Presidencialismo de treta permanente

By | 16/12/2021 10:03 am

Os Poderes brigam entre si sem que se definam os limites de cada um

(William Waack, colunista dO Estadão, em 16 de dezembro de 2021)

Imagem William WaackO que parecia sinal sutil do “arranjo institucional” brasileiro virou evidência escancarada. O poder de mando espalhou-se por várias instâncias e a figura que mais atrai a atenção do público, a do presidente da República, sob Jair Bolsonaro perdeu importância relativa.

As atuais inéditas prerrogativas do Legislativo criaram a figura de dois primeiros-ministros: os presidentes da Câmara e do Senado. Individualmente ou em conjunto fazem avançar ou paralisam qualquer assunto, relevante ou não, por briga entre eles ou não, de interesse público ou não – com preferência para os interesses próprios.

Bolsonaro
Figura que mais atrai a atenção do público, a do presidente da República, sob Jair Bolsonaro perdeu importância relativa. Foto: Gabriela Bilo/Estadão

São “moderados” em parte pelo STF que “modera” também o Executivo. Por desígnio ou circunstâncias políticas o Supremo interfere em assuntos do Legislativo e do Executivo. Às vezes através de decisões monocráticas referendadas em plenário por um espírito de corpo que os ataques de Bolsonaro à instituição só ajudaram a consolidar.

Esse permanente conflito entre os Poderes se expandiu. O mais recente – STF x procurador-geral da República – tem como pano de fundo sério dilema institucional que se agravou desde a Lava Jato. Ambos, STF e PGR, são plenipotenciários. O PGR é o dono das ações penais, investiga ou arquiva o que quiser. É então um poder soberano (como o STF) que mantém sua última palavra, quando ninguém poderia estar acima da corte constitucional?

O que está em disputa no cenário inteiro é quem impõe limites a quem. “A democracia tem de resolver isso”, diz o professor de Direito Lenio Streck, que vem apontando para essa “profusão” de poderes de mando. Ocorre que a democracia brasileira parece muito distante de resolver qualquer questão fundamental, começando pelo sistema de governo, cujo desenho original foi piorado pelas inépcias políticas de Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.

Assim, é possível antecipar que já no dia 2 de outubro do ano que vem, data do primeiro turno das eleições, se terá uma ideia bem clara de como será o governo ainda antes de surgir o vitorioso na corrida ao Planalto (eleição em dois turnos continua sendo a hipótese mais provável apesar das recentes pesquisas ampliando o favoritismo de Lula). É que nesse 2 de outubro estarão definidas as maiores bancadas na Câmara e, portanto, os caciques mais poderosos.

“Presidencialismo de coalizão” perdeu uso prático como definição desse sistema de conflitos em propagação. Com a cooperação decisiva de Jair Bolsonaro, a figura forte que sairá com milhões de votos de um pleito plebiscitário vai queimá-los num novo regime. É o da treta permanente.

JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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