(Editorial da Folha de São Paulo)
Ao longo de 12 meses, havia sinais pouco animadores em torno das investigações do assassinato de Marielle Franco.
Numa aguardada resposta às dúvidas que se acumulavam em torno das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), a Polícia Civil do Rio prendeu Ronnie Lessa, policial militar reformado, e Élcio Vieira de Queiroz, expulso da PM, sob acusação de terem executado o crime.
De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, Lessa foi o responsável pelos disparos, que mataram também o motorista Anderson Pedro Gomes, enquanto Queiroz estaria ao volante do automóvel que interceptou o veículo da vereadora na noite de 14 de março de 2018.
Ao longo desses 12 meses, sinais pouco animadores sugeriram a possibilidade de as investigações caminharem para um desfecho inconclusivo e vexatório, sem a identificação dos responsáveis.
As diligências, realizadas com apoio da Polícia Federal e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão ligado à Promotoria, apontaram agora que a empreitada foi planejada em detalhes nos três meses anteriores ao atentado.
Num esforço investigativo com o uso de tecnologia avançada, esquadrinharam-se dados de celulares e imagens de câmeras para fechar o cerco sobre os dois acusados.
Segundo a acusação, Lessa usou mecanismos de busca na internet para levantar informações sobre a vida e a rotina da vítima, o que seu advogado nega. Teria, ainda, demonstrado “obsessão” por pessoas ligadas ao universo ideológico da esquerda. Por isso acrescentou-se motivo torpe como agravante.
As prisões podem representar, sem dúvida, um passo importante na elucidação do caso, mas não encerram as investigações. Uma segunda fase do inquérito já foi deflagrada, com a expedição de 34 mandados de busca e apreensão com o objetivo de identificar conexões e apurar a existência de eventuais mandantes.
Ainda que se possa considerar a hipótese de o crime não ter sido encomendado, não soa provável que se trate de um ato isolado.
Os dois presos mantêm relações com milícias que atuam no estado. Lessa vivia num condomínio de alto padrão, onde também reside ninguém menos que o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Um amigo do policial reformado foi preso por guardar em sua casa peças para a montagem de 117 fuzis.
Lembre-se, ademais, que o ex-ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o general Richard Nunes, secretário estadual da área durante a intervenção federal de 2018, mencionaram a ação de políticos e agentes públicos contrários ao esclarecimento do crime. É preciso que sejam identificados.
Comentário do programa – Interessante. As peças de fuzis encontradas na casa do amigo de um dos assassinos de Marielle não eram originais, mas eram tão perfeitas que quase enganam os peritos que as examinaram. E os peritos chegaram a conclusão de que os fuzis que fossem montados com elas seriam perfeitamente capazes de matar. Os peritos completaram a peças e obtiveram uma arma letal, ao contrário do que dizia a defesa do pistoleiro que as peças serviriam apenas para armas de praticantes de airsoft, “um jogo desportivo onde os jogadores participam de operações policiais, militares ou de mera recreação com armas de pressão que atiram projéteis plásticos não letais…”, segundo a Wikipédia. (LGLM)