Aras acumula desgaste no STF e vira alvo de críticas públicas de ministros

By | 03/11/2021 8:39 am

Magistrados já disseram que o PGR não pode ser ‘espectador’ e emitiram nota sobre inação do órgão

O procurador-geral da República, Augusto Aras, acumula desgastes perante o STF (Supremo Tribunal Federal), o que tem dificultado sua relação com a corte e imposto um desafio em seu segundo mandato à frente da instituição.

Os ministros Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Edson Fachin usaram decisões recentes para fazer críticas públicas à atuação de Aras.

Entre os recados, os magistrados afirmaram que pareceres do PGR e de sua equipe geraram “perplexidade”, disseram que o chefe Procuradoria não pode assumir papel de “espectador” e até emitiram nota para afirmar que o órgão não havia se manifestado após ter sido provocado pela corte.

O presidente Jair Bolsonaro, o ministro Dias Toffoli e o procurador-geral da República, Augusto Aras
O presidente Jair Bolsonaro, o ministro Dias Toffoli e o procurador-geral da República, Augusto Aras – Pedro Ladeira – 02.out.2019/Folhapress

Além disso, um ofício assinado pelo procurador-geral, em que solicita ao tribunal a fixação de prazos maiores para suas manifestações, foi alvo de críticas nos bastidores do STF, por ser considerado um pedido incomum e despropositado.

Dentro da corte, havia uma leitura de que, após a recondução no cargo, Aras poderia se tornar mais independente em relação presidente Jair Bolsonaro.

A avaliação, no entanto, é que isso não tem se confirmado, mas esse cenário pode mudar caso o Senado aprove o nome de André Mendonça a uma vaga no STF, pois isso eliminaria as chances de Aras ser escolhido para a corte pelo atual chefe do Executivo neste mandato.

Na última semana, o desgaste do procurador-geral ficou ainda mais claro com a decisão de Cármen Lúcia de obrigá-lo a detalhar quais medidas adotará em relação a um pedido de parlamentares para investigar Bolsonaro por causa das falas golpistas nas manifestações do 7 de Setembro

Em situações que envolveram Bolsonaro, seus filhos ou ministros próximos, como o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, Aras foi provocado a investigá-los e, como resposta ao Supremo, anunciou que já havia aberto apurações preliminares contra esses nomes.

O procurador-geral costuma afirmar que fará uma investigação prévia internamente e, caso encontre elementos, pedirá a abertura de inquérito perante a corte. Na maioria dos casos, as investigações são arquivadas ou não vão para frente.

Cármen Lúcia afirmou que Aras “não está fora de qualquer supervisão e controle” e determinou que ele informe as medidas que adotará em relação a uma solicitação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para que Bolsonaro seja investigado pelas ameaças feitas no feriado da Independência.

A ministra disse que não é “imaginável supor” que exista uma autoridade que possa “conduzir sem sequer ser de conhecimento de órgãos de jurisdição o que se passa ou se passou em termos de investigação penal de uma pessoa”.

No caso de Alexandre de Moraes, os embates são ainda mais frequentes. O ministro é relator de inquéritos sensíveis em curso na corte que miram Bolsonaro e seus aliados e costuma adotar medidas duras nesses casos, muitas vezes a contragosto da PGR.

No episódio mais simbólico, o ministro driblou a Procuradoria para manter aberta uma investigação contra bolsonaristas.

Em junho, Aras solicitou ao Supremo o arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos.

O ministro atendeu ao pedido, mas determinou outra investigação muito similar para apurar os casos em que o procurador-geral afirmara que deveria haver continuidade em primeira instância por não envolver autoridades com foro especial.

Na decisão, Moraes citou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por exemplo, 12 vezes.

No embate mais recente, o ministro decretou a prisão do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos mesmo após manifestação da PGR no sentido contrário.

No caso da prisão de Roberto Jefferson, o gabinete de Moraes chegou a emitir uma nota à parte da decisão para explicar a situação.

O texto informava que o magistrado encaminhara à Procuradoria o pedido da PF para prender o político e que dera 24 horas para a PGR opinar a respeito. Depois de uma semana, o órgão não opinou sobre o caso e Moraes determinou então a prisão.

Aras respondeu na mesma moeda: divulgou uma nota oficial para afirmar que se manifestou no tempo oportuno. Além disso, enfatizou ser contrário à prisão e disse que não divulgaria detalhes do caso por se tratar de processo sigiloso.

Já Rosa Weber, considerada a ministra mais discreta do STF e que raramente se envolve em situações mais polêmicas, foi a responsável por fazer as críticas mais duras a Aras.

Logo após as revelações de que o deputado Luís Miranda (DEM-DF) teria informado a Bolsonaro a existência de irregularidades no contrato para compra da vacina indiana Covaxin, senadores de oposição pediram ao Supremo a instauração de investigação contra o chefe do Executivo.

A ministra solicitou parecer da PGR, que respondeu que seria necessário aguardar o fim da CPI da pandemia para decidir sobre eventual apuração por prevaricação contra o presidente.

A magistrada, então, rebateu Aras. Disse que ele não poderia assumir o papel de “espectador” e “desincumbir-se” de suas funções e mandou ele se manifestar novamente sobre o caso.

Rosa afirmou que não há previsão legal que determine à PGR que aguarde o fim de uma comissão para adotar as medidas necessárias e mandou um recado claro: “No desenho das atribuições do Ministério Público, não se vislumbra o papel de espectador das ações dos Poderes da República”.

Depois disso, em outubro, a magistrada voltou a criticar a atuação da Procuradoria.

A magistrada afirmou que “os eixos de sustentação do parecer ministerial” estavam “a revelar dubiedades” que mereciam maiores esclarecimentos. “Referida construção teórica, analisada contextualmente, gera alguma perplexidade”, afirmou.

Já o ministro Edson Fachin cobrou da Procuradoria a devolução de uma colaboração premiada ao STF que estava no órgão há cinco meses.

O ministro disse que era necessário respeitar o “valor constitucional da duração razoável do processo” e lembrou que as causas criminais têm prioridade de julgamento na corte.

Procurada, a PGR não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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