Todo artista precisar fazer turnês para levar suas músicas aos fãs. Por mais que eles tomem diversos cuidados antes de cair na estrada, o risco de que algum acidente aconteça nas viagens entre uma cidade e outra nunca é zero. O acidente de carro que matou o cantor Cristiano Araújo e sua namorada Allana, na última quarta-feira (24), é o exemplo mais recente disso.
Há diversos fatores que contribuem para aumentar o risco de uma tragédia. Entre eles, pode-se citar agenda de shows apertada, grandes distâncias que os músicos devem percorrer em pouco tempo e o cansaço de sua equipe, além do hábito de não usar cinto de segurança no banco traseiro. Para saber mais sobre as dificuldades enfrentadas durante as turnês, o UOL conversou com alguns músicos acostumados à vida na estrada.
Muitos deles revelaram que, assim como Cristiano Araújo, não tinham o costume de usar o cinto de segurança no banco traseiro. É o caso do cantor sertanejo Bruno Araújo. “Muitas vezes deixei de usar o cinto no ônibus, na van ou no carro. Notícias como essa nos fazem refletir”, contou.
O cantor Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Roque Clube, por sua vez, comentou em seu perfil nas redes sociais a importância do cinto de segurança. “Sabemos o quão arriscado é esse trabalho e o quanto nos dedicamos para chegar até onde o povo está. É importante usar o cinto de segurança. Mesmo quando estamos no banco de trás, hábito que confesso não ter e que adotarei daqui para frente”, revelou.
Em entrevista ao UOL durante o velório de Cristiano Araújo, Mariano, da dupla Munhoz & Mariano, disse que também não usava o cinto de segurança no banco de trás. “Não uso cinto de segurança no banco traseiro. Ontem [terça-feira], não sei se por uma mensagem de Cristo, puxei o cinto”, contou o sertanejo, que havia acabado de fazer um show em Santa Fé do Sul (interior de São Paulo. “Então, fica a lição. Às vezes, a gente tem que apanhar para aprender.”
Saimon, vocalista do Grupo do Bola, contou que, após a exposição que a banda teve no programa “SuperStar” no ano passado, o ritmo de shows ficou puxado. “Fazíamos shows todos os dias”, disse. Em dezembro de 2014, a van onde o grupo estava capotou quatro vezes, deixando gravemente ferido Felipe Freitas, trompetista da banda. “Ele quebrou os ossos da face e só voltou a tocar conosco há três semanas”, contou o vocalista. Segundo Saimon, o colega teve que fazer uma cirurgia para reconstruir o lado esquerdo do rosto. O acidente ocorreu de madrugada em Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, durante uma tempestade. “Às vezes ficamos semanas fora de casa, e a saudade aperta. Por mais que a gente queira voltar mais rápido, o melhor é não se descuidar.”
Acostumado com uma rotina de muitos shows, o cantor Giovani –que fazia parte da dupla Gian & Giovani— lembra que o sucesso o fez conhecer quase todo o Brasil e a se acostumar a viver nas estradas. “Há algum tempo, eu tento dormir na cidade após o show”, disse. “Quando estou de carro, tenho o hábito de eu mesmo dirigir. Temo muito pela minha vida e dos passageiros que estão comigo. Um carro leva vidas em seu interior e é realmente uma arma letal.”
Já Marcão, ex-guitarrista do Charlie Brown Jr. e atual vocalista da banda Bula, diz conhecer bem a correria das turnês. “A estrada é sempre preocupante porque é onde você se expõe a qualquer tipo de eventualidade. O condutor deve sempre ser poupado para poder descansar o máximo possível entre uma apresentação e outra”, explicou.
Para o cantor e compositor Michael Sullivan, um bom jeito de prevenir acidentes é optar por viajar de dia durante as turnês. “A principal medida é evitar a viagem à noite. Prefiro até não fazer um show”, disse.
O rapper paulistano Rashid fala da importância de o motorista não estar cansado. “Estrada é sempre preocupante. Sempre vamos com o mesmo motorista, que se tornou praticamente um membro da equipe. Sabemos que é um cara que não hesitaria em parar se estivesse com sono.”
Digão, vocalista e guitarrista do Raimundos, por sua vez, é grato pelo fato de a banda nunca ter sofrido um acidente em suas viagens pelo país. “São 21 anos de estrada. Graças a Deus, sem nenhum incidente grave.”