Os avisos de Mourão e Santos Cruz para Bolsonaro

By | 22/12/2021 6:59 am

Com pandemia e inflação, ninguém precisa de mais encrencas

(Elio Gaspari, Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralada”, na Folha,, em 21.dez.2021)

 

Elio GaspariBolsonaro encrencou com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária porque ela recomendou a vacinação das crianças. A Anvisa é presidida por um almirante-médico que ele indicou.

Ganha um fim de semana num garimpo ilegal da Amazônia quem souber qual é a utilidade pública dessa canelada, seguida por ameaças feitas aos funcionários da agência.

Ganha um lote desmatado quem for capaz de responder a qualquer uma dessas perguntas:

Que interesse tinha a diplomacia brasileira metendo-se na eleição americana e recusando-se a reconhecer a vitória de Joe Biden por 38 dias?

Que interesse essa mesma diplomacia defendia quando Bolsonaro hostilizou o candidato peronista Alberto Fernández? Ele se elegeu.

Por que Bolsonaro garantiu que o governo não compraria a vacina chinesa? Comprou.

Ganha dois lotes quem souber por que Bolsonaro disse em março de 2020 que a Covid seria uma “gripezinha”. Mais um lote para quem souber por que ele disse, em dezembro, que a pandemia estava no “finalzinho”. De lá para cá morreram mais de 400 mil brasileiros

Qual foi o motivo da fritura do general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz? O mesmo brinde vai para o caso da demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo.

Bolsonaro cultiva excentricidades. Sem caneladas, seriam apenas pitorescas. Afinal, do outro lado do balcão há gente que acredita que a imagem de Neil Armstrong andando na Lua em 1969 é uma fraude. Ninguém se mete em discussão por causa disso, do nióbio ou do grafeno. No caso do negacionismo sanitário, contudo, o capitão e suas falanges mostraram-se ameaçadores.

Nos últimos dias, dois generais da reserva publicaram artigos pedindo que se baixe a bola, nada além disso.

O general Santos Cruz escreveu o seguinte no jornal O Globo:

“O fanatismo sempre leva à violência e ao desrespeito. Está deteriorando e infectando relações pessoais, sociais e familiares. Está destruindo amizades por causa de governantes que não têm princípios nem compromisso com ninguém nem com nada. (…) O prejuízo ficará para famílias, instituições, amigos e o povo brasileiro… A vigarice seguirá em frente, na busca incessante da impunidade.”

No dia seguinte, foi a vez do vice-presidente Hamilton Mourão. Ele escreveu em O Estado de S. Paulo:

“A atual polarização do país extrapola a ciência política e atinge nossa rotina social. Por não sabermos lidar com a euforia própria da temática, nossas relações interpessoais acabam sendo afetadas. (…) As conversas temperadas de bom senso e gentileza terminam por ocorrer apenas entre aqueles que têm uma mesma visão do mundo e da política.”

“Todas as esferas da vida só prosperam com diálogo civilizado e construtivo. É preciso superar a agenda do confronto, do ‘eu contra você’ e ‘nós contra eles’. (…) A conversa, sem condenação prévia, sem rótulos, mas com abertura para o crescimento e soluções pacíficas, é fundamental para o avanço do Brasil, fortalecimento da democracia e resgate da paz social.”

Quem avisa inimigo não é.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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