Funaro acusa Temer de receber R$ 2 milhões de frigorífico

By | 05/11/2017 12:52 am

 

(Na revista Época desta semana)

 

Com um terno escuro, camisa branca e gravata roxa, indumentária bem diferente do uniforme branco de detento que veste há 16 meses, o operador Lúcio Funaro chegou pouco antes das 9 horas à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Nem a presença à mesa de seu parceiro de negócios ilícitos por mais de dez anos, o ex-deputado Eduardo Cunha, do PMDB, com quem não anda muito bem, inibiu as declarações de Funaro ao juiz Vallisney de Oliveira. Entre um gole e outro de café, ele acrescentou novos detalhes às acusações de pagamento de propina ao PMDB da Câmara e ao presidente Michel Temer, que vem fazendo desde que se tornou um colaborador da Operação Lava Jato.

 

Na terça-feira (31), Funaro acusou Temer de ter se beneficiado de uma propina de R$ 2 milhões paga pelo grupo Bertin. Disse que a história começou quando foi procurado por Natalino Bertin para ajudar na obtenção de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS, subordinado à Caixa, a uma empresa do grupo. Funaro diz que acionou seu chefe, Eduardo Cunha, e este arranjou um encontro de Natalino com um vice-presidente da Caixa na ocasião, o hoje ministro Moreira Franco.

 

Segundo Funaro, diante de Natalino, Moreira telefonou ao então gerente nacional de fundos especiais da Caixa, Roberto Madoglio, e se queixou da demora na liberação do dinheiro. “Aí o projeto seguiu, foi financiado”, disse Funaro. O Bertin levou R$ 280 milhões. A fatura foi cobrada por Funaro na campanha eleitoral de 2010. “Eu chamei o Natalino Bertin e falei: ‘Ó, vocês vão ter de ajudar o PMDB’. Ele já era muito ligado ao PT. ‘Queria que nós fizéssemos um almoço para definir valores, eu, você, o Eduardo Cunha.’ Cunha perguntou se podia levar o Cândido Vaccarezza, que era o líder do PT na época”, disse o operador.

 

Na ocasião, além de ser fiador das nomeações do PMDB na Caixa, Temer era candidato a vice-presidente na chapa com a petista Dilma Rousseff. “Quando foi para definir como é que seria a divisão do montante que o Natalino disponibilizou, se não me engano o deputado Eduardo Cunha ficou com R$ 1 milhão; R$ 2 milhões, R$ 2,5 milhões foram destinados ao presidente Michel Temer; e um valor, acho que R$ 1 milhão, R$ 1,5 milhão foram destinados a Cândido Vaccarezza”, disse Funaro. No caso de Temer, Funaro afirma que os recursos foram repassados em doações oficiais do Bertin.

Em nota, a assessoria de imprensa do Planalto nega que a doação seja propina. “O presidente Michel Temer contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça. Em 2010, o PMDB recebeu R$ 1,5 milhão em três parcelas de R$ 500 mil como doação oficial à campanha, declarados na prestação de contas do Diretório Nacional do partido entregue ao TSE. Os valores não têm relação com financiamento do FI-FGTS”, diz a nota.

 

De acordo com a lei, o presidente Michel Temer não pode ser investigado ou processado por eventuais crimes citados por Lúcio Funaro, pois os fatos ocorreram antes de assumir a Presidência. Há duas semanas, a Câmara recusou ao Supremo Tribunal Federal licença para que Temer fosse investigado pelos crimes de obstrução da Justiça e organização criminosa, a ele atribuídos em denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República com base na delação do empresário Joesley Batista, da JBS. Segundo o documento, Temer concordou com a compra do silêncio de Funaro e Eduardo Cunha. A Procuradoria afirma também que Temer era o chefe de uma quadrilha formada por integrantes do PMDB da Câmara, que se beneficiou com R$ 587 milhões em propinas. Em agosto, a Câmara já havia negado outra denúncia, na qual Temer era acusado de cometer o crime de corrupção passiva, como beneficiário dos R$ 500 mil recebidos da JBS por seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.

 

Com a decisão sobre Temer, nesta semana o ministro Edson Fachin, do Supremo, enviou ao juiz Sergio Moro a investigação sobre os outros denunciados como integrantes da tal quadrilha do PMDB, entre eles Cunha, Rocha Loures e os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, que não têm foro privilegiado. A acusação de que Temer atuou como chefe do grupo foi feita pela Procuradoria a partir das delações de executivos da Odebrecht. Dois deles, Márcio Faria e Rogério Araújo, relataram uma reunião comandada por Temer no dia 15 de julho de 2010, em que foi discutida a “compra do PMDB” por US$ 40 milhões para ajudar na contratação da empreiteira para um serviço de mais de US$ 800 milhões à Petrobras. Marcelo Odebrecht, por sua vez, narrou um jantar com Temer, no Palácio do Jaburu, em 28 de maio de 2014, em que ficou acertado um pagamento de R$ 10 milhões de propina para o PMDB. As acusações foram rechaçadas por Temer.

 

Comentário do programa – Temos um criminoso na Presidência da República, usando o cargo como bem quer para se manter no poder, mas temos que aturá-lo até o final do mandato.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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