As pessoas agem como se o dinheiro público fosse um recurso infinito

By | 15/07/2018 6:22 am

 

(Hélio Schwartsman, colunista da Folha)

 

Para os dicionários, “homem público” é o indivíduo que se consagra à política ou que ocupa um alto posto no Estado. Já “mulher pública” significa “puta” mesmo. E o “dinheiro público”? Está mais para a versão masculina do adjetivo ou para a feminina?

Embora homens públicos sempre mencionem o dinheiro público como algo ao qual se reservam as mais elevadas considerações, o que verificamos na prática é que ele é frequentemente tratado como mulheres públicas, isto é, submetido às mais variadas formas de abuso, tanto no sentido de delito penal, como no moral.

 

A primeira parte é autoevidente em tempos de Lava Jato. Cumprem pena por desviar dinheiro público várias categorias de homens públicos, incluindo um ex-presidente. A fila dos envolvidos que aguardam pronunciamento da Justiça é maior que a de bordel em dia de pagamento.

 

Já a segunda, até por ser mais difícil de visualizar, se revela mais pervasiva, quase insidiosa. As pessoas agem como se o dinheiro público fosse um recurso infinito que se materializa a um toque de caneta dos homens públicos. Um setor enfrenta dificuldades? É só pedir um subsídio ao governo. Empresários fizeram maus investimentos e não conseguem pagar os empréstimos que contraíram? É só berrar bem alto e obter um perdão de dívidas.

 

Se o homem público à frente do governo estiver sob o risco de ser preso por ter desviado dinheiro público, até quem não pediu nada recebe alguma subvenção oficial. Eu, por exemplo, ganhei diesel mais barato.

 

O problema desse sistema generoso é que os recursos não são infinitos, o que significa que é a população que acabará pagando por todas as vantagens oferecidas. Mas, como o regime tributário é opaco, o benefício é bem mais visível que os ônus, de modo que poucos reclamam.

 

Não sou moralista, mas se quisermos mudar as coisas por aqui, teremos de tratar o dinheiro público menos como mulheres públicas e mais como “moças donzelas”.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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