Chegamos ao terceiro ano do mandato presidencial com muito pouco liberalismo e excesso de intervencionismo, a tônica do que tem sido o País nos últimos anos
Escaldados como somos com promessas impossíveis de serem realizadas, nós economistas observamos as propostas do então candidato Bolsonaro em 2018 com certo assombro. Havia a indicação de um governo ultraliberal vindo à frente, mas o teor do que se propunha indicava mais falta de conhecimento de como Brasília funciona do que liberalismo real. Vender R$ 1 trilhão em imóveis e privatizar quase tudo davam o tom do desconhecimento.
Não à toa, chegamos ao terceiro ano do mandato presidencial com muito pouco liberalismo e excesso de intervencionismo, a tônica do que tem sido o País nos últimos anos. A questão fiscal resume bem a situação, começando com o descuido em relação ao Orçamento deste ano e o imbróglio sobre como acomodar a regra do teto com os gastos esperados em 2022. O Centrão no domínio quase completo da política econômica tem dado a tônica das dificuldades.
Fosse de fato liberal, o foco teria sido gastar com o indivíduo, especialmente educação e saúde, áreas que foram as mais deixadas de lado pelo governo, e um cuidado extra com a avaliação dos programas que existem e que estão sendo implementados. Ser liberal é ter responsabilidade extra com o gasto público e um bom planejamento de reformas, tudo o que não se vê quando o foco se torna eleitoral e quando se vê uma reforma a toque de caixa como a da tributação da renda. Vale repetir: ser liberal não é apenas gastar dentro do teto, mas ser eficiente e focado no gasto que se precisa fazer.
Tivemos boas medidas implementadas, como a Lei de Independência do Banco Central e a Lei de Saneamento, mas algumas mudanças não tornam um governo liberal. Caminhando para o seu fim, o governo Bolsonaro perdeu a chance de transformação fiscal que havia começado no governo Temer por causa da fraqueza intrínseca que nasce da forma como o presidente governa.
O dilema que enfrentamos é que tem sido vendido que esse governo é liberal, o que, ao não ser, coloca em risco alguém com propósitos realmente liberais. O governo Bolsonaro talvez tenha interditado a possibilidade de viabilizar um candidato verdadeiramente liberal depois do desastre acumulado para o qual seu governo caminha.
E numa crescente intervencionista, o “PIB” finalmente resolveu se posicionar contra a última pá de cal de um governo que se chama de liberal, que é atacar a democracia. Não existe nada mais antiliberal do que apelar para soluções fora da Constituição ou falsamente na Constituição. Com isso, o movimento crescente de repúdio da elite econômica vai crescer ainda mais enquanto o governo se mantiver em modo de confronto antidemocracia. E aprofundar por esse caminho fechará as portas políticas de Bolsonaro a partir de 2023.
*ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS