É o dinheiro que manda nas votações da Câmara, mas não só ali

By | 05/11/2021 7:57 am

Mensalão do PT em 2005 não passou de trocado, se comparado com o esquema do orçamento secreto para reeleger Bolsonaro

Arthur Lira_plenário_CâmaraPablo Valadares/Agência Câmara
Furar a lei do teto dos gastos que eles mesmos haviam aprovado? Aplicar um calote no pagamento de dívidas judiciais vencidas? Pedalar a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que já provocou a queda de um presidente da República? Desconsiderar a mais do que certa repercussão negativa de suas decisões?

O crime coletivo é mais difícil de ser punido. Em 2001, o Congresso aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que parcelava o pagamento dos precatórios. Nove anos depois, o Supremo Tribunal Federal julgou que precatórios não podem ser parcelados, tem que ser pagos de imediato. Adiantou?

Poderia ter adiantado para o futuro. Ninguém foi punido por desrespeitar a Constituição àquela época, e, contudo, sabia-se que ela estava sendo desrespeitada. Ficou tudo por isso mesmo. Agora, decorridos 11 anos, o filme se repete sob o patrocínio de um presidente desesperado por se eleger e com medo de ser preso.

Um presidente que se elegeu prometendo combater a corrupção, e que fez do juiz que comandava a Operação Lava Jato, Sérgio Moro, seu ministro da Justiça. Moro despiu-se da toga com a desculpa de que continuaria o combate a partir de uma posição privilegiada. Demitiu-se ao descobrir que fora enganado.

“Os políticos não pararam de roubar, só pararam de ter vergonha de roubar”, disse em 2017 à Folha de S. Paulo Piercamillo Davigo, ex-procurador da Operação Mãos Limpas. No início dos anos 80, já dizia Ulysses Guimarães, presidente do MDB: “O mais bobo dos deputados conserta relógio suíço usando luvas de boxe”.

A PEC aprovada pela Câmara em primeira votação acena com o pagamento do Auxílio Brasil de 400 reais mensais aos brasileiros mais pobres, vítimas da Covid. O que o governo dará com uma mão e somente até dezembro do próximo ano, tomará com a outra via inflação em alta, juros em alta e dólar em alta.

Dinheiro não cai do céu. Os pobres sempre pagam a maior fatia da conta. A PEC limita pagamentos de precatórios a 44,5 bilhões no ano que vem. Com isso, o governo teria um espaço no orçamento de 44,5 bilhões para outros gastos. A PEC também altera a correção da Lei do Teto de Gastos. Seriam mais 47 bilhões.

As duas manobras renderão ao governo algo como 90 bilhões. O Auxílio Brasil, programa que substituirá o Bolsa Família, custará cerca de 50 bilhões. Parte do que sobrar será empregada na construção de obras em redutos eleitorais dos políticos que apoiam Bolsonaro, e a outra parte no que o governo quiser. Que tal?

Nossa opinião

  • A venalidade dos nossos parlamentares não é novidade para ninguém. Eles só pensam em ganhar dinheiro de alguma maneira. Afinal, como é que um parlamentar gasta entre cinco e dez milhões de reais para se eleger, para cada mandato, se durante quatro anos de mandato recebe apenas um milhão e meio de vencimentos? E quando não reelege, tira de onde? Todo mundo sabe que nas verbas que destina aos seus redutos eleitorais, sempre fica uma parte para eles. Por isso a ganância deles por estas verbas. Os prefeitos viram cabos eleitorais e eles ainda levam um “por fora”.  As empresas que vão executar obras ou vender equipamentos já separam entre 10 e 20% de comissão para o parlamentar, senão nunca mais ganham uma licitação. (LGLM)

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *