O ‘PIB’ finalmente resolveu se posicionar contra os ataques à democracia; leia análise

By | 30/08/2021 7:24 am

Chegamos ao terceiro ano do mandato presidencial com muito pouco liberalismo e excesso de intervencionismo, a tônica do que tem sido o País nos últimos anos

Escaldados como somos com promessas impossíveis de serem realizadas, nós economistas observamos as propostas do então candidato Bolsonaro em 2018 com certo assombro. Havia a indicação de um governo ultraliberal vindo à frente, mas o teor do que se propunha indicava mais falta de conhecimento de como Brasília funciona do que liberalismo real. Vender R$ 1 trilhão em imóveis e privatizar quase tudo davam o tom do desconhecimento.

Não à toa, chegamos ao terceiro ano do mandato presidencial com muito pouco liberalismo e excesso de intervencionismo, a tônica do que tem sido o País nos últimos anos. A questão fiscal resume bem a situação, começando com o descuido em relação ao Orçamento deste ano e o imbróglio sobre como acomodar a regra do teto com os gastos esperados em 2022. O Centrão no domínio quase completo da política econômica tem dado a tônica das dificuldades.

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Evaristo Sá/ AFP

Fosse de fato liberal, o foco teria sido gastar com o indivíduo, especialmente educação e saúde, áreas que foram as mais deixadas de lado pelo governo, e um cuidado extra com a avaliação dos programas que existem e que estão sendo implementados. Ser liberal é ter responsabilidade extra com o gasto público e um bom planejamento de reformas, tudo o que não se vê quando o foco se torna eleitoral e quando se vê uma reforma a toque de caixa como a da tributação da renda. Vale repetir: ser liberal não é apenas gastar dentro do teto, mas ser eficiente e focado no gasto que se precisa fazer.

Tivemos boas medidas implementadas, como a Lei de Independência do Banco Central e a Lei de Saneamento, mas algumas mudanças não tornam um governo liberal. Caminhando para o seu fim, o governo Bolsonaro perdeu a chance de transformação fiscal que havia começado no governo Temer por causa da fraqueza intrínseca que nasce da forma como o presidente governa.

O dilema que enfrentamos é que tem sido vendido que esse governo é liberal, o que, ao não ser, coloca em risco alguém com propósitos realmente liberais. O governo Bolsonaro talvez tenha interditado a possibilidade de viabilizar um candidato verdadeiramente liberal depois do desastre acumulado para o qual seu governo caminha.

E numa crescente intervencionista, o “PIB” finalmente resolveu se posicionar contra a última pá de cal de um governo que se chama de liberal, que é atacar a democracia. Não existe nada mais antiliberal do que apelar para soluções fora da Constituição ou falsamente na Constituição. Com isso, o movimento crescente de repúdio da elite econômica vai crescer ainda mais enquanto o governo se mantiver em modo de confronto antidemocracia. E aprofundar por esse caminho fechará as portas políticas de Bolsonaro a partir de 2023.

*ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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