(de Luiz Gonzaga Lima de Morais, publicada no Patos Online)
Ao assumir o cargo de prefeito do município, com o afastamento de Dinaldinho, Bonifácio Rocha recrutou para a Secretaria de Finanças um dos melhores quadros disponíveis no mercado, Arnon Medeiros. Com larga experiência, como auditor fiscal do Estado, Arnon alcançara, enquanto servidor, cargos importantes na estrutura do Estado, sendo por muitos anos superintendente da Coletoria Estadual em Patos. No cargo, Arnon sempre agiu com integridade, não permitindo que seus subordinados cometessem qualquer tipo de violência fiscal contra os contribuintes. Sua atuação sempre foi absolutamente republicana. Sem intransigência, mas tentando agir com compreensão e justiça.
O recrutamento de Arnon por Bonifácio Rocha foi saudado como uma garantia de honestidade e independência na Secretaria de Finanças. E isso aconteceu durante todo o período, nas administrações de Bonifácio e Sales. A Secretaria de Finanças é importante pelo controle que exerce tanto na arrecadação como na aplicação dos recursos da Prefeitura. E uma das funções mais sensíveis e mais sujeitas a pressões é a administração dos pagamentos a fornecedores. Estes evitam vender à Prefeitura quando não têm um secretário que lhes garanta a lisura no pagamento. E uma das maiores ameaças aos fornecedores é o desrespeito à ordem em que se fazem os pagamentos.
É comum na administração pública o pagamento de acordo com critérios políticos e até anti-republicanos. Tem-se noticia de prefeitos, secretários e intermediários, nas mais diversas prefeituras, que cobram pela realização dos pagamentos, antecipando aqueles destinados a quem lhes paga determinada importância. Nessa questão, Arnon, no exercício do cargo de Secretário de Finanças recebeu muitas pressões, sem que tivesse cedido a elas, o que lhe vinha trazendo alguns incômodos. Talvez sejam estas tentativas, não republicanas” de influir na ordem de pagamento dos fornecedores que tenham provocado a “quebra de confiança” a que Arnon atribui a sua saída. Nas conversas que tivemos ao longo da sua participação na administração de Sales Júnior sempre ouvimos de Arnon elogios à maneira como Sales vinha se conduzindo, com transparência e fazendo todo esforço para “tocar o barco”.
Arnon era uma referência na administração municipal, espécie de “primeiro ministro” a quem secretários e vereadores recorriam, em busca de orientação. Além de atender pessoalmente fornecedores e prestadores de serviço, que confiavam na seriedade das suas determinações. Era ele quem programava os pagamentos na medida em que entravam nos cofres e contas da prefeitura, motivo pelo qual podia dar garantia com relação aos pagamentos de fornecedores, prestadores de serviços e subvencionados da prefeitura. É de estranhar agora que tenha surgido esta “quebra de confiança” que obrigou Arnon a pedir demissão do cargo.
Com relação à situação funcional de Arnon, queremos informar que ele já está aposentado do serviço público estadual, embora possa voltar à atividade, se quiser, pois a lei lhe permite a reversão ao serviço público, uma vez que se aposentou voluntariamente.
Conhecemos Arnon, desde menino. Filho de “seu” Adauto da Padaria Santa Terezinha, ali na rua do Prado, e de dona Maria Batista, nunca renegou os ensinamentos domésticos de seu pai, conhecido pela integridade e honestidade, e de sua mãe, severa professora dos filhos, no âmbito do lar. Fez uma tentativa de militância política na década de noventa como candidato a vereador pelo PT, tendo desistido de futuras candidaturas, por conta da postura de alguns integrantes do partido. Nem todos tinham realmente a ideologia do partido que atraiu bons quadros que depois se decepcionaram, a maioria com as práticas de alguns integrantes do partido, embora muitos ainda hoje sejamos, como Arnon, adeptos da ideologia original do partido, ao qual ele ainda continua filiado.
Grande parte da confiança que se tinha no esforço de Sales para não comprometer a sua administração, se perde com a saída de Arnon. Embora ninguém seja insubstituível, nem sempre a “peça nova” é tão boa quanto a original. Esperamos que Sales tenha sorte na escolha do substituto de Arnon. (LGLM)
Post scriptum – Matéria publicada por um blog da capital atribuiu a uma decisão de Sales Júnior de determinar o não pagamento de valores devidos à empresa Conserv, que teria interesse em substituir por outra empresa, a entrega do cargo por Arnon. Na realidade, segundo se comenta, Sales teria impedido Arnon de cumprir os compromissos do Secretário de Finanças com os fornecedores, de acordo com uma programação previamente acertada com estes.
O episódio teria acontecido quando Arnon mandou buscar na Tesouraria os empenhos previamente preparados para pagamento aos fornecedores, quando recebeu de volta o recado de que os empenhos só lhe seriam entregues com a autorização do prefeito, com o que o Arnon teria se sentido desautorizado já que a Tesouraria era administrativamente subordinada a ele, como Secretário de Finanças.
Vale ressaltar que muitos dos fornecedores, escaldados com a incerteza de pagamentos na confusão administrativa instalada na Prefeitura, como alguns deles nos revelaram, só continuavam vendendo à prefeitura, justamente por que confiavam no Secretário das Finanças que vinha cumprindo os tratos com eles, pagando de acordo com a ordem acertada, sem discriminação dos credores. Há inclusive histórias tenebrosas de que determinados gestores (ou intermediários seus) chegavam a cobrar uma comissão para pagarem o que deviam legalmente aos fornecedores. (LGLM)