É ilusório apostar em imunidade de rebanho como solução contra covid, diz USP
(Thais Rodrigues, em Congresso e Foco em 31/03/2021)
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) [Reprodução/Divulgação]
Nota técnica divulgada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) condena a estratégia de se apostar na imunidade coletiva, também chamada de rebanho, como forma de controlar a covid-19. Os pesquisadores afirmam que é ilusório esperar que a progressão da epidemia leve ao seu próprio controle, até porque uma pessoa infectada não ganha imunidade contra o vírus. “Ao contrário, as condições de intensa e contínua transmissão favorecem a aparição de novas variantes do vírus”, diz o documento.
A nota afirma que a Organização Mundial da Saúde tem reiterado que a imunidade coletiva por contágio não é uma opção a ser considerada, tanto por razões científicas, como por razões éticas e jurídicas, por envolver a prática de crimes comuns. “Trata-se de uma estratégia que implica no sofrimento, em sequelas e mortes que poderiam ser evitadas caso um governo cumprisse seu dever de conter a propagação do vírus, prevista no Regulamento Sanitário Internacional.”
Desinformação mata
O texto também critica o que chama de propaganda contra a saúde pública, que inclui a divulgação de notícias falsas por setores do Estado. “Precisa ser coibida e os responsáveis por ela devem ser punidos”, defende. Segundo a faculdade, a disseminação de campanhas contra a vacinação e a favor do uso de remédios sem comprovação científica contribuem para o aumento de mortes no país.
“É urgente que o movimento político de difusão do chamado ‘tratamento precoce’ para a Covid-19 seja investigado e os responsáveis por ele sejam processados e julgados.” Para os pesquisadores, a falsa oposição entre proteção da saúde e proteção da economia deve ser desfeita. “Bom para a economia é conter a pandemia”.
Denúncia contra Bolsonaro
Ontem o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) apresentou uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, desde o início da crise de saúde pública no Brasil, e “de modo consciente e deliberado”, Bolsonaro fez uma opção pela chamada “imunidade de rebanho”. O deputado afirma que o presidente estava convicto de que a iniciativa de deixar que as pessoas se infectassem seria suficiente para eliminar a covid-19.
No ano passado, pouco depois de ter se curado da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que ter tido a doença havia sido a melhor vacina que ele poderia ter tomado.
Nossa opinião -Em algumas autoridades, entre eles, o presidente da República, assim como jornalistas e até médicos defendem a imunidade rebanho, mas o que pode até funcionar em outras doenças, não funciona no caso da COVID19, como não funciona, por exemplo da gripe, doenças em que a cada momento surge uma nova variante, para a qual a imunidade adquirida pode não funcionar. E o que é mais doloroso, no caso da COVID19 é a lógica perversa que existe por trás da imunidade de rebanho. Qual essa lógica: “É melhor deixar todo mundo se contaminar, no fim quem estiver vivo, estará imune!” Ou seja poderemos até alcançar um dia a imunidade de rebanho, mas o resto do rebanho terá morrido!. (LGLM)