Polícia investiga o caso e trabalha com hipótese de homicídio; em nota, o MST pediu justiça
(Estelita Hass Carazzai, na Folha)
Dois líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foram mortos a tiros na noite do sábado da semana passada (8/12), num acampamento na cidade de Alhandra (PB), a 45 km de João Pessoa.
Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando Bernardo, eram coordenadores do acampamento Dom José Maria Pires, que fica numa área invadida em julho de 2017, pertencente à Fazenda Garapu, do grupo Santa Tereza.
Cerca de 450 famílias vivem no local, em casas de pau a pique, onde plantam mandioca, hortaliças e outros produtos para venda e consumo próprio. A área, segundo o MST, estava improdutiva e havia sido tomada por um bambuzal. Não havia disputa judicial nem conflitos anteriores na área, segundo os militantes.
A polícia trabalha com a hipótese de homicídio. Segundo testemunhas, dois homens com cabeças cobertas por camisas invadiram o acampamento, na hora do jantar, e pediram para que outras pessoas se afastassem.
Apenas os dois coordenadores foram alvejados.
Uma das vítimas, Orlando Bernardo, já havia perdido um irmão, Odilon Bernardo da Silva Filho, que era integrante do MAB (Movimento Atingidos por Barragens) na Paraíba e foi assassinado em 2009, aos 33 anos, após um encontro com militantes.
Um terceiro irmão, Osvaldo Bernardo, é atualmente um dos coordenadores nacionais do MAB, e integra o programa de proteção aos defensores dos direitos humanos.
Em nota, a PGR (Procuradoria Geral da República) manifestou preocupação com o crime, e prometeu esforços para punir os responsáveis.
“A dois dias da comemoração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais um irmão de Osvaldo é assassinado, fato que preocupa diante do contexto sombrio de violência contra os movimentos sociais e demonstra quão distante ainda estamos da efetivação dos direitos garantidos pela declaração”, diz a nota, assinada pela procuradora-geral da república, Raquel Dodge, e outros dois procuradores.
Polícia Civil investiga o caso, mas ainda não há suspeitos identificados. O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), determinou “o mais rápido desfecho das investigações”. Dois delegados de João Pessoa conduzem o inquérito.
Em nota, o MST pediu justiça e disse que o crime foi cometido por “capangas encapuzados e fortemente armados”.
“Isso demonstra a atual repressão contra os movimentos populares e suas lideranças”, afirmou a direção do movimento na Paraíba.
Comentário do programa – A morte dos dois trabalhadores tem todas as características de execução. O fato de serem atingidos os dois coordenadores do assentamento demonstra que as mortes visavam o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e o trabalho dos seus membros na região. (LGLM)