Foi inaugurado pelo presidente Michel Temer o Eixo Leste da transposição das águas do Rio São Francisco, nesta sexta-feira (10), em Monteiro, na Paraíba. Na solenidade, o presidente liberou a passagem da água pelas comportas do canal da transposição e, em tom de brincadeira, afirmou esperar “uma ou outra enchentezinha” até o fim do governo dele.
A prefeita de Monteiro, Lorena de Dr. Chico, fez um discurso emocionante, destacando a importância das águas não só para o município de Monteiro, mas para toda a região. Ela falou sobre o progresso que a obra trará para Monteiro, e disse que a obra é um sonho realizado. Lorena chegou a ficar emocionada, quando disse que o nome Chico, do termo ‘Velho Chico’, representa muito para ela, em uma referência ao seu falecido pai. Vários outros prefeitos da região marcaram presença.
“Agora, com a transposição e com a complementação da transposição, que serão completadas, eu espero, governador Ricardo Coutinho, que ao final deste mais um ano e oito meses de governo, eu possa vir aqui e dizer, como o senhor salientou, que toda a Paraíba está irrigada, está inundada de água, quem sabe até uma ou outra enchentezinha”, destacou o presidente.
A água, que chegou ao solo paraibano na noite de quarta-feira (8), começa a encher o reservatório de Poções, no mesmo município, e segue por outros reservatórios e rios. No discurso, o Temer destacou que a obra “passou por vários governos, vários governos que merecem o aplauso de todos”, citando ainda que “trarão vida a regiões historicamente castigadas pelo flagelo da seca”.
Temer já havia, mais cedo, rejeitado a “paternidade” da transposição. Em Monteiro, ele citou que a obra passou por vários governos, “que merecem o aplauso de todos” e se disse emocionado. “O que importa agora é comemorar aquela enxurrada. Nós fomos acionar o instrumento para poder soltar as águas para cá, e nós todos nos impressionamos, porque não era uma vertente de água, era uma enxurrada de água. Foi uma coisa emocionante. Eu vi alguns até lacrimejando quando viram essa enxurrada de água”.
Mais cedo, em passagem por Campina Grande, Michel Temer ainda afirmou que não queria ser “pai” da transposição. “Eu não quero a paternidade desta obra. Ninguém pode tê-la. A paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino. Vocês é que pagaram impostos ao longo do tempo, vocês é que permitiram que pudéssemos fazer grandes investimentos nessa obra, que cada vez mais está sendo festejada”, afirmou Temer.
Para o presidente, o governo fez “muitos esforços” nos últimos meses para viabilizar a inauguração do primeiro eixo da obra. Ele afirmou ainda que a transposição é do “maior interesse” e da “maior relevância” para o “povo de vários estados do Nordeste”.
Após a liberação, a água vai levar entre três e cinco dias para chegar no açude Poções e mais um dia para conseguir atingir a capacidade máxima do reservatório, passar pelo sangradouro e seguir com destino a Camalaú pelo Rio Paraíba.
Estudada desde a época do império no Brasil, a obra foi iniciada em 2007 no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com previsão de conclusão para 2012. A água do ‘Velho Chico” chega à Paraíba no momento da maior crise hídrica da história do estado, que já dura cinco anos. Por causa da falta de chuvas significantes, a maior parte das cidades do Sertão, Cariri e Agreste estão enfrentando racionamento no abastecimento de água encanada e algumas são abastecidas por carros-pipa.
No evento realizado em Monteiro, discursaram a prefeita de Monteiro, Anna Lorena Leite, o senador Cássio Cunha Lima, o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho e o Governador da Paraíba, Ricardo Coutinho.
Depois de chegar em Monteiro, a água agora vai seguir pelo Rio Paraíba e passando pelos açudes de Poções, Camalaú, Epitácio Pessoa, conhecido como Boqueirão, depois segue para Acauã, Aracagi, chegando até um perímetro irrigado que está sendo criando na cidade de Sapé.
Para facilitar a passagem da água, os açudes de Poções e Camalaú estão passando por obras para abrir espaço nas barragens. Assim, não será necessário aguardar que estes açudes encham para que a água siga seu caminho natural.
A viagem da água que leva esperança para os paraibanos do Cariri e Agreste começa na cidade pernambucana de Petrolândia, a 429 quilômetros de Recife. A água é captada na barragem de Itaparica e segue por 208 quilômetros até a cidade de Monteiro, no Cariri paraibano.
Na viagem entre Petrolândia e Monteiro, a água passa por seis estações elevatórias de água, cinco aquedutos, 23 segmentos de canais e ainda 12 reservatórios. A intenção da criação dos reservatórios é beneficiar as comunidades onde foram construídos e também garantir que a água não pare de correr pelos canais, caso seja necessário fazer algum reparo no trecho.
Os 12 reservatórios são: Areais, Baraúnas (o maior deles, com capacidade para mais de 14 milhões de metros cúbicos de água), Mandantes, Salgueiro (5,2 milhões de m³), Muquem, Cacimba Nova, Bagres, Copití, Moxotó, Barreiro, Campos (o segundo maior com 8 milhões de m³) e Barro Branco.
(Cariri Ligado)
(+) Comentário do programa – A obra é a mais importante que o Nordeste recebeu em toda a sua história. Não adianta discutir quem foi o pai ou a mãe da obra. A obra é do povo que a reivindicou e lutou por ela. E foi paga com o dinheiro dele. Resta agora aos governos fiscalizarem os canais da transposição para que a ganância de uns poucos não desviem a água que servirá para todos. O canal a céu aberto é “um chama” para os “ladrões dágua”. (LGLM)