CNBB critica ações do governo Bolsonaro na pandemia

By | 18/04/2021 6:42 am

Em mensagem de encerramento na Assembleia-Geral, episcopado cita discurso negacionismo e o desprezo às medidas sanitárias que caracterizaram as ações do governo federal durante a crise sanitária

(José Maria Tomazela, O Estado de S. Paulo)

A 58.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), encerrada nesta sexta-feira, 16, foi marcada por cobranças ao presidente Jair Bolsonaro, principalmente em relação à pandemia. Na mensagem ao povo brasileiro, o episcopado criticou o negacionismo e o desprezo às medidas sanitárias que caracterizaram as ações do governo federal durante a crise sanitária. Os bispos disseram que o momento exige “competência e lucidez” dos governantes e cobraram “auxílio emergencial digno pelo tempo que for necessário”. Também defenderam o respeito às restrições impostas pela pandemia.

Segundo a CNBB, o País vive uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia, que traz consequências mais desafiadoras na vida dos pobres e fragilizados. Nesta sexta-feira, o Brasil chegou a 369.024 mortos pela covid-19 e a 13,8 milhões de pessoas infectadas. Os bispos destacaram o papel da Igreja de, por exigência do Evangelho, assumir posicionamento em questões sociais, econômicas e políticas e disseram não poder se calar “quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a Justiça corrompida e a violência instaurada”.

Para a entidade, “são inaceitáveis discursos e atitudes que negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o estado democrático de direito”, numa referência também aos ataques do bolsonarismo a outros poderes. “É necessária atenção à ciência, incentivar o uso de máscara, o distanciamento social e garantir a vacinação para todos o mais breve possível”, defendeu a CNBB.

Judicialização

Os bispos dedicaram várias horas à discussão da posição da Igreja frente às medidas restritivas às missas e atividades religiosas presenciais devido à pandemia. Conforme o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, prevaleceu o respeito às normas. “O anúncio do evangelho é essencial, mas tem compromisso com a vida em todas as etapas”, disse. Ele criticou o uso político da religião e sua manipulação para atender interesses particulares, de seitas ou de grupos fechados. “Não podemos deixar crescer as polarizações ou a judicialização das questões religiosas.”

Na semana passada, o STF julgou contra um pedido do PSD, partido aliado de Bolsonaro, para suspender decreto do governo paulista que impedia missas e cultos presenciais devido ao aumento nos casos de covid-19. Nesse tema, não houve consenso total entre os clérigos, mas ampla maioria defendeu as restrições.

A preservação da Amazônia voltou ao debate no conclave do clero, no momento em que o presidente Bolsonaro afirma estar disposto a cumprir as metas ambientais do país no Acordo de Paris, desde que o Brasil seja remunerado pelos serviços ambientais. “Esperamos que os representantes do povo cumpram aquilo que de fato dizem. Não basta dizer, é preciso comprovar (o cumprimento)”, disse dom Walmor.

É a primeira vez que uma assembleia geral da CNBB, que reúne cerca de 480 participantes, acontece de forma virtual. No ano passado, o conclave não foi realizado devido à pandemia. Conforme o vice-presidente dom Jaime Splenger, o sistema online permite tratar questões que não exigem de forma radical a presencialidade. “Estamos aprendendo também a usar as novas tecnologias, sempre no sentido de respeito à vida e às pessoas.” Foram cinco dias de debates para nortear os rumos do clero católico.

A reportagem pediu um posicionamento do governo Bolsonaro sobre as críticas da CNBB, mas o Palácio do Planalto não se manifestou até a publicação deste texto.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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