! (*)

By | 29/03/2015 2:41 am

(José Augusto Longo, no Patos Online)

Eita, mestre Virgílio, já se passaram seis anos de sua partida e nós, que de perto conhecemos o seu valor e o seu caráter, ainda choramos sua viagem para a eternidade.

Às vezes, mestre, fico meio raivoso com você. Fico sem entender por que, ao invés de atender com tanta presteza ao chamamento do Eterno,  não pediu um  tempinho para permanecer entre nós, dando aulas de cidadania e cuidando dos meninos que você cuidava com tanto zelo para que crescessem na imprensa e na política seguindo seus exemplos? Por que você não permaneceu mais um tempinho entre nós, para que também os discípulos mais adultos, com eu, por exemplo, tivessem mais um espaço de tempo para beber da sua sabedoria, amadurecer curtindo sua arte, seu modo de ser, seu modo de derramar talento em tudo que quis fazer? Sim, mestre, quando nos reunimos, nós que o conhecemos de perto, somente falamos da grandeza dos seus gestos; lembramos como você se interessava em ajudar os que estavam começando, apoiando os jovens, dando-lhes lições de sabedoria, entendendo suas falhas e tentando corrigi-las.

Muitos deles, mestre, nesses seis anos continuam empregando como podem seus ensinamentos. Genival e Adilton são dois exemplos do que digo. Outros se perderam nos corredores pegajosos da ganância e se transformaram em porta-vozes da indecência que campeia, infelizmente,  em nossa imprensa, trocando o amanhã da história, pelo hoje que pensam não passar nunca. Ora, mestre, se o tempo passou e foi implacável com você que se manteve sempre imune a todo tipo de assédio em nome da ética e da honra, imagine pra estes pobres diabos que momentaneamente se imaginam os donos da cacada preta.

Sua inesperada partida, mestre, nos deixou meio atordoados, como se achássemos que daquele dia em diante, tudo seria muito mais difícil pra nós que sempre dependemos dos seus conselhos, do seu sempre convincente “vá em frente”! . Gonzaga – talvez o colega e amigo que mais reverencia sua memória – todos os domingos, quando saúda dona Maria José como ouvinte, relembra ter sido você um dos maiores incentivadores da Revista da Semana. E olhe que Gonzaga é um exemplo dos mais importantes em nosso meio! Aí eu me lembro das broncas que recebi de você quando, entusiasmado nas nossas memoráveis transmissões, eu derivava por caminhos que não estavam traçados  no “script”. Fechando momentaneamente o microfone você dizia sério: “Olha, Bigode, deixa as lorotas para mais tarde”. Recordo dos “carões” que me dava quando eu tomava algumas antes das transmissões, bem como do castigo brutal de ter que comer cuscuz com galeto, no Restaurante do Cezar, lá no Serrotão, onde só se vendia guaraná. Um verdadeiro suplício.  Eu me lembro de todas as nossas caminhadas juntos, das tristezas e alegrias que o nosso futebol nos trazia. Você impunha responsabilidade em tudo que fazia, daí a falta que nos fazem os seus exemplos de profissionalismo.

Nesses seis anos de ausência, muita coisa mudou por aqui, mestre, menos, é claro, a saudade pela falta imensa que você nos faz.

Na política brasileira, abriram as comportas dos esgotos antes camuflados dos Poderes da República, e a cada dia surgem novos escândalos, escândalos esses que enlameiam a biografia de gente que, até você partir, era tida e havida como séria, muitas delas citadas por você, à época,  como dignas e éticas em seu eterno e conceituado “Radar”.

Em Patos, também, muita coisa está diferente. Quem hoje manda no pedaço é a sua amiga Francisca, que os marqueteiros batizaram de Chica,  administrando como pode a cidade que você ajudou a crescer e que hoje, francamente, principalmente na política, carece de gente do seu caráter.

As secas são prolongadas, já estamos contabilizando quatro anos, e o grande Coremas, já parece até um Jatobá em fins de ano. Aqui foi construído até um canal que suporta chuva até oitenta  milímetros – não pode passar disso –  o que já é alguma coisa, e uma alça que desafoga o trânsito. O Estado é administrado por Ricardo Coutinho, um mago feio que é viciado em trabalhar e nos rodeou de estradas asfaltadas e até a recantada Mãe D’Água do seu amigo Toinho foi premiada.

Na família, mestre, coisas boas aconteceram, graças a Deus. Ely, que você encaminhou na vida para seguir seus passos, brilha na magistratura paraibana e Roberta que também traz no sangue o DNA da inteligência, é figura destacada no meio acadêmico e se sobressai na sociedade como uma das suas mais prestigiadas damas, ancorada por Genaro, aquela figura que você tão bem conheceu, sempre alegre e prestativo.  Camilinha, que casou com o pombalense Alisson recentemente, ante uma festa maravilhosa, onde só faltou você pra cantar “A noite do meu bem”,  agora é a doutora Camila; Karol, pra não ficar atrás, estuda direito em João Pessoa e promete dar muito trabalho nos fóruns, ao juiz Ely.

Maria José, para manter vivo o seu nome e tradição, continua com  o Escritório, ao lado da competente Daguia, que é família sem ser família, irmã sem ser de sangue.

De resto, poucas mudanças aconteceram pra melhor, dentre estas o crescimento da velha Mascarenhas, com quem você conviveu de aluno a professor por anos e que hoje tem ares de Universidade. Esporte e Nacional, aos quais você dedicou grande parte de sua vida por estas bandas, continuam aos trancos e barrancos, fora da primeira divisão e sem vislumbrarem nenhum horizonte que tranquilize seus torcedores. Falta a eles, além do profissionalismo implantado por você e o incansável Bastinho, uma imprensa que aos moldes dos saudosos Edleuson e Dedé, os impulsionem e os incentivem.

É, mestre Virgílio, o tempo  voa, as coisas por aqui vão ficando mais difíceis e os mais velhos, como eu, têm como lenitivo, além do colo dos familiares e dos poucos amigos que nos restam, apenas as lembranças dos tempos em que vivemos esperançosos de dias melhores, dias estes que foram passando e nos deixando cada vez mais descrentes de que melhoras aconteçam.

Resta-nos, no entanto, apesar da saudade, mestre Virgílio, a esperança do reencontro. Aos trancos e barrancos ainda permanecemos, eu e o velho e bom Nestor, vivendo neste planeta chamado de Terra. Quem sabe, um dia, dirigidos pelo bondoso Padre Assis, ainda possamos formar no além uma equipe que fomente o futebol dos anjos. Com você já estão, Edleuson, Dedé, Aloisio e Vavá. Quando lá chegarmos, Nestor e eu, celebraremos o grande encontro, com uma resenha que durará uma eternidade.

Até lá.

Saudades, mestre, fique com Deus.

José Augusto Longo

(josaugusto09@gmail.com)

Comentário do programaCompartilho da mesma saudade. Espero que guardem um lugar para mim nesta equipe esportiva. Como têm narradores e comentaristas sobrando e não ousaria me enquadrar entre eles, (fui apenas “quebra-galho” como comentarista, enquanto Virgílio e Nestor eram treinadores ou frequentavam outras praias), farei “pista” com o maior prazer, função que exerci nos bons tempos do Campo do Estadual, sob o comando de José Augusto e depois no José Cavalcanti, sob o comando do saudoso amigo Edileuson Franco. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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