Pacheco diz a Fux que verba política terá transparência após derrota no STF

By | 18/11/2021 8:48 am

Presidente do Senado afirma que Congresso prepara resolução para informar com clareza destino dos recursos

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou nesta quarta-feira (17) ao chefe do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, que o Congresso irá elaborar uma resolução para ampliar a transparência na execução das emendas de relator.

O senador disse que o objetivo é aprovar essa norma para destravar o orçamento público e afirmou que há cerca de R$ 8 bilhões que estão parados devido à decisão do STF de suspender a execução dessas emendas.

Pacheco defendeu a liberação dessas emendas e afirmou que discorda de declarações de parlamentares de oposição de que essas verbas eram usadas pelo governo para beneficiar apenas deputados e senadores ligados à base do Executivo.

Luiz Fux e Rodrigo Pacheco durante reunião nesta quarta
Luiz Fux e Rodrigo Pacheco durante reunião nesta quarta – Nelson Jr./Supremo Tribunal Federal

“Nossa intenção é fazer ato conjunto da Câmara e do Senado que possa aferir com detalhes a destinação de recurso de 2020 e 2021 e pensar para 2022, à luz da decisão do STF, alterações na resolução submetida ao Congresso que vise conferir mecanismos e outros métodos em acréscimo àquilo que era realidade até então determinada pela lei”, disse.

O senador afirmou que a ideia é que se possa saber com mais clareza para onde vão as verbas dessas emendas.

“Talvez a melhor proposta seja definir os critérios de aferição, de qual é a origem daquela emenda, qual a importância daquela emenda, se há envolvimento de uma prefeitura, de uma Santa Casa, já que se lançou luz sobre a necessidade de uma maior transparência.”

A decisão do Supremo de suspender essas emendas foi tomada inicialmente pela ministra Rosa Weber e, depois, ratificada por 8 a 2 pelo plenário da corte.

A maioria dos ministros entendeu que a forma como esses recursos são liberados atualmente não tem transparência e viola a Constituição.

A decisão afirma que os repasses deverão ser suspensos até que o tribunal decida o mérito da ação do PSOL que foi julgada. Ainda não há data para análise.

Pacheco, porém, afirmou que uma solução para o caso pode ser realizada por outro meio, seja pela análise de recurso contra a decisão já tomada ou através de um pedido encaminhado diretamente a Rosa Weber, relatora do processo.

O senador disse que também pedirá reunião com os demais ministros da corte para explicar a situação das emendas.

Para Pacheco, é necessário resolver essa questão o quanto antes porque a verba dessas emendas é destinada a áreas de interesse da sociedade, como saúde e educação.

“É importante encontrarmos um caminho para solução desse impasse, o Brasil precisa retomar o crescimento e precisamos destravar o orçamento”, disse.

Segundo o parlamentar, o importante é “dar clareza ao STF do que é a realidade do orçamento público” e apresentar uma proposta de ampliação de transparência que estará “materializada em ato conjunto das duas Casas, discriminando tudo quanto há relativamente a essas emendas, a destinação delas”.

Pacheco também defendeu que não havia irregularidade na forma como as emendas eram destinadas antes da decisão do STF.

“Até aqui nós vivemos sob a égide da lei que disciplinava o que era possível para o relator fazer. A partir do momento que essa decisão revela que o mecanismo até aqui feito não era o mecanismo melhor, então temos que melhorar”, disse.

De acordo com o senador, a decisão do STF “acaba sendo um instrumento para nossa reflexão de ação do Congresso que possa conferir ainda mais transparência às emendas de relator”.

Até a decisão do STF, esses recursos eram manejados por governistas com apoio do Palácio do Planalto às vésperas de votações importantes para o Executivo.

Antes da aprovação da PEC dos Precatórios, também chamada de PEC do Calote, por exemplo, foi liberado R$ 1 bilhão em emendas dessa natureza. Esse projeto permite a expansão de gastos públicos e viabiliza a ampliação do Auxílio Brasil prometido pelo presidente Jair Bolsonaro em ano eleitoral.

ENTENDA O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM AS EMENDAS PARLAMENTARES

A cada ano, o governo tem que enviar ao Congresso até o final de agosto um projeto de lei com a proposta do Orçamento Federal para o ano seguinte. Ao receber o projeto, congressistas têm o direito de direcionar parte da verba para obras e investimentos de seu interesse. Isso se dá por meio das emendas parlamentares.

As emendas parlamentares se dividem em:

  • Emendas individuais: apresentadas por cada um dos 594 congressistas. Cada um deles pode apresentar até 25 emendas no valor de R$ 16,3 milhões por parlamentar (valor referente ao Orçamento de 2021). Pelo menos metade desse dinheiro tem que ir para a Saúde
  • Emendas coletivas: subdivididas em emendas de bancadas estaduais e emendas de comissões permanentes (da Câmara, do Senado e mistas, do Congresso), sem teto de valor definido
  • Emendas do relator-geral do Orçamento: As emendas sob seu comando, de código RP9, são divididas politicamente entre parlamentares alinhados ao comando do Congresso e ao governo

CRONOLOGIA

Antes de 2015
A execução das emendas era uma decisão política do governo, que poderia ignorar a destinação apresentada pelos parlamentares

2015
Por meio da emenda constitucional 86, estabeleceu-se a execução obrigatória das emendas individuais, o chamado orçamento impositivo, com algumas regras:

  • a) execução obrigatória até o limite de 1,2% da receita corrente líquida realizada no exercício anterior;
  • b) metade do valor das emendas destinado obrigatoriamente para a Saúde
  • c) contingenciamento das emendas na mesma proporção do contingenciamento geral do Orçamento. As emendas coletivas continuaram com execução não obrigatória

2019

  • O Congresso amplia o orçamento impositivo ao aprovar a emenda constitucional 100, que torna obrigatória também, além das individuais, as emendas de bancadas estaduais (um dos modelos das emendas coletivas)
  • Metade desse valor tem que ser destinado a obras
  • O Congresso emplaca ainda um valor expressivo para as emendas feitas pelo relator-geral do Orçamento: R$ 30 bilhões
  • Jair Bolsonaro veta a medida e o Congresso só não derruba o veto mediante acordo que manteve R$ 20 bilhões nas mãos do relator-geral

2021
Valores totais reservados para cada tipo de emenda parlamentar:

  • Emendas individuais (obrigatórias): R$ 9,7 bilhões
  • Emendas de bancadas (obrigatórias): R$ 7,3 bilhões
  • Emendas de comissão permanente: R$ 0
  • ​Emendas do relator-geral do Orçamento (código RP9): R$ 16,8 bilhões

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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