Centrais se unem contra a reforma da Previdência

By | 29/01/2017 5:15 pm

 

Correio Braziliense

Embora os parlamentares ainda estejam em recesso, o movimento sindical continua na ativa e já tem uma agenda conjunta para derrubar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 287, que trata da reforma da Previdência. Mobilizações, seminários e atos públicos estão marcados para fevereiro e março. Embora todas as centrais concordem que, do jeito que está, a reforma é inaceitável, há divergências sobre a estratégia de luta. Enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se nega a negociar os termos da PEC, por considerar que ela já nasceu errada, outras entidades, como a Força Sindical, cogitam sugerir emendas ao Legislativo.

Para a economista Patrícia Pelatieri, coordenadora de Pesquisas e Tecnologias do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a proposta do governo é “tão cheia de problemas” que seria melhor derrubá-la e começar uma nova negociação antes de encaminhar algo para o Legislativo. Sem a menor intenção de negociar com o governo, a CUT concorda com essa visão e se posiciona “contra a reforma como um todo”. Segundo o secretário de Finanças da central, Quintino Severo, não há nenhum ponto favorável na PEC, o que significa que apresentar uma contraproposta seria “discutir em cima de nada”.

Já a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) não descarta a possibilidade de propor emendas ao Congresso. “Realmente, não tem mais como negociar com o governo. O jeito é debater com os deputados”, afirmou o secretário da Previdência, Aposentados e Pensionistas da CTB, Pascoal Carneiro. Segundo Patrícia, do Dieese, as centrais, em geral, admitem a necessidade de aprimorar as regras previdenciárias, o problema é como isso tem sido proposto. “Ninguém nega que tem ocorrido uma mudança demográfica, mas deve haver um processo longo e tranquilo de discussão para desenhar a melhor maneira de lidar com isso”, disse a economista.

“A questão da longevidade é inegável”, concordou o presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah. Mas, para ele, as mudanças deveriam atingir somente quem entrasse no mercado de trabalho a partir de agora – sugestão que, na visão do secretário de Previdência Social do governo, Marcelo Caetano, é inviável. “Se fosse feito dessa forma, os efeitos só seriam sentidos daqui a 30 anos, e a reforma é urgente”, argumentou.

A expectativa de Caetano é de que a PEC seja aprovada até o terceiro trimestre deste ano, mas as centrais prometem atrasar o andamento da proposta. “A perspectiva do movimento sindical é de empurrar, atrapalhar, pelo menos este ano todo”, afirmou Patrícia. Ela lembra que, como no ano que vem haverá eleições, a disputa não vai ser fácil, apesar de o governo contar com base forte no Congresso. “O resultado dependerá da capacidade do movimento sindical de dialogar com a sociedade.”

Agenda

As centrais definiram uma agenda de lutas para as próximas semanas. Em 7 e 8 de fevereiro, todas elas participarão de uma reunião para debater pontos da proposta, “a fim de termos uma postura mais consensual”, explicou Patah, da UGT. Entre 20 e 22 de fevereiro, integrantes da central liderada por ele acamparão em Brasília. “Vamos de gabinete em gabinete sensibilizar os parlamentares”, disse.

O calendário conjunto prevê um ato no Congresso Nacional, em 22 de fevereiro, contra a reforma, e, para a segunda quinzena de março, uma manifestação nacional. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, não descarta que, durante o período de reuniões, seja elaborado um documento conjunto das centrais, com a assessoria dos técnicos do Dieese. Idade mínima de 65 anos, elevação do tempo de contribuição de 15 para 25 anos e regra de transição estão entre as principais queixas dos sindicalistas.

Rombo chega a R$ 151,9 bi

O deficit nas contas da Previdência dos trabalhadores da iniciativa privada atingiu R$ 151,9 bilhões em 2016, maior valor real (corrigido pela inflação) da série histórica, iniciada em 1995, segundo o Ministério da Fazenda. O montante corresponde a 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 1,5% em 2015, disse o secretário de Previdência Social, Marcelo Caetano.

Em termos nominais, o rombo foi de R$ 149,7 bilhões, alta de 74,5% em relação ao ano anterior, quando as contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ficaram deficitárias em R$ 85,6 bilhões. O resultado leva em conta a Previdência urbana e a rural, sendo que a segunda responde por cerca de dois terços do rombo (R$ 105 bilhões, em termos reais). No meio urbano, o deficit foi de R$ 46,8 bilhões, primeiro resultado negativo desde 2008.

“O meio urbano sofre mais com a queda da massa salarial e o desemprego. Muita gente considera que a Previdência urbana é superavitária, mas, na verdade, ela só teve resultado positivo entre 2009 e 2015 por conta do bom momento no mercado de trabalho. O natural é ser deficitária”, explicou Pedro Nery, consultor legislativo e especialista em Previdência.

Segundo Marcelo Caetano, a tendência é de que o rombo continue aumentando devido ao envelhecimento da população, além das questões conjunturais. “Se há um momento de baixa geração de empregos, o deficit tende a crescer”, observou. A expectativa é que saldo negativo chegue a R$ 181,2 bilhões em 2017.

Mesmo se fossem excluídas as renúncias previdenciárias, que somaram R$ 43,4 bilhões, ainda haveria deficit de R$ 106,3 bilhões. Nessa lista, entram entidades filantrópicas, microempreendedores individuais e Simples Nacional, entre outros. A Desvinculação das Receitas da União (DRU) não incide nos cálculos da Previdência Social. (AA)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

One thought on “Centrais se unem contra a reforma da Previdência

  1. Ataimar Nóbrega LucenaAtaimar Nóbrega Lucena

    Centrais Sindicais – Essas centrais deveriam unir-se e lutar para que as aposentadorias do FUNRURAL fossem pagos com recursos do Tesouro Nacional, e não com recursos do INSS. Do déficit previdenciário apresentado pelo Governo Temer, 2/3(dois terços) correspondem as aposentadorias do FUNRURAL. Lembramos que, os detentores desse benefícios não contribuem com nada para o INSS. Além dessa ação, também as Centrais Sindicais deveriam exigir do GOVERNO FEDERAL um PENTE-FINO nessas aposentadorias, pois tem muitos comerciantes que têm um pé no comércio e outro no campo, e recebem essas APOSENTADORIAS irregularmente.

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