Pazuello, Araújo e Wajngarten, mesmo demitidos, mentem. E falta Salles

By | 21/05/2021 9:24 am

Festival de mentiras na CPI é para tentar salvar Bolsonaro, que está comprometido até a medula por atos, omissões e falas sobre vacinas, isolamento, máscaras e cloroquina

(Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo, 21 de maio de 2021)

Eduardo PazuelloErnesto Araújo e Fabio Wajngarten cumpriram o mesmo papel na CPI da Covid: mentir, para negar o negacionismo e acobertar os erros óbvios do presidente Jair Bolsonaro no combate a uma epidemia que já custou a vida de mais de 440 mil brasileiros. A célebre frase de Pazuello, “um manda, outro obedece”, virou “um não manda e não sabe de nada, todos os outros fazem tudo como bem entendem”.

É para rir ou para chorar? O general Pazuello jura que nunca foi desautorizado pelo presidente, o diplomata Araújo garante que não causou atritos com a China, Wajngarten esqueceu que acusara o Ministério da Saúde da era Pazuello de “incompetência”. Há, porém, vídeos, áudios, textos e reportagens nas várias mídias provando o oposto. De celulares em punho, os senadores exibem áudios que trituram as mentiras.

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No caso de Pazuello: num dia, ele anunciou, para governadores, a compra de 46 milhões de doses da Coronavac; no dia seguinte, Bolsonaro disse que ele é quem manda, não abre mão da sua autoridade e não compraria “vachina” nenhuma; no terceiro dia, os dois confraternizaram: “um manda, outro obedece”.

No caso de Ernesto Araújo: está documentada, antes e durante sua passagem no Itamaraty, a enxurrada de desaforos e delírios contra a China, que, não bastasse ser o nosso maior parceiro comercial, é o maior produtor de vacinas do mundo – e das únicas vacinas usadas no Brasil até 29 de abril deste ano. Para ele, a China quer destruir os valores cristãos e o próprio Ocidente.

E, no caso de Wajngarten, que ocupava a Secretaria de Comunicação quando se envolveu – sem sucesso, aliás – na negociação das vacinas da Pfizer: para azar dele e sorte da verdade, sua entrevista à revista Veja está gravada e a acusação de “incompetência da Saúde” é bem audível.

Só precisa mentir quem não pode dizer a verdade. Logo, o festival de mentiras na CPI é para tentar salvar Bolsonaro, que está comprometido até a medula por atos, omissões e falas sobre vacinas, isolamento, máscaras, cloroquina. O papel da comissão é consolidar, divulgar e amplificar o que só não viu e não sabe quem não quis e não quer.

As mentiras de Pazuello não são novidade, mas continuam chocantes. No primeiro dia, ele mostrou-se muito bem treinado e os senadores pareciam despreparados, o que bastou para uma onda de alívio no Planalto e no Exército. Ontem, a estratégia da cúpula e da oposição e dos independentes mudou: os senadores falaram muito, apontando os erros do governo e do presidente, dando pouca chance para Pazuello falar e mentir.

Ele, porém, já começou dizendo que é “um oficial-general “e oficial-general não mente”. Imagine se mentisse… E, ao insistir em negar que a Saúde tivesse criado e usado o aplicativo TrateCov, para massificar a cloroquina, saiu-se com essa: “Foi um hacker que postou”. Nem o presidente da comissão, o equilibrado Omar Aziz, aguentou: “Muito competente esse hacker, botou até na TV Brasil!”

Não dá ainda para prever o desfecho da CPI, mas ela já cumpre o seu primeiro objetivo: consolidar e jogar luzes nos erros de Bolsonaro e seu governo na pandemia. A comissão é, assim, educativa, mobilizadora, e já está sendo apelidada de “novo BBB”, ao cativar milhões de atentos brasileiros na TV, rádio, internet.

E, se Pazuello, Ernesto Araújo e Wajngarten, que também faziam tudo o que ele mandava, já foram demitidos, Bolsonaro perdeu o timing para se livrar do queridinho Ricardo Salles, do Meio Ambiente, outra área crítica do governo e alvo da PF. Com isso, e com o “tratoraço”, ele perdeu também o discurso de que não há escândalos no seu governo (noves fora as rachadinhas anteriores…). A situação de Bolsonaro, portanto, não é nada, nada confortável.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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