Ex-juiz usa a Lava Jato para atrair milhões de eleitores que ainda dão prioridade ao combate à corrupçã
Durante décadas o PT usou o combate à corrupção, à fome e à pobreza como sua grande bandeira e o presidente Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 com um falso personagem a favor do liberalismo econômico e contra a corrupção, a “velha política”, o “sistema”.
Lula foi condenado e preso, Bolsonaro se enrolou com rachadinhas e entregou a alma do governo ao Centrão, a Lava Jato foi enterrada sem choro nem vela e o combate à corrupção saiu de moda, da pauta, do discurso político e das manchetes.
É exatamente nesse vácuo que entra o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro na eleição de 2022. Pelo óbvio: apesar de todos os solavancos da Lava Jato, grande parte do eleitorado não esqueceu e Moro continua sendo um ícone do combate à corrupção.
Em suas “intensas trocas de mensagens” pelas madrugadas com Valdemar Costa Neto, Bolsonaro reclama que o PL é aliado de vários dos seus adversários nos Estados. Já em público, ele tenta dourar a pílula, dizendo que ele e Costa Neto querem é “acertar o discurso” sobre as pautas conservadoras, internacionais e de defesa.
Afora o fato de que Bolsonaro não entende bulhufas de política externa e de defesa, o curioso é não incluir corrupção entre as pautas. Seria bem interessante uma “intensa troca de mensagens” sobre corrupção entre ele e Costa Neto, preso no mensalão e investigado na Lava Jato.
Do outro lado, o ex-presidente Lula provocou um contraste gritante entre seu próprio giro internacional e as viagens de Bolsonaro, mas também não toca mais, nem quer ouvir falar, em combate à corrupção.
Bolsonaro foi a Nova York com uma comitiva enorme, comeu pizza (não Pisa…) na rua e defendeu cloroquina na ONU, sem nenhum encontro bilateral relevante. Depois, ignorou a COP-26 e passou vexame no G20. Não sabia nada sobre os líderes e os temas. Nem apareceu para a foto oficial.
E, enquanto Bolsonaro desfilava pelos Emirados Árabes, Lula discursou no Parlamento Europeu, conversou com Emmanuel Macron, da França, Olaf Sholz, substituto de Angela Merkel na Alemanha, e o ex-primeiro-ministro da Espanha José Luiz Zapatero. Hoje se encontra com o atual, Pedro Sanchez. Fala de fome, miséria e avanço da direita internacional, sem um A sobre corrupção.
Assim, Moro constrói uma imagem de liberal na política e na economia (com Affonso Celso Pastore), mas usa a Lava Jato para atrair milhões de eleitores que ainda dão prioridade ao combate à corrupção. Aliás, como boa parte dos militares. Não foi à toa que o general Hamilton Mourão disse que Moro é o “principal candidato da terceira via”.