(José Romildo de Sousa, historiador)
Tem amigos que mesmo quando não se encontram em nosso convívio, perpetuam-se indefinidamente em nossa memória. Assim aconteceu com Rui Pereira, colega de grandes “aventuras”, tanto nas “noites em que inaugurávamos nossas vidas”, como nas peladas do Campestre e nas conversas intermináveis no banco do canteiro da rua Solon de Lucena, em Patos, bem defronte à Lanchonete Pedregulho, de propriedade Rênio Tôrres.
Natural de Patos, Estado da Paraíba, nascido a 25 de dezembro de 1950, Rui Ribeiro Pereira Dantas era filho de Francisco Pereira Dantas e Francisca Ribeiro da Nóbrega Dantas. Iniciou os seus estudos no Grupo Escolar Rio Branco, passando em seguida pelo Colégio Estadual de Patos e se formando em Bioquímica pela UFPB. Foi ele um dos fundadores do Fortelândia Atlético Clube, participando também da 2ª fase da agremiação que teve como presidente Marcos Antônio de Araújo Leite.
Quando estava farreando com os amigos, Rui Pereira adorava cantar tangos e tinha em “Meu Pequeno Cajueiro”, sua canção preferida.
Em depoimento, Marconi Portela socializou a última ocasião em que se encontrou com o sobrinho querido de Nana Pereira: “Eu morava no Rio de Janeiro era 1977 ou 78 não lembro bem, o telefone tocou e era Rui e ele falou que estava em São Paulo, e que estava a caminho do Rio, então me passou o nome do hotel aonde ele iria ficar. Nesta época Carlos Estevam morava bem próximo da minha casa no Rio e Saulo Justiniano morava em Copacabana. Liguei para os dois e combinamos que que na noite seguinte eu iria pegar os dois em um Fusca que eu tinha para sair com Rui. Então no dia seguinte saímos para mostrar o Rio a ele. Com uma máquina fotográfica a todo momento tirando fotos onde a gente passava ai depois de um certo tempo ele diz!! É para provar para Fernando Soares que estive no Rio, caímos todos na risada!! Bom agora a história ruim!! Rui volta para São Paulo, e de repente acordo com a notícia que uma Kombi tinha atropelado ele e que havia morrido, foi um grande choque!”
Para todos nós! A morte de Rui Ribeiro Pereira Dantas, ocorrida as 7 horas da manhã, no dia 02 de outubro de 1980, na avenida São João, em São Paulo – SP, ocasião em que ele fazia Residência, no Hospital das Clínicas, nos pegou realmente de muita surpresa. Diante deste triste acontecimento, Perigo Neto ao tomar conhecimento do fato escreveu o poema que me enviou de forma datilografada, sob o título “Crônica a Rui Cabeção dos Anzóis Pereira”, onde traçou o perfil, mais real impossível, da vida e trajetória daquele inigualável “boêmio” – nosso inolvidável amigo – versos que passo a socializa-los para avivar a memória e matar a saudade de todos aqueles que tiveram a imensa satisfação de conviver com RUI CABEÇÃO.
Prezado amigo Rui,
Contaram-me hoje que apagastes todas as luzes do quarto,
te aconchegastes a um velho colchão e adormeceste definitivamente.
Rui, Rui Cabeção, contaram mas não acreditei,
preferi te colocar nas ruas distribuindo a tua boemia,
repicando teus cabelos britanicamente penteados,
gracejando dos homens e galanteando as mulheres.
A tua natureza não cabe dentro de um quarto,
és insistente demais para se trancar ao mundo,
gostas de ver, ouvir e falar tudo, pois que és cabeçudo,
criança vadia de um sorriso que já te nasceu estampado.
Mas é cruel e eterna a notícia, veio para sempre,
faz-me engolir a realidade e determina que a morte existe.
Sobrevive o passado, nosso passado de meninos da mesma rua,
dos jogos de bila e castanhas, das richas constantes,
das brincadeiras de faroeste e das escolinhas de samba.
Depois, o mesmo colégio, o mesmo clube, a mesma farda militar,
o mesmo grupo de amigos, as mesmas cachaças,
das noites em que inaugurávamos as nossas vidas.
Tempo de adultos: todos partem em busca das suas afinidades.
Patos fica à deriva, será o ponto dos nossos reencontros,
Festejados e regados de saudades e novas histórias.
Agora, contam-me que faltarás ao próximo encontro,
que subitamente te arrancaram da nossa mesa, dos teus amigos.
Apesar da realidade Rui, pela crença que me cabe,
não acredito que estarás longe da nossa roda de cachaça
e que em qualquer sábado, quando te embriagares,
hás de fugir desse quarto que te acolheu recluso
e dentro da noite se ouvirá um tango mal cantado,
que pede ao porteiro que suba e diga a morte ingrata,
que Rui Cabeção dos Anzóis Pereira, aqui espera,
na mesma mesa, com vários homens dispostos ao que for.
O sepultamento de Rui Pereira aconteceu no Cemitério São Miguel, na sua cidade de origem, faltando 65 dias para a data que estava marcada para o seu casamento com Carmelina, sua noiva da cidade de Condado. Quanto a missa de 1º aniversário de falecimento, ocorreu na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Guia, onde no convite esclarecia: “Ele deixou no coração de cada um de nós uma lembrança viva e uma afeição que jamais se extinguirá”.
P.S. – O poema aqui enfocado se encontra editado nos livros de poesias do seu autor: O Veneno da Cobra (1983) e Meus Versos Nossos (2018).
Nossa opinião – Rui foi nosso aluno no Colégio Estadual de Patos, era muito inteligente e, apesar de brincalhão, muito atencioso com os mestres e uma pessoa muito querida por todos, sua morte entristeceu a todos que lhe queriam bem. (LGLM)