Presidente omite que país não consegue detectar todos os infectados por falta de testes
Na segunda-feira (7), o presidente fez mais um movimento para espalhar mentiras sobre a pandemia ao afirmar a apoiadores que um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) questionava o número de mortos por Covid-19 de 2020.
“Em primeira mão aí para vocês. Não é meu. É do tal de Tribunal de Contas da União. Questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. E ali o relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União”, disse Bolsonaro na ocasião.
O portal afirmou que o documento no qual se baseava tinha sido “citado por Bolsonaro” na portaria do Alvorada. E disse que obteve “um trecho do relatório elaborado pelo TCU” por meio de “fontes do Palácio do Planalto”.
Ao mesmo tempo, um documento apócrifo passou a circular nas redes sociais com os mesmos dados e como se tivesse sido elaborado com informações e conclusões oficiais do TCU. O título dele é “Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil”.
Ainda na segunda, o TCU desmentiu Bolsonaro em comunicado oficial. “O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje.”
Na terça-feira (8), Bolsonaro voltou a insistir que havia indícios de uma supernotificação de casos de Covid no Brasil, mas não apresentou provas.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, é muito provável que os números de casos e mortes por Covid no país sejam maiores do que os do registro oficial; é a chamada subnotificação. Ela acontece porque o país faz menos testes do que seria necessário para rastrear todos os casos, incluindo aqueles sem sintomas (assintomáticos) que ainda podem transmitir o vírus.
Um estudo da Vital Strategies, organização internacional voltada para a saúde, indicou que a subnotificação pode ter ocultado cerca de 30% das mortes por Covid. Assim, até o início de maio, quando o estudo foi publicado, o país já teria chegado a 530 mil mortos, e não aos pouco mais de 400 mil que registrava na época.
O trabalho buscou os casos e mortes de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) desde o início da pandemia que aparecem na estatística oficial como “etiologia não especificada ou sem classificação final para Covid”, ou seja, não houve identificação do agente que causou a doença.
“Não tem outra explicação [se não a Covid] para um aumento tão grande casos e óbitos [por SRAG]. Não há outro vírus respiratório agudo agindo concomitantemente ao Sars-CoV-2”, disse a pesquisadora Ana Luiza Bierrenbach, conselheira técnica sênior da Vital Stratregies e autora do estudo, na ocasião do lançamento dos resultados.
Assim, até o mês de maio, o mundo já teria chegado às 10 milhões de mortes causadas pela doença, quando os números oficiais mostravam cerca de 3,3 milhões de óbitos.
A falta de testes que podem dar o diagnóstico da doença é um dos principais entraves para chegar a um número de infecções mais perto do real. Os países que controlaram a disseminação do vírus de maneira mais eficiente, como Austrália e Nova Zelândia, usaram amplamente os testes na população para detectar os infectados e seus contatos mais próximos e fazer um isolamento mais preciso.