‘Saúde da Paraíba está à beira de um colapso’, diz o presidente do CRM-PB
(Lucilene Meireles, no Portal do Correio)
“A Saúde da Paraíba está à beira de um colapso”. Foi assim que o presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), Roberto Magliano, resumiu as condições das unidades de saúde do Estado. Faltam materiais básicos como seringas, luvas e tubos. A prateleira onde deveria estar armazenado o estoque de dipirona, vazia. Faltam roupas hospitalares, há carência de médicos, sobram pacientes. Sem local para ficar, acompanhantes se amontoam no chão úmido pelas infiltrações e por onde circulam baratas. Estes são apenas alguns exemplos de situações encontradas em 28 unidades de saúde fiscalizadas pelo CRM-PB de janeiro a maio de 2019 e fazem parte do Dossiê da Saúde Pública Paraibana, apresentado ontem.
São constatações que revelam as condições precárias das principais unidades de saúde do Estado e mostram o caos que se instalou na saúde pública do Estado, de acordo com Magliano. Os problemas atingem todos os setores, desde clínica geral, cirurgia e pediatria à maternidade e até mesmo oncologia. Todos os casos foram denunciados pelo CRM-PB aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, Governo do Estado, principais prefeituras. O Conselho pediu soluções. Algumas ocorreram, mas a maioria, não.
“Temos uma grande preocupação com a saúde pública da Paraíba, mas ao longo dos anos, nos acostumamos com a piora progressiva”, observou. “É necessário que a população, gestores e a opinião pública saibam o que está acontecendo em nosso Estado”, frisou.
O CRM tem uma capacidade de fiscalização limitada e nunca foram vistos tantos problemas juntos na saúde da Paraíba, segundo o diretor de Fiscalização, João Alberto Morais Pessoa. Apesar da dificuldade, o CRM vai continuar fiscalizando, especialmente as unidades que não foram vistoriadas. “É um absurdo, mas cerca de 64% das unidades fiscalizadas colocam em risco o atendimento seguro à população. Nós temos dados para comprovar isso”, ressaltou Magliano. Um problema frequente está relacionado aos recursos humanos. Mais de metade das unidades fiscalizadas não tem escala médica completa. Faltam enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos em quantidade suficiente para atender a demanda.
Responsável pelo atendimento de 70% da população com câncer na Paraíba, o Hospital Napoleão Laureano sofre um problema sério no que diz respeito aos recursos materiais. Durante a fiscalização, não havia sequer um soro. “Cirurgias foram suspensas por conta disso. É um problema absolutamente inaceitável, considerando que esse é o maior hospital de atendimento oncológico da Paraíba”, declarou Roberto Magliano.
E não é apenas esta unidade que padece com a escassez de material. “Infelizmente, ocorre em cerca de 60% das unidades de saúde do Estado. Se você vai a qualquer unidade de saúde, a chance de não ter o medicamento que precisa é de 60%”, afirmou.
Em termos de problemas estruturais, a maioria das grandes unidades hospitalares do Estado não apresentou, mas 36% delas têm, e quando eles existem, são graves. “Por exemplo, no Hospital Laureano, os médicos disseram que se sentiam extremamente incomodados quando começavam um tratamento de um paciente com câncer e não podiam dar continuidade porque faltava o medicamento”, lamentou.
Roberto Magliano afirmou que não há comprometimento apenas no tratamento quimioterápico. Na radioterapia, há entre 200 e 300 pacientes aguardando. No bloco cirúrgico, segundo ele, pacientes não conseguem realizar o procedimento.
8 É o número de unidades de saúde interditadas na Paraíba entre janeiro e maio deste ano.
Magliano avaliou a assistência pediátrica na Paraíba como absolutamente crítica. O Hospital da Criança e do Adolescente, em Campina Grande, tem problema de superlotação, falta de medicamentos, a manutenção predial é precária e falta até dipirona para as crianças.
Na maternidade Peregrino Filho, em Patos, são cinco meses de salários atrasados. É a terceira maternidade mais importante do Estado e enfrenta também problemas de falta de medicamentos, além da falta de pagamento. A Secretaria de Saúde do Estado (SES) e o Governo do Estado foram informados sobre a preocupação do CRM.
O Hospital Janduhy Carneiro, em Patos, que atende cerca de 60 municípios da região, só tem dois médicos no pronto atendimento. Já o Hospital do Bem, que atende pacientes com câncer do Sertão, não conta com médico para atendimento dessas pessoas. Na fiscalização, a informação repassada foi de que, se houver algum problema, o médico que está no pronto atendimento tem que sair do Hospital Janduhy Carneiro, andar 130 metros, até o Hospital do Bem.
O secretário de Saúde do Estado, Geraldo Medeiros, minimizou os problemas apontados nas fiscalizações do CRM e disse que 90% deles já estariam resolvidos. Sobre os riscos de exercício da Medicina, Medeiros negou e falou ainda que as unidades de saúde têm condições de trabalho adequadas para os profissionais. (Alisson Correia- Portal Correio)
Comentário do programa – O colapso da saúde na Paraíba não é novidade para ninguém a se aquilatar a partir da situação do Regional e da Maternidade. Os desvios de recursos que estão sendo apurados pela Operação Calvário mostram por que isto está acontecendo. Não é o fato de vários hospitais estarem sendo administrados por organizações sociais, mas o fato destes contratos estarem sendo utilizados para o desvio dos recursos. Não interessa quem está embolsando o dinheiro. Esperamos que tudo seja apurado e os responsáveis sejam punidos por isso, sejam eles quem forem. (LGLM)