Vacinação avançou, mas não é suficiente para a erradicação da Covid-19
Varicela, sarampo, gripe, rubéola e mais algumas outras eram reunidas em um grupo de morbidade que era definido como “virose”, diagnóstico para o qual não havia terapia específica e não mereceria cuidado médico. Havia exceções: varíola, febre amarela e poliomielite, por exemplo. Para a varíola já se desenvolvera a primeira vacina da história, ainda no século 18; a febre amarela ganhou a sua nas primeiras décadas do século 20; e, nos anos 1950, surgiu a da poliomielite.
As doenças virais tiveram sua magnitude epidemiológica reconhecida nos anos 1980 com a pandemia da Aids, que inicialmente ameaçava ser incontrolável. Grandes investimentos foram feitos em pesquisa microbiológica, epidemiológica, farmacológica e clínica. A compreensão das doenças virais ganhou consistência com as grandiosas conquistas na prevenção, no diagnóstico e no tratamento de hepatites virais, gripe, HIV, sarampo, herpes e papiloma vírus, entre outras.
Poucos meses após o início da epidemia já dispúnhamos do sequenciamento do seu agente; um conjunto de drogas já existentes foi testado; aprimorou-se o domínio de técnicas clínicas de suporte ventilatório e farmacológico dos casos graves; e, não menos importante, identificamos medicamentos que se revelaram mera futilidade terapêutica.
Novas variantes, com transmissibilidade intensificada, surgiram. E o pior: o negacionismo militante organizado expandiu-se pelo país, com importante suporte econômico e político para combater o conhecimento técnico e científico. Mentiras sistemáticas sobre o vírus, vacinas, isolamento social, gravidade da doença e uso de máscaras foram divulgadas maciçamente nas redes sociais, dificultando a implementação de iniciativas necessárias de contenção epidêmica e de terapia dos casos leves. Em alguns países a ofensiva foi mais cruel e grave; nós, brasileiros, fomos especialmente vítimas desses embustes.
Nas últimas seis semanas, o Brasil está em uma nova fase da pandemia. A cobertura vacinal cresce, os hospitais estão com importante redução de casos graves —cerca de 90%. É hora de repensarmos o cotidiano. A Covid-19 ainda é problema, mas algumas atividades podem e devem ser desenvolvidas com a segurança necessária para que possamos retomar as atividades de forma contínua.
A vacina tem papel preponderante na proteção dos indivíduos, mas não é recurso único e suficiente para a erradicação da Covid-19, como está demonstrado nos países que conseguiram imunizar toda a sua população. Israel é o melhor exemplo. O uso de máscara por todos é recurso a ser mantido como defesa individual e coletiva contra a imersão na pocilga respiratória que até agora tem sido o ambiente coletivo urbano.
As máscaras devem continuar como proteção individual e como símbolo de que a consciência sanitária não se rende à ignorância, ao erro e à doença.