Bolsonaro está cercado de desgraças por todo lado, a pandemia é a pior delas

By | 22/10/2021 9:15 am
Só faltava o presidente enterrar o teto de gastos, como fez com o Plano Real. Não falta mais. Paulo Guedes derreteu. Sua equipe bateu em retirada. Logo, a CPI não é o único flanco
(Eliane Cantanhêde, nO Estadão, em 22/10/2021, seguido de matéria sobre o TETO FISCAL

Ao reagir ao relatório final da CPI da Covid imitando uma gargalhada tétrica do pai, o senador Flávio Bolsonaro mostra o quanto as verdades narradas em mais de mil páginas preocupam o núcleo do poder, inclusive porque o presidente Jair Bolsonaro já se debate num turbilhão de problemas que traga o Brasil e os brasileiros para o fundo do poço.

Se já não tem uma única resposta razoável para o relatório da CPI e os nove crimes que lhe são atribuídos durante a pandemia, tudo fica muito pior com inflação, miséria, famílias disputando ossos, a classe média irada com supermercado, gasolina e luz, as empresas apavoradas com tudo isso, mais juros e dólar e o mercado em polvorosa.

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Veja matéria no final sobre o que é o TETO FISCAL

Só faltava Bolsonaro enterrar o teto de gastos, como fez com o Plano Real. Não falta mais. Paulo Guedes derreteu. Sua equipe bateu em retirada. Logo, a CPI não é o único flanco, é apenas mais um. E que flanco!

Começa agora um empurra-empurra. A PGR adianta que as ações penais contra Bolsonaro já vêm sendo descartadas por iniciativa da própria procuradoria e que por aí não há muito o que fazer, só sobra o crime de responsabilidade, que tem natureza política e depende da Câmara. Mas a Câmara também finge que não é com ela.

É claro que a cúpula da CPI já esperava essas duas fortalezas em defesa de Bolsonaro e não está de braços cruzados. Recorre ao artigo 5.º da Constituição para acionar um plano B, caso a PGR não acate o relatório e não faça nada: uma ação subsidiária privada, em contraposição à ação penal pública. Alerta, a PGR rebate: isso só vale se perder o prazo de 15 dias, não se, neste tempo, disser sim ou não para o todo ou partes do relatório. Ou seja: dar andamento ou arquivar.

Há também um plano B para a Câmara. Notem que o termo “impeachment” não aparece uma única vez nas mais de mil páginas do relatório, mas a CPI já se articula com juristas, principalmente com o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., para uma comissão de professores e estudiosos lançar o pedido de impeachment de Bolsonaro, com base no relatório.

Há, portanto, todo um esforço da CPI para que as mais de 600 mil mortes e tudo o que aconteceu de macabro no País durante a pandemia não passem em branco, fiquem por isso mesmo, mas a vida é dura, não é mesmo? E não vai ser fácil furar os bloqueios da PGR, de um lado, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, do outro.

Mas nem tudo está perdido. O que a política joga para debaixo do tapete a economia traz à tona: incompetência, desleixo, má-fé. Bolsonaro é uma ilha, cercado de desgraças por todo lado. E o principal culpado, como diz o relatório da CPI, é um só: ele mesmo.

O que é o teto?

(Do Estadão)

O teto de gastos foi criado em 2016, por meio de uma emenda constitucional, e prevê um limite para as despesas do governo. Esse teto é corrigido todos os anos pela variação da inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior. Para 2021, por exemplo, a ampliação do teto será de 2,13%.

Por que o teto é importante?

O teto foi uma das primeiras medidas propostas pelo governo Michel Temer como forma de ancorar as expectativas de investidores após um período de forte aumento dos gastos e da dívida pública brasileira. Os juros estavam elevados, refletindo as incertezas sobre a sustentabilidade fiscal do País, o que tornava mais caro para o Brasil emitir títulos e se financiar no mercado. Economistas defensores do teto atribuem a ele o ambiente atual de juros em mínimas históricas e de maior confiança na sustentabilidade fiscal do Brasil, mesmo após o aumento de gastos devido à covid-19.

Qual é o problema?

O teto é corrigido pela inflação, mas cada item de despesa tem seu próprio ritmo de evolução. Gastos obrigatórios, como benefícios previdenciários e salários, têm historicamente crescido acima da inflação. Na prática, isso significa que o espaço para gastos da máquina pública, investimentos e até um aumento de despesas para programas sociais é cada vez menor.

De onde vem a pressão?

Integrantes do próprio governo e lideranças do Congresso defendem maiores gastos, principalmente em investimentos em infraestrutura, como forma de impulsionar o crescimento após a pandemia. A própria equipe econômica, por sua vez, propôs um drible no teto para bancar gastos com o Auxilio Brasil, novo programa que será a marca social do governo Jair Bolsonaro. As manobras foram criticadas e classificadas de contabilidade criativa por economistas.

O que está em jogo?

Defensores do teto dizem que uma mudança na regra poderia minar a credibilidade da política fiscal do Brasil. Integrantes da equipe econômica já alertaram diversas vezes para o risco de, sem o teto, os juros aumentarem e o governo precisar elevar ainda mais a carga tributária para financiar os gastos federais.

Nossa opinião

  • Desobedecendo aos limites impostos pelo Teto Fiscal, o governo dá com uma mão (o Auxílio Brasil ou Auxílio Eleição) e tira com a outra, incentivando a inflação que corrói o salário de quem ainda tem salário. Rico não sente a inflação por que ganha o suficiente para encarar qualquer novo gasto. Pobre é quem sofre pois o dinheiro fica cada vez mais curto. E ele tem que correr a atrás de osso e asa de frango. (LGLM)

Comentário

Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *