(Correio Braziliense)
O Banco Central (BC) determinou ontem que, a partir de 3 de abril, os bancos deverão ofertar linhas de crédito mais baratas para o parcelamento do cartão de crédito. A novidade é o prazo, já que o anúncio foi feito pelo governo no fim do ano passado, como uma medida para tentar forçar a rede bancária a reduzir os astronômicos juros do cartão de crédito. Em dezembro de 2016, a linha rotativa chegou a 484,6% ao ano, alta de 53,2 pontos percentuais em relação ao mesmo mês de 2015.
De acordo com a medida aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, se o dono do cartão não conseguir pagar o total da fatura no vencimento, os bancos só poderão cobrar os juros do rotativo por mais 30 dias. A partir daí, terão que ofertar uma linha de crédito para parcelar o saldo devedor restante.
Não há garantia de que será uma taxa de juros menor. Mas o diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso, acredita que isso ocorrerá, porque a mudança vai reduzir o risco de calote do dono do cartão. Hoje, a inadimplência no rotativo chega a 37% entre as pessoas físicas e a 59% entre as empresas, segundo a autoridade monetária. “A expectativa que a gente tem é que as instituições financeiras vão oferecer o crédito parcelado e que haverá uma redução” dos juros, afirmou Damaso.
O professor Gastão Caixeta, 52 anos, teve problemas com o pagamento mínimo do cartão de crédito. O gasto do mês veio acima do que o rendimento familiar permitia. “Tive de pagar só o quanto eu podia, de maneira a não prejudicar o orçamento. Nos meses seguintes, tive de cortar comida fora de casa, cinema dos meninos. O lazer, em geral, ficou prejudicado, até eu dar conta de pagar a dívida”, diz.
O diretor do BC explica que, hoje, o rotativo sai caro também para os bancos, que por causa dos atrasos são obrigados a fazer provisão (apartar) do equivalente a 50% do saldo. No fim do ano passado, o saldo do rotativo nas administradoras de cartão de crédito somava R$ 37 bilhões.
Damaso aposta ainda que os bancos vão reduzir o custo para o cliente, em função do prazo determinado para o pagamento. Na verdade, a maioria das administradoras já oferecem a possibilidade de parcelamento. “Uma vez que o usuário do cartão entra no rotativo, a instituição não sabe, exatamente, quando vai ele pagar. Agora, a previsibilidade para o pagamento pode levar as instituições financeiras a cortar os juros.”
Ainda ontem, o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, anunciou o apoio e a adoção da medida, além de uma redução de 4 pontos percentuais na taxa do rotativo. “O diálogo entre o sistema financeiro e o governo federal é o caminho mais adequado para estimular o crescimento do crédito no país, com responsabilidade”, afirmou.
Também o diretor da área de cartões do Itau Unibanco, Marcos Magalhães, afirmou que a medida é benéfica para o setor financeiro e para a economia, “pois dinamiza o crédito e contribui para a diminuição da inadimplência. O banco entende que o modelo de rotativo tradicional do cartão é uma opção para ser utilizada apenas em situações emergenciais e por tempo limitado”, continuou.