(Folha na quarta-feira)
Diante da recusa do ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) em assumir a pasta que cuida da articulação política do governo, a presidente Dilma Rousseff transferiu as funções para o vice-presidente Michel Temer (PMDB).
A novidade, acertada de última hora, foi a solução para, nas palavras de assessores, acabar com a “confusão” criada pela própria presidente ao fazer um convite pessoalmente a Padilha sem ter certeza de que ele aceitaria.
Elogiada publicamente pelos peemedebistas, a escolha de Temer foi questionada reservadamente por colegas de partido. A avaliação é que o vice, hoje, não tem mais poder sobre o partido e terá dificuldades na nova missão
Durante o primeiro mandato e no início deste segundo, o vice foi mantido à distância das principais decisões políticas do governo.
Padilha havia sido convidado na segunda (6) para substituir o ministro petista Pepe Vargas (Relações Institucionais), mas recusou alegando motivos pessoais. Na verdade, ele enfrentou resistências por parte dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Os dois preferiam não ter um peemedebista no comando da articulação política para seguirem atuando com liberdade e autonomia em relação ao governo Dilma.
A mudança, avaliam peemedebistas, leva o partido para dentro da crise política e ainda coloca em risco o mote da independência, principal bandeira da vitoriosa campanha de Cunha na Câmara.
À noite, Cunha disse que o fato de Temer assumir a articulação política “não vai alterar absolutamente nada” a independência da Casa.
Renan e Cunha têm criado dificuldades para Dilma desde o início do ano Legislativo. O primeiro devolveu a medida provisória que desidratava a desoneração da folha de pagamento. Cunha, além de impor diversas derrotas, derrubou o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), em sessão tumultuada na Câmara.
A decisão sobre Temer na articulação política foi anunciada por Dilma aos líderes governistas do Congresso durante reunião no Planalto.
Segundo assessores presidenciais e peemedebistas, a medida foi acertada, mas tomada no “timing” errado.
Na avaliação deles, Dilma deveria ter feito a troca logo após as eleições no Congresso. Agora, Temer terá de apaziguar os ânimos na sua sigla e garantir o ajuste fiscal.
Um peemedebista disse que a pacificação passa pela nomeação de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para um ministério sem afetar o espaço de Renan no governo.
Comentário do programa – Está se confirmando o que um analista dizia aqui em um programa anterior. Já aconteceu “O impeachment silencioso”. Dilma está como a rainha da Inglaterra, reina mas não governa. O governo aos poucos está sendo totalmente entregue ao PMDB. Renan Calheiros e Eduardo Cunha dominam o Congresso, aprovando que bem querem, contra a opinião de Dilma e do PT, Michel Temer passa a sugerir o que o Poder Executivo deve fazer para acalmar os presidentes do Senado e da Câmara. A presidente é completamente refém deste trio. (LGLM)