Banco Central promove maior choque de juros em quase 20 anos para conter a inflação

By | 08/12/2021 6:40 am

Com o novo aumento previsto para a Selic, que deve ir a 9,25%, taxa vai acumular alta de 7,25 pontos em nove meses; mesmo assim, BC não deve cumprir metas de inflação estipuladas para 2021 e 2022

(Thaís Barcellos, nO Estadão, postado em 08 de dezembro de 2021)

Para combater uma inflação alta, persistente e disseminada, o Banco Central está promovendo o mais forte choque de juros em quase 20 anos, considerando que a taxa Selic deve chegar a 9,25% hoje, no último Comitê de Política Monetária (Copom) do ano. Em nove meses, o aumento acumulado deve somar 7,25 ponto porcentual, do ponto inicial de 2% – o mínimo histórico.

A dose cavalar de juros em curto espaço de tempo só fica atrás nos últimos 20 anos do ciclo iniciado no fim de 2002, em meio à eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquela oportunidade, a taxa Selic subiu 7,5 pontos em apenas três meses – de outubro a janeiro, com uma alta final de 1 ponto em fevereiro, para 26,50%.

Mesmo com os juros subindo “de elevador”, é provável que o Banco Central descumpra seu objetivo por dois anos seguidos, em 2021 e 2022, considerando a maioria das projeções de economistas ouvidos pela própria instituição para o boletim Focus. Inflação na casa dos dois dígitos promove uma bagunça na economia, prejudica a atividade e empobrece a população.

Banco Central
O aumento dos gastos públicos – com o governo de olho em 2022 -, ajuda a explicar a subida rápida do juro pelo BC. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O “remédio amargo” de 1,5 ponto porcentual previsto para hoje é esperado pela totalidade das instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, conforme indicação do BC em outubro. Se confirmada, será a sétima elevação da taxa Selic neste ciclo de aperto monetário, que foi iniciado em março, e o nível mais alto desde setembro de 2017. O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

Uma combinação de ponto de partida muito baixo, certa demora do Banco Central para agir e surpresas inflacionárias e fiscais explicam o processo acelerado de alta de juros, na opinião de especialistas. “O primeiro ponto para explicar a rapidez é o ponto de partida, o fato que começamos com o juro, em retrospecto, baixo demais. Essa não era minha visão no início do ano. Mas o juro a 2% estava muito baixo, a inflação descolou e o BC teve que correr atrás do prejuízo”, avalia o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.

Segundo Schwartsman, olhando de hoje, o BC esteve “atrás da curva” desde o início do processo de alta de juros, com a necessidade de ajustar a estratégia e a comunicação a cada novo Copom. Ele também argumenta que a piora fiscal provocou desancoragem de expectativas, dificultando o trabalho do BC. “Boa parte da desancoragem das expectativas de inflação deve ser explicada pelo fato de o fiscal estar indo para o ralo.”

Surpresa

Para a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro, a inflação surpreendeu a todos, aos BCs daqui e de lá de fora, além do mercado. Mas o caso brasileiro é mais grave, porque foi potencializado pelo drible nas regras fiscais, como o teto de gastos e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que aumenta o risco-país e gera maior desvalorização do real.“O risco de insustentabilidade fiscal exige uma atitude mais dura do BC, porque ele está sozinho. O BC americano também tem mudado o discurso. Mas nosso juro está subindo de elevador pelos problemas domésticos”, diz.

No último Copom, em outubro, o BC mudou o “plano de voo”, de alta da Selic de 1,0 para de 1,50 ponto porcentual, diante de novas surpresas inflacionárias e das manobras patrocinadas pelo governo na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, para abrir espaço para mais gastos em 2022, ano eleitoral.

“O BC ficou inicialmente atrás da curva com as sinalizações tímidas, como a de normalização parcial. Mas, mais recentemente, foi a mudança abrupta do cenário fiscal que alterou totalmente o cenário para o BC”, concorda o economista-chefe da ASA Investments, Gustavo Ribeiro.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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