(BLOG DO HÉLDER MOURA, 27 de abril de 2021, com comentário nosso)
Vamos combinar, é praticamente impossível alguém de bom senso ficar contra uma investigação para apurar responsabilidade durante a pandemia, ainda mais quando envolve tantos os agentes públicos envolvidos.
A omissão e os desacertos do governo Bolsonaro, a falta de transparência na aplicação dos recursos por governadores e prefeitos e, até mesmo, o comportamento de ministros do Supremo Tribunal Federal, durante a pandemia.
Não fosse a inoportunidade do momento e a absurda imposição do Supremo, a CPI da Covid seria uma ótima oportunidade para apurar desvios de conduta.
Mas, meu caro Paiakan, não dá pra conceber qualquer seriedade numa CPI que tem sujeitos como Renan Calheiros e Jáder Barbalho na condição de relatores. Primeiro, porque, em tese, irão julgar os próprios filhos durante os trabalhos. Uma aberração que somente o parlamento brasileiro pode permitir.
Renan terá acesso a todos os atos investigatórios que envolvam seu filhinho, o governador Renan Filho (AL). O mesmo vale para Hélder Barbalho (PA), filho de Jáder. Mais do que uma aberração, uma imoralidade que revela como o Brasil realmente não é um País sério.
E, segundo, tem o prontuário de Renan. O senador foi alvo de 12 inquéritos no Supremo, só no caso Mônica Veloso, além de sofrer uma ação de improbidade administrativa, em Brasília. No final de 2019, a 2ª Turma do STF acatou denúncia contra Renan Calheiros pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato.
Nossa opinião
- Claro que Renan não é flor que se cheire. Como pouquíssimos são os senadores em que se possa confiar. Todos são políticos, nascidos e criados na política. Muitos deles com processos nas costas. E a CPI foi escolhida de acordo com as regras do Senado. Acontece que Renan tem a expertise de toda safadeza da política e da administração pública. E a função que ele vai exercer depende disso. Do conhecimento do mundo em que vai investigar. Aliás ele só vai investigar. E não vai investigar só. Todos os demais participantes da CPI vão participar, vão fazer perguntas, vão sugerir a quem investigar. No final, Renan vai fazer um relatório que tem que ser aprovado pelos demais titulares da CPI. Relatório que vai ser encaminhado para o Ministério Público, que vai complementar as investigações e encaminhar para a Justiça, que é quem vai julgar. Mas, quem melhor para fazer uma investigação do que quem conhece o mundo do crime, conhece os criminosos, conhece seu “modus operandi”? Numa investigação policial quem se sai melhor um delegado novo, inocente das coisas do mundo, ou um delegado antigo que sabe onde pisa?
- Mas, por que tem gente com tanto medo de Renan? Afinal, quem não deve não teme. Aliás, Renan não vai ter nem tanto trabalho assim. Todos sabemos que erros foram cometidos, quem os cometeu. A CPI só vai apurar até onde vai a culpa de cada um. Quem errou porque quis ou porque foi mandato fazer?. Quais as intenções de cada um e quais as responsabilidades? Mas, repetimos a CPI só vai investigar a Justiça e o eleitor é que depois vão julgar. Mas a investigação só será bem-feita, se os investigadores souberem o que estão investigando, conhecerem quem estão investigando e não tenham o “rabo preso” para encobrir quem quer que seja.
- Desconfiam que Renan pode proteger seu filho governador, mas esquecem que além de Renan há dez outros titulares na CPI, para acompanhá-losnas investigações, quatro deles fiéis governistas que estarão lá para atrapalhar em tudo o que for possível.
- O jornalista Osvaldo Medeiros me passou esta preciosidade.
- Onde se pode observar que os quatro bolsonaristas da CPI (Ciro Nogueira, Jorginho Mello, Eduardo Girão e Marcos Rogério) têm mais processos do que os sete outros membros da CPI. E mais. Um dos bolsonaristas, Marcos Rogério, é o campeão, com 1294 processos. Eduardo Girão, outro bolsonarista que queria ser presidente da comissão só tem 8 processos. Ciro Nogueira, o lider dos bolsonaristas na CPI, tem mais processos do que Renan. Outro bolsonarista, Jorginho Melo, também ganha de Renan em número de processos, 21. Todos os bolsonaristas da CPI têm mais processos do que Renan e os “bolsominions” só falam nos processos de Renan.(LGLM)
