Os perdedores de Lula

By | 23/12/2021 7:54 am

Os grupos que estiveram contra o petismo em 2018 ainda não sabem como se rearticular

(William Waack, Colunista dO Estadão 23 de dezembro de 2021)

Imagem William Waack

A força de Lula nas pesquisas criou até aqui dois relevantes grupos de perdedores. Um é o segmento de agentes da economia nos setores financeiros, da agro indústria e indústria que viram em 2018 em Bolsonaro a possibilidade de transformação da economia brasileira. O outro é a atual geração de comandantes militares opostos ao lulopetismo por razões ideológicas mas, também, por considerarem que tinham um projeto melhor de País.

Ambos retardaram demais o abandono da barca bolsonarista, na qual subiram por um misto de circunstâncias e conveniências – e falta de lideranças. Ambos pareciam emprestar ao governo Bolsonaro impulsos de modernização e eficiência de planejamento e gestão. O fracasso do presidente expôs também as dificuldades desses dois grandes segmentos em articular agendas abrangentes.

Os perdedores de Lula
William Wack: ‘A roubalheira registrada no governo Lula (não só dele, reconheça-se) foi a expressão do triunfo do patrimonialismo’.  Foto: Amanda Perobelli/Reuters

A adesão desses vários agentes a Bolsonaro foi mais circunstancial do que de fundo. Empresários e empreendedores tinham a esperança de um ambiente de negócios melhor em todos os sentidos (alguns acreditavam até em aumento de produtividade geral da economia, estagnada há décadas). Os militares viram inicialmente em Bolsonaro sobretudo um freio à volta do PT ao poder, depois do desastre dilmista.

Como sempre ao sabor do momento, estão novamente considerando – sobretudo o meio empresarial e financeiro – se uma acomodação com Lula não seria possível mas até desejável. Na definição imortal de Abílio Diniz, “no Brasil empresário não briga com o governo”. A não ser que o governo prejudique diretamente interesses, como aconteceu no caso do meio ambiente e política comercial exterior.

Lula jamais prejudicou interesses empresariais, muito pelo contrário. A roubalheira registrada em seu governo (mas não só dele, reconheça-se) foi a expressão do triunfo do patrimonialismo – quando grupos privados se apropriam de setores do Estado em benefício próprio. E o patrimonialismo, como se pode ver na votação do Orçamento e no domínio do governo Bolsonaro pelo Centrão, continua sendo uma característica fundamental no sistema político brasileiro. Lula é parte disso, e não o seu contrário.

Quanto aos militares, só o surgimento de uma liderança expressiva será capaz neste momento de superar a profunda desmoralização trazida ao setor pelo bolsonarismo. Alguns de seus expoentes (em comando de tropa ou já de pijama) admitem que o general incompetente na Saúde e a perda das posições de comando dentro do Palácio (agora do Centrão) são os fatos que perduram. Eles também não parecem dispostos a combater Lula. Querem uma terceira via, mas ainda não sabem qual.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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