Um dia de morte para as mentiras do candidato Bolsonaro

By | 05/11/2021 7:20 am

Teto caído soterra Guedes, Moro foi acusado de negocista e Bolsolão revive velha política

[Vinicius Torres Freire. Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), em 04/11/2021].

O liberalismo de Paulo Guedes sempre foi caricatura. Na noite de quarta-feira, essa fantasia grotesca estrebuchava sob as ruínas do teto de gastos, a grande obra da coalizão liberal que depôs Dilma Rousseff. Na mesma noite, Jair Bolsonaro dizia à Polícia Federal que Sérgio Moro é um tipo negocista, que troca um pedido presidencial por uma nomeação para o Supremo.

No Congresso, a derrubada do teto era conduzida pelo centrão, com auxílio de ministros, com votos sendo cabalados por meio da promessa de emendas parlamentares. A “velha política” sapateava e pedalava sobre a “responsabilidade fiscal” agonizante.

O centrão marombado pelo bolsonarismo contribuiu para o enterro da Lava Jato e ajuda Bolsonaro a rasgar os trapos da sua fantasia liberal, lavajatismo e liberalismo que serviram de desculpa para elites várias subirem na barca do inferno (em última instância, os motivos eram mesmo o antipetismo, a recusa de pagar mais impostos e a acomodação habitual com a incivilidade).

Carro de som com faixa grande com rostos de Moro, Guedes e Bolsonaro, e a frase "Sabemos que não é fácil, mas estamos com vocês. Força!"
Carro de som com faixa em apoio a Bolsonaro, Sergio Moro e Paulo Guedes, em manifestação em Belo Horizonte – Fernanda Canofre-26.mai.2019/Folhapress

De certo modo, foi uma noite de glória para o capitão das “fake news” e outras patranhas. As maiores promessas da campanha de 2018 brilhavam como mentiras peladas no palco da farsa bolsonarista.

As mudanças mais relevantes para que o país venha a ter uma economia de mercado funcional eram conversa mole do bolsonarismo e da maioria das corporações empresariais que o apoiaram. Sem também reforma tributária e abertura comercial não haverá concorrência e aumento bastante de produtividade, outro nome de crescimento econômico. Mas a pimenta da reforma é boa nos olhos dos outros, não na fuça do capitalismo de compadres e de favor. A zorra macroeconômica acaba com o resto de perspectiva de aumento de renda. O liberalismo à brasileira ataca outra vez.

Esse vexame sórdido faz lembrar de Jânio Quadros e de Fernando Collor, outras Mulas de Troia em que a direita chegou ao poder. Sim, eram outros Brasis, mas esses tipos surfaram também o mesmo moralismo santarrão e autoritário que ajudou a levar Bolsonaro ao poder.

A direita pode dizer que preferia um Carlos Lacerda ou, vá lá, um Geraldo Alckmin. Na prática e na hipótese mais benevolente, não faz mais do que aderir a picaretagens como a vassoura janista, o caçador de marajás ou o capitão da reação, quando não os financia ou propagandeia com gosto.

As consequências de Bolsonaro são piores. Além de normalizar o autoritarismo, o reacionarismo, a cafajestagem e a tolerância a crimes de responsabilidade, soltou a cordinha do partido militar, agora também fisiológico, e o fantasma da religião como assunto de Estado, que mal e muito mal estavam presos na casinha.

A fraude imensa ficou muito evidente no espetáculo de desnudamento de mentiras desta semana, mas não se trata de um show pontual em uma noite escura da alma deste país. No Brasil, é uma história muito velha que o liberalismo realmente existente, o liberex, encarne na prática em monstruosidades. Aconteceu de novo.​

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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