Líderes dizem que adesão de parte da bancada à PEC do voto impresso não deve ser régua para as eleições de 2022
Empenhados em construir uma terceira via competitiva para 2022, líderes de DEM, PSDB e MDB atuam para lidar com o “bolsonarismo interno” em suas bancadas e garantir musculatura à candidatura do grupo já na largada da campanha presidencial.
A votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, rejeitada pela Câmara dos Deputados em 10 de agosto, mostrou que uma parcela significativa dos parlamentares desses partidos – que orientaram voto contra a proposta– está alinhada a pautas do presidente Jair Bolsonaro.
A avaliação dos líderes dos partidos, contudo, é que o apoio à principal pauta do presidente não necessariamente se refletirá em apoios ou alianças eleitorais na corrida presidencial de 2022.
Em geral, a avaliação é que os bolsonaristas convictos são minoria nesses partidos, sendo que parte deles tende a migrar para partidos da base do presidente na próxima janela eleitoral.
No caso específico da PEC, líderes destacam que parte dos deputados apoiou a pauta para não se desgastar com o governo e para não bater de frente com suas bases eleitorais mais conservadoras.
Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) credita a adesão de parlamentares de centro à pauta do voto impresso a questões locais e à pressão de apoiadores do presidente.
“A gente sabe que muitos que votaram a favor do voto impresso não tinham essa convicção. Por questões locais de contraponto a algum outro grupo político, tiveram de votar. A milícia digital age de forma a assassinar o debate político. Só querendo impor uma posição”, afirmou.
De forma geral, o apoio ao voto impresso ganhou maior adesão entre deputados das regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, sobretudo entre os parlamentares ruralistas, ligados ao setor produtivo ou a igrejas evangélicas.
Dos três partidos, o DEM é o que tem maior aproximação com o bolsonarismo e tem em seus quadros os ministros Onyx Lorenzoni (Emprego) e Tereza Cristina (Agricultura).
Entre os que votaram a favor da medida estão nomes próximos ao presidente, caso do deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ), que deve assumir o controle do diretório do partido no Rio de Janeiro após a expulsão do deputado Rodrigo Maia (RJ).
Também são alinhados ao presidente os deputados federais Marcos Soares (RJ) e David Soares (SP), filhos do pastor R. R. Soares, além de Alan Rick (AC) e Carlos Gaguim (TO).
No Senado, os senadores Chico Rodrigues (RR) e Marcos Rogério (RO) estão entre os aliados próximos a Bolsonaro. Pré-candidato ao governo de Rondônia, Rogério tem se destacado como um dos principais defensores do presidente na CPI da Covid.
Presidente nacional do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto afirma que a construção da candidatura própria tem apoio da maioria do partido, inclusive entre os parlamentares.
“Temos respeitado a posição dos parlamentares mais próximos ao governo. Mas isso não compromete a prioridade do partido que é construir uma candidatura própria para 2022, posição que tem apoio amplamente majoritário”, disse ACM Neto.
No PSDB, a adesão ao voto impresso chegou a 14 dos 31 deputados. Outros 12 votaram contra. Seis se ausentaram e Aécio Neves (MG) se absteve.
Internamente, a expectativa é que parlamentares mais alinhados ao presidente deixem o partido, migrando principalmente para legendas do centrão. Até lá, haverá maior pressão pelo posicionamento em prol da candidatura própria na medida em que avançar o processo das prévias, marcadas para novembro.
Após um jantar em apoio à sua pré-candidatura na última semana em Brasília, Doria admitiu que parte da bancada deve deixar o PSDB, mas disse ver o movimento com bons olhos.
“A decantação fortalece porque, se você interpretar a decantação como de fato ela é, ficarão os bons, ficarão aqueles que têm o espírito do PSDB e querem lutar pelo PSDB e, principalmente, lutar pelo Brasil”, disse o governador paulista.
A Folha apurou que ao menos três deputadas federais estão de malas prontas: Edna Henrique (PB) já acertou sua migração para o Pros, Mara Rocha (AC) deve ir para o PSL e Rose Modesto (MS) está sendo cortejada pelo PP.
No MDB, o alinhamento em pautas apoiadas por Bolsonaro é mais sólido entre os ruralistas e deputados de viés bolsonarista como Lúcio Mosquini (RO) e Osmar Terra (RS). Na apreciação do voto impresso, 15 deputados votaram pelo voo impresso, 10 foram contra e 8 se ausentaram.
O partido também tem em seus quadros três senadores que ocupam posições de destaque na relação com o governo: Fernando Bezerra Coelho (PE), Eduardo Gomes (TO) e Márcio Bittar (AC).
Dos 15 deputados da legenda que votaram pelo voto impresso, 8 são da região Sul. Mas a expectativa é que esse alinhamento não permaneça na eleição —emedebistas e bolsonaristas devem estar em palanques opostos.
Em Santa Catarina, o senador Jorginho Mello (PL) e o governador Carlos Moisés (sem partido) disputam o posto de candidato de Bolsonaro. O MDB, por sua vez, terá candidato próprio e trabalha os nomes do senador Dario Berger e do prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli.
No Rio Grande do Sul, o MDB tem como possíveis candidatos o deputado estadual Gabriel Souza e o deputado federal Alceu Moreira. Este último votou a favor da PEC do voto impresso e costuma alinhar-se ao presidente em pautas ligadas ao agronegócio.
Contudo, o cenário local deve afastá-lo do presidente na campanha eleitoral. O MDB gaúcho ensaia uma aliança com o PSDB e deve enfrentar nas urnas bolsonaristas convictos: o senador Luiz Carlos Heinze (PP) ou o ministro Onyx Lorenzoni (DEM), ambos pré-candidatos ao governo.