(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)
Esta quarta-feira marcará o início de uma onda de greves nas universidades federais. As paralisações devem ser longas, e não há solução à vista. O Ministério da Educação, que já estava na penúria, acaba de perder R$ 9,42 bilhões de seu orçamento para 2015.
Na UFRJ, a maior federal do país, alguns campi fecharam nos últimos dias por falta de segurança e higiene. Alunos e professores tiveram que deixar as salas de aula para ajudar na limpeza dos banheiros. É um vexame, especialmente para um governo que prometeu a “pátria educadora”.
Nesse ambiente de justa indignação, o historiador Daniel Aarão Reis Filho decidiu remar contra a corrente. Professor da Universidade Federal Fluminense, ele escreveu um libelo contra a greve nas instituições públicas. É um texto polêmico, que merece ser lido fora do meio acadêmico.
Intelectual respeitado na esquerda e ex-integrante da luta armada contra a ditadura, Aarão Reis sustenta uma tese difícil de ser contestada: quando a universidade para, os maiores prejudicados são os alunos. Ele ataca o ajuste fiscal, mas condena a suspensão das aulas. Diz que há formas mais eficazes de pressionar o governo e sensibilizar a sociedade.
O professor define a greve nos serviços públicos como “uma infeliz mimetização dos movimentos operários”. “Em vez de prejudicar os patrões, prejudica apenas e tão somente os usuários dos serviços”, afirma. É possível transpor a frase para outras áreas, como saúde e transporte.
Aarão Reis cita um problema adicional. Apesar da crise, os professores devem continuar a receber em dia, “estejam ou não trabalhando”. “Se os trabalhadores do mundo soubessem que é possível fazer greve ganhando salários… Ai do capitalismo, não haveria um que não paralisasse imediatamente o trabalho”, ironiza.
Comentário do programa – Concordamos com gênero, número e grau. Somos contra greve no serviço público e já dissemos isso aqui muitas vezes. Em nunca fizemos greve em vinte anos de serviço público. (LGLM)