Choque de juros agrava condições de uma economia já estagnada’

By | 10/12/2021 11:08 am
Jogo pesado contra inflação disparada

Banco Central eleva juros para conter a inflação e evitar a ‘desancoragem’, mas efeitos sobre a política presidencial são incertos
O maior choque de juros dos últimos 20 anos continuará até a inflação ceder e as expectativas do mercado se acomodarem, promete o Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Recém-elevada para 9,25%, a taxa básica de juros deve chegar a 10,75% em fevereiro e seguir em alta ao longo de 2022, agravando as condições de uma economia já estagnada e sem rumo. Assustador para empresários, investidores e consumidores, o recado deveria ser levado muito a sério pelo presidente Jair Bolsonaro e seus acólitos. Um cenário menos sombrio, menos inseguro e menos sujeito à desordem dos preços depende principalmente de um poder federal menos irresponsável, mais voltado para as funções de governo e, tanto quanto possível, mais competente.

A piora das condições externas e internas é claramente apontada no informe do Copom, divulgado na quarta-feira, depois da última reunião. Bancos centrais das maiores economias mostram-se cautelosos diante da inflação persistente e podem apertar suas políticas. Além disso, a variante Ômicron torna mais incerta a recuperação dessas economias.

Internamente, a evolução econômica tem ficado abaixo da esperada, ao contrário da inflação, superior à prevista. No cenário básico, as projeções apontam inflação em torno de 10,2% em 2021, 4,7% em 2022 e 3,2% em 2023, sempre acima, portanto, das metas oficiais. Pelas previsões do mercado, poderiam ter acrescentado os autores do informe, a alta de preços deve bater no limite de tolerância do próximo ano, 5%, ou superá-lo ligeiramente.

Diante da piora das expectativas, o Copom se dispõe, de acordo com a nota, a buscar dois objetivos: conduzir a inflação à meta e restabelecer a confiança no sucesso da política monetária. “O comitê irá perseverar em sua estratégia”, segundo o informe, “até que se consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.” É preciso, avalia o Copom, eliminar o “risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos”.

Surgida recentemente no debate econômico e usada também pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, a palavra “desancoragem” aparece agora na linguagem do Copom. Têm subido as taxas de inflação estimadas, no mercado, também para 2023 e 2024, os dois primeiros anos do próximo período presidencial. Se essas previsões se confirmarem, quem assumir a Presidência em 2023 passará boa parte de seu mandato cuidando de estragos deixados pela atual administração.

Para enfrentar o duplo desafio – inflação muito alta e expectativas muito ruins –, o aperto monetário deverá avançar “significativamente em território contracionista”, segundo o comunicado. Por isso o comitê já indica para a próxima reunião, prevista para fevereiro, mais um ajuste de 1,5 ponto porcentual, deixando aberta a perspectiva de novos aumentos durante o ano. A taxa básica deverá estar em 11,25% no fim de 2022, segundo projeção do mercado registrada na pesquisa Focus divulgada na última segunda-feira. A mesma pesquisa indica inflação de 5,02% no próximo ano e crescimento econômico de apenas 0,51%.

Um aperto maior da política monetária poderá entravar os negócios, dificultar a recuperação do emprego e comprimir o consumo, impondo um freio à elevação de alguns preços. O custo econômico e social dessa política será considerável. Mas poderá ser nulo seu efeito sobre alguns dos principais fatores inflacionários, como a política presidencial e a insegurança das finanças públicas, especialmente num período de eleições.

“Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação”, adverte o Copom. Por enquanto, isso enriquece o currículo do presidente Jair Bolsonaro e de seu atencioso ministro da Economia, Paulo Guedes. A palavra “desancoragem” nunca havia sido usada oficialmente para descrever os efeitos da complacência, da temeridade e da irresponsabilidade no manejo das finanças públicas.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *