NÃO é hora de discutir a flexibilização do uso de máscaras em locais abertos

By | 19/10/2021 11:42 am

Vacinação avançou, mas não é suficiente para a erradicação da Covid-19

(Hélio Arthur Bacha, Infectologista, doutor em medicina (doenças Infecciosas e parasitárias) pela Faculdade de Medicina da USP e especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (USP), em 15.out.2021, na Folha)

“Em saúde pública, é problema o que possui solução” —este é um axioma constitutivo da administração sanitária. Grande parte das doenças virais não era matéria de preocupação, mas havida como natural e decorrente da condição humana.

Varicela, sarampo, gripe, rubéola e mais algumas outras eram reunidas em um grupo de morbidade que era definido como “virose”, diagnóstico para o qual não havia terapia específica e não mereceria cuidado médico. Havia exceções: varíola, febre amarela e poliomielite, por exemplo. Para a varíola já se desenvolvera a primeira vacina da história, ainda no século 18; a febre amarela ganhou a sua nas primeiras décadas do século 20; e, nos anos 1950, surgiu a da poliomielite.

As doenças virais tiveram sua magnitude epidemiológica reconhecida nos anos 1980 com a pandemia da Aids, que inicialmente ameaçava ser incontrolável. Grandes investimentos foram feitos em pesquisa microbiológica, epidemiológica, farmacológica e clínica. A compreensão das doenças virais ganhou consistência com as grandiosas conquistas na prevenção, no diagnóstico e no tratamento de hepatites virais, gripe, HIV, sarampo, herpes e papiloma vírus, entre outras.

Poucos meses após o início da epidemia já dispúnhamos do sequenciamento do seu agente; um conjunto de drogas já existentes foi testado; aprimorou-se o domínio de técnicas clínicas de suporte ​ventilatório e farmacológico dos casos graves; e, não menos importante, identificamos medicamentos que se revelaram mera futilidade terapêutica.

Aplicamos imediatamente as medidas não farmacológicas de contenção parcial do avanço da doença, o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene pessoal. Em menos de um ano dispúnhamos do recurso fundamental: a vacina específica. Portanto, a Covid-19 é um problema de saúde pública, pois desenvolvemos mecanismos de contenção.

Novas variantes, com transmissibilidade intensificada, surgiram. E o pior: o negacionismo militante organizado expandiu-se pelo país, com importante suporte econômico e político para combater o conhecimento técnico e científico. Mentiras sistemáticas sobre o vírus, vacinas, isolamento social, gravidade da doença e uso de máscaras foram divulgadas maciçamente nas redes sociais, dificultando a implementação de iniciativas necessárias de contenção epidêmica e de terapia dos casos leves. Em alguns países a ofensiva foi mais cruel e grave; nós, brasileiros, fomos especialmente vítimas desses embustes.

Nas últimas seis semanas, o Brasil está em uma nova fase da pandemia. A cobertura vacinal cresce, os hospitais estão com importante redução de casos graves —cerca de 90%. É hora de repensarmos o cotidiano. A Covid-19 ainda é problema, mas algumas atividades podem e devem ser desenvolvidas com a segurança necessária para que possamos retomar as atividades de forma contínua.

A vacina tem papel preponderante na proteção dos indivíduos, mas não é recurso único e suficiente para a erradicação da Covid-19, como está demonstrado nos países que conseguiram imunizar toda a sua população. Israel é o melhor exemplo. O uso de máscara por todos é recurso a ser mantido como defesa individual e coletiva contra a imersão na pocilga respiratória que até agora tem sido o ambiente coletivo urbano.

As máscaras devem continuar como proteção individual e como símbolo de que a consciência sanitária não se rende à ignorância, ao erro e à doença.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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