Greve no serviço público só prejudica população pobre.

By | 11/04/2016 7:30 am

 

(Publicado no Patos Online)

A greve é um recurso legítimo do trabalhador, na defesa dos seus direitos. É uma forma de obrigar o patrão, pelo menos, a abrir um debate com os trabalhadores sobre as suas reivindicações. No debate o trabalhador pode convencer o patrão de que as suas reivindicações são justas e contestar os motivos alegados para o patrão para não atender as pretensões trabalhistas. Desse debate sairá uma decisão. Ou patrão atende as reivindicações dos trabalhadores ou os convence de que só pode atendê-los parcialmente ou que não pode atendê-los de jeito nenhum. No caso de impasse resta recorrer à Justiça que dará a sua palavra final, atendendo os trabalhadores, atendendo os patrões ou levando os dois lados a um acordo.

O prejuízo causado pela paralização dos trabalhadores, provoca prejuízo para o patrão, de maneira que ele tem um limite de resistência, limitado à capacidade de resistir ao prejuízo que está sofrendo. Isto acontece geralmente nas greves feitas na iniciativa privada ou em empresas públicas que dependem de lucros, como Correios e bancos oficiais.

A greve no serviço público, entretanto, tem consequências diferentes. Nelas, o presidente, o governador ou o prefeito, não sofrem prejuízo nenhum. Até economizam água, energia e vale transporte. O grande prejudicado na greve do serviço público é a população mais carente. Uma greve numa prefeitura, por exemplo, vai paralisar as escolas, os postos médicos, os restaurantes populares, as repartições que prestam algum tipo de assistência às pessoas que não podem pagar por aquele serviço.

Por isso, entendemos que o movimento sindical tem que repensar as mobilizações que podem fazer para conseguir o atendimento de suas reivindicações. Os sindicatos alegam que, durante a greve, trinta por cento dos servidores continuam trabalhando. Mas um serviço que já funciona precariamente com cem por cento dos servidores, como é o caso da área de saúde, como vai funcionar condignamente com apenas trinta por cento da mão-de-obra?

Uma sugestão que temos dado é a divisão dos servidores em dois grupos. Um grupo de dez por cento deles se dedicaria a fazer manifestações para chamar a atenção da população e denunciar a falta de atenção dos administradores. Os outros noventa por cento continuariam trabalhando, tentando suprir a falta dos companheiros que estão nas ruas lutando pelos interesses comuns.

Você já pensou, por exemplo, em Patos, trezentos servidores, o dia todo, na frente da prefeitura fazendo barulho e ocupando todas as portas de acesso?

Ao mesmo tempo que chamavam a atenção da população, estariam importunando os administradores, que talvez nem tivessem coragem de aparecer no local com medo de vaias e xingamentos. Afinal, nas greves talvez nem este número fica mobilizado na defesa dos seus interesses, enquanto os restantes, descontados aqueles trinta por cento que a lei obriga a ficar trabalhando, ficam em casa ou na rua sem fazer nada. Enquanto a população, na parte mais pobre já que rico está se lixando para escolas e postos médicos do município, paga o preço. Continua com o serviço público muito pior, se é que é possível.

Tem gente querendo faturar eleitoralmente com as greves no serviço público. Muitos dos que fazem e estimulam as greves são candidatos nas próximas eleições. Esquecem que é o povo mal atendido de hoje que eles vão procurar amanhã para pedir votos. Mas talvez se confiem na memória fraca do eleitor.  Ao eleitor resta prestar a atenção em quem está à frente ou está apoiando as greves e cobrar o preço no dia da eleição. O servidor luta por seus direitos, os metidos a políticos lutam por seus interesses, pelos votos que podem conseguir entre os trabalhadores, esquecendo que os que precisam da escola, do posto de saúde e outros equipamentos públicos são vinte mil vezes mais numerosos do que os servidores públicos de quem estes políticos procuram se servir ao estimular uma greve.

Participei de muitas greves nos vinte e seis anos em que fui bancário, porque o patrão, Banco do Brasil, tinha prejuízo nos dias parados. Nunca fiz greve em vinte anos de serviço público por que meu patrão era o povo brasileiro, o mais prejudicado com a greve do serviço público. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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