Depois que entrei no Banco do Brasil, tive uma outra experiência como professor. Em setembro de 1967, fui procurado na agência de Piancó por Dr. Newton Soares de Oliveira, que era promotor público e dirigia o Colégio Dom Mata, na cidade de Coremas. Ele estava precisando de um professor de Português, já que o Dr. Hugo, o professor anterior, havia apoiado uma greve dos alunos do colégio e a direção o havia dispensado. Em Patos, Dr. Newton entrou em contato com o Dr. Manoel Messias, diretor do Colégio Estadual, pedindo-lhe uma indicação de um professor de Português. Dr. Messias disse-lhe que dificilmente um professor ia querer se deslocar de Patos para dar aula em Coremas, mas informou-lhe que um antigo professor do Estadual estava trabalhando no Banco do Brasil de Piancó e talvez “topasse” dar aulas em Coremas, muito mais próximo do que Patos. Aceitei o convite e me dispus a dar aulas na Escola, onde já davam aulas meus colegas de Banco, Wisses Pinheiro Bezerra e José Santana Pereira. Passei a viajar todo final de tarde, depois do expediente, para dar aulas em Coremas. Eram trinta e seis quilômetros de estrada de terra, setenta e dois para ir e voltar, percorridos em um jipe. A fadiga era tão grande que, no retorno, eu conseguia dormir sentado no banco traseiro do jipe. Ensinei no Dom Mata até agosto de 1970, quando fui transferido para a agência do Banco do Brasil em Patos. Coremas é uma terra de mulheres bonitas e tive algumas “paqueras” entre as alunas do Colégio. Apesar de não ser dos mais bonitos, afinal bancário era um partido muito disputado. Uma destas “paqueras” era uma aluna minha, a quem meu colega Wisses apelidou de “Menina da Fila”. Dera-lhe, entre nós, este apelido por que eu a surpreendera, durante uma prova minha, tentando “filar”. As anotações tinham sido feitas pouco acima do joelho, fazendo com que mostrasse, ao tentar ler a “fila”, o começo de umas belíssimas coxas. O quase namoro veio depois disso e por pouco não desisti da noiva que tinha em Piancó. Em Coremas fiz muitos amigos que o tempo foi afastando, restando alguns poucos deles que depois se radicaram em Patos, inclusive a “Menina da Fila”, hoje muito bem casada e “avó de netos”. Ex-alunos meus em Coremas, ostentam seus diplomas por este Brasil afora.
Depois que voltei para Patos, transferido de Piancó para a agência do Banco do Brasil de Patos, tive oportunidade de voltar a ensinar, em 1972. Ribamar de Brito, colega meu no Banco, era também professor de Português e ensinava numa espécie de filial do Estadual que funcionava no novo prédio da Escola Rio Branco, na rua Floriano Peixoto. Era “o Califórnia”, que depois se transferiu para o bairro do Salgadinho, com a criação da Escola Capitão Manoel Gomes. O grande zagueiro do Nacional foi convocado pela gerência do Banco para uma espécie de “tarefa”, através da qual iria refazer os balancetes diários da agência, referentes a vários anos. Isto lhe ocuparia o dia todo, impedindo-o de dar aulas. Então fez uma proposta para que eu desse as aulas em lugar dele, que ao final do mês me repassaria o que recebesse do Estado como professor. Informado da ideia, Dr. Messias, que então era diretor do Estadual, disse que “não dava certo” e conseguiu um contrato para que eu passasse a substituir oficialmente a Ribamar. O Estado me contratou e eu fui ensinar no Califórnia a turmas de terceiro ano ginasial. Dei aulas de 1972 até 1974, quando fui transferido pelo Banco para trabalhar no Centro de Processamento de Dados em Recife. Do Califórnia também saíram vários futuros doutores.
O Colégio Diocesano e o Colégio Estadual de Patos, junto com o Banco do Brasil, foram para mim escolas tão importantes quanto a Universidade Católica de Pernambuco, onde cursei Jornalismo, e a Faculdade de Direito do Recife, pertencente à UFPE, onde conclui o curso de Direito. A base me fora dada pelo Seminário Nossa Senhora da Assunção de Cajazeiras, onde me viciei na leitura. Vício que até hoje ocupa as minhas eventuais horas vagas. Terminei a minha formação básica no Diocesano e no Estadual, como aluno e como professor. Os cursos profissionais, Jornalismo e Direito, me foram fornecidos no vizinho Estado de Pernambuco, nos dois períodos em que trabalhei em Recife. A eles (Seminário, Diocesano, Estadual, Banco do Brasil com os cursos de formação que me proporcionou e os cursos de Jornalismo e de Direito) devo tudo o que consegui na vida. O Seminário a base intelectual, Diocesano e Estadual além da formação intelectual a facilidade de falar em público (nisso ajudados pelas transmissões de eventos da Rádio Espinharas, outra grande escola), Banco do Brasil os conhecimentos bancários e de administração, as faculdades os conhecimentos profissionais que tenho utilizado na minha última função como Auditor Fiscal do Trabalho.
Meus ex-alunos se espalharam pelo mundo, mas “aqui e acolá”, alguém me saúda no Facebook, dizendo ter sido meu aluno e agradecendo “pelo que aprendeu comigo”, nas aulas de Português. Na realidade, eu é que aprendi com eles. Pois, para “ter firmeza” nas aulas que dava, tinha que estar sempre bem preparado e isto me ajudou até hoje. Nos vários concursos de que participei, sempre me dei bem em Português, graças aos meus tempos de professor da matéria. No concurso que me deu acesso ao Ministério do Trabalho, fiquei numa colocação tão boa que me surpreendi. Terceiro lugar, no meio de vinte e tantos jovens, recém-saídos da escola, todos já formados e todos frequentadores de cursinhos preparatórios para concursos. No meio deles, três ou quatro “coroas” da minha idade. Quando fui verificar o gabarito com o resultado do concurso, descobri que “fechara” a prova de Português o que garantira minha boa colocação. O primeiro lugar daquele concurso hoje é procurador da Fazenda Nacional e dirigente máximo da Igreja Cidade Viva. O segundo lugar, um cunhado do primeiro, é Juiz do Trabalho na Paraíba. Ambos depois de terem sido auditores fiscais do Trabalho. Eu, aposentado pela segunda vez, tento escrever minhas memórias, enquanto “faço alguns bicos” para não “ficar parado”. Afinal, a sensação de inutilidade é o pior inimigo do idoso. (LGLM)