Notas do Instituto Lula trituram imagem de Lula

By | 25/12/2016 7:16 am

 

(do blog de Josias de Sousa, no UOL Online)

Lula é ao mesmo tempo um ex-heroi e uma vítima da ética de mostruário que cultivou antes de chegar ao poder. O seu sucesso político é um trunfo do ideal da perseverança do brasileiro humilde que veio ao mundo para servir de exemplo. Sua desgraça é o surgimento de uma interrogação: exemplo de quê? Imaginando-se dono um destino de glórias, Lula tornou-se uma melancólica fatalidade. E as notas oficiais do Instituto Lula, a pretexto de rebater ataques à imagem do líder imaculado, contribui para a dessacralização do personagem, expondo-lhe os pés de barro.

A penúltima evidência de que o todo-poderoso do PT também está sujeito à condição humana foi a autuação da Receita Federal ao Instituto Lula por “desvio de finalidade”. Isenta de impostos, a entidade efetuou despesas fora dos padrões. Por exemplo: repassou R$ 1,3 milhão para uma empresa chamada G4 Entretenimento. Pertence a Fábio Luís, filho de Lula. E tem como sócio Fernando Bittar, dono do sítio que Lula utiliza como se fosse dele. Para o fisco, não houve prestação de serviço, mas transferência de recursos para Lula ou parentes. Cobraram-se os tributos devidos.

Em nota, o Instituto Lula disse que entregou ao fisco o papelório que comprovaria que a G4 prestou serviços “em diferentes projetos”. O texto dá de barato que todos os contribuintes brasileiros devem considerar natural que o Estado dê isenção tributária para que o instituto de Lula contrate a empresa que seu primogênito mantém em sociedade com o dono do sítio que a OAS e a Odebrecht reformaram para o usufruto da divindade. Ai, ai, ai.

O que mais assusta nas notas do Instituto Lula é sua banalidade. A desfaçatez, o malabarismo retórico para esconder o fiasco do ex-mocinho, nada disso surpreende a plateia, já habituada ao cinismo associado aos motivos dos poderosos. O que espanta é o desprezo à castidade presumida da “alma mais honesta” que o Brasil já conheceu.

Como se sabe, o mensalão não justificou o impeachment. Naquele escândalo, Lula escapou pela tangente do “eu não sabia”. Mas o acúmulo de reincidências —do petrolão aos confortos bancados por terceiros— é um atentado contra a paciência alheia. O problema não é a idiotice das notas do Instituto Lula. O que incomoda é a tentativa permanente de fazer a plateia de idiota.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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