Golpe ou fracasso?

By | 14/08/2016 12:20 am

 

Até compreendo a insistência do PT em qualificar como golpeimpeachment de Dilma Rousseff. A alternativa a esse discurso, por mais deslocado da realidade que seja, seria admitir que o partido fracassou em sua tentativa de governar o país. Dilma, afinal, recebeu de seu antecessor o que ela mesma definiu como uma herança bendita e entregou a pior recessão da história do Brasil.

A versão petista de que fomos vítimas da crise internacional não resiste a uma comparação com o desempenho de outros países emergentes. As dificuldades econômicas, contudo, teriam sido em princípio contornáveis, se a presidente tivesse sido capaz de convencer seu partido e a coalizão que ela liderava da necessidade de reformas. Dilma, porém, não só não conseguiu fazê-lo (tentou timidamente com Joaquim Levy) como ainda realizou a proeza de colocar mais de 2/3 do Legislativo contra si.

Registre-se que não estamos falando de parlamentares que sempre foram hostis ao PT e jamais lhe deram uma chance de governar. Ao contrário, mais da metade dos deputados e agora senadores que votam pelo impeachment compuseram a base de sustentação do governo.

Evidentemente, um presidente que conte com a oposição ativa de 2/3 do Parlamento não tem muitas condições políticas para exercer o cargo. O bom e velho PT, pelo qual em outros tempos eu cheguei a nutrir simpatias, não tinha nenhum problema em reconhecer que o impeachment é um processo essencialmente político e que como tal deve ser usado. Ao qualificá-lo agora como golpe, o partido não chega a resolver seu presente e trai seu passado.

Para o futuro, que é o que importa, o PT deveria em algum momento fazer o que a esquerda antigamente chamava de autocrítica e reconhecer os muitos erros do governo Dilma, substituindo a fraca narrativa do golpe por uma visão econômica um pouco mais consistente.

(Hélio Schwartsman, colunista da Folha)

Comentário do programaAntes de Dilma, no passado mais recente, houve tentativa de impeachment contra Getúlio Vargas, Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O de Getúlio foi rejeitado pelo Congresso. Collor renunciou antes de ser julgado. O PT tentou várias vezes contra FHC mas não obteve sucesso, assim como não obteve sucesso a tentativa dos adversários contra Lula, que não chegaram a ser votadas. O de Dilma pode ser o primeiro caso de sucesso. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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