Devagar com o andor

By | 19/11/2021 12:27 pm

Tudo indica que a pandemia desaparecerá. Mas o vírus sempre pode surpreender. É hora de mais vacinas e muita cautela

 

Há razões para otimismo. A espetacular mobilização de cientistas e pesquisadores produziu vacinas contra a covid-19 em menos de um ano (a da pólio tomou 20). Cerca de 3,8 bilhões de pessoas no mundo já tomaram a primeira dose. Há remédios que reduzem as hospitalizações e mortes pela metade, e outros em fase de aprovação que podem reduzir os riscos em até 90%. Desde agosto, as infecções e mortes estão caindo globalmente. No Brasil, a adesão à imunização foi massiva e já supera a de países desenvolvidos. As taxas de infecções e mortes estão no menor patamar desde maio de 2020. Ao que parece, em 2022 a pandemia desaparecerá.

Mas a esperança será tanto mais forte quanto mais for acompanhada de cautela. Entre o final de outubro e o começo de novembro, as infecções na Europa aumentaram 7% e as mortes, 10%. Medidas restritivas estão sendo reeditadas para conter uma quarta onda. Isso não significa que o padrão se repetirá no Brasil. A imunização aqui avança com mais força e, se a Europa entra no inverno, o Brasil entra no verão.

Mas não se pode baixar a guarda. A terceira dose está sendo aplicada, porém cerca de 21 milhões de brasileiros ainda não retornaram para tomar a segunda. Se tivessem tomado, o País já teria praticamente atingido a imunidade de rebanho, estimada entre 70% e 85% da população.

O Ministério da Saúde lançou a campanha Proteção pela metade não é proteção. Medida importante, ainda que tardia. A omissão do governo federal nas campanhas de conscientização foi escandalosa, e o presidente é um irremediável sabotador das medidas de contenção e imunização. Não colabora para a confiança na vacinação o fato de a Anvisa não ter sido devidamente consultada sobre a dose de reforço para maiores de 18 anos.

A esquizofrenia do governo federal aumenta a responsabilidade dos governos regionais e da sociedade civil. Não se pode correr o risco de uma nova onda por negligência. Até porque na Europa há uma cultura social e administrativa que permite medidas de contenção pontuais mais ágeis e menos custosas.

De resto, nos países pobres os vacinados não chegam a 5%. Com isso, há margem para mutações inesperadas. Nesse caso, readequar as vacinas é mais fácil do que começar do zero, mas pode levar tempo, assim como tomará um tempo até que os remédios mais eficazes ganhem escala industrial e preços mais acessíveis.

E, mesmo que a pandemia desapareça, a covid não desaparecerá. Seu destino é se tornar endêmica, com eventuais surtos locais e sazonais, como a gripe. Não será uma ameaça mortal para a maioria das pessoas, mas continuará a sê-lo para idosos e enfermos, além das populações dos países pobres. Os países ricos seguem estocando vacinas além do limite razoável e, à medida que a covid se dissipa neles, diminui o interesse em auxiliar os pobres. Mais uma vez, isso aumenta o risco de variantes mais infecciosas e mortais.

Se há uma lição indisputável desse vírus é que ele sempre pode surpreender. As melhores armas para minimizar os riscos de uma catástrofe ainda maior são vacinas e cautela. É preciso usá-las sem moderação.

Comentário

Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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