Presidente da legenda socialista estica a corda em negociação de chapa Lula/Alckmin e ameaça possibilidade de aliança; em represália, petistas lançam pré-candidatos nos estados
A bancada de deputados federais do PSB se reuniu nesta semana para discutir a possibilidade de se unir em uma federação com o PT.
A ideia foi aprovada por ampla maioria dos parlamentares e deve aumentar a pressão sobre o presidente do partido, Carlos Siqueira, para que viabilize a aliança.
Por ela, os dois partidos unem forças em todos os estados do país para conquistar votos para assembleias estaduais, Câmara dos Deputados e Senado. Apoiam chapas únicas para os governos estaduais –e fazem campanha para Lula à Presidência. Onde forem vitoriosos, governam juntos: a lei determina que uma federação tem que durar pelo menos quatro anos.
Lideranças estaduais do partido que têm receio de perder eleitores antipetistas, como o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, no entanto, têm bombardeado a aliança. Ele já afirmou que é contra a federação e que ela “acomoda o partido”.
“A federação é a melhor forma de elegermos mais deputados do campo de centro-esquerda. Ela fortalece as disputas aos governos estaduais. E cria governança para os eleitos”, afirma ele.
O endurecimento de Carlos Siqueira nas negociações com o PT, no entanto, pode inviabilizar a federação, o que preocupa os parlamentares.
Siqueira tem exigido que o PT retire candidaturas a governos estaduais em diversos estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Pernambuco, Acre e Rio de Janeiro, para só então avançar em um acordo.
Além disso, os socialistas indicariam o candidato a vice de Lula –o nome de Geraldo Alckmin foi lançado ao cargo por Márcio França e amplamente aceito no PT, apesar de críticas pontuais.
O PT resiste à pressão para retirar todas as candidaturas, especialmente a de Fernando Haddad em São Paulo. E reagiu lançado pré-candidatos ao governo em estados-chave para o PSB, como o senador Humberto Costa em Pernambuco.
O estado é hoje o maior reduto e principal polo de poder dos socialistas, que comandam também a prefeitura de Recife.
O apoio de Lula a um candidato do PSB ao governo é considerado crucial para que o partido mantenha o poder em Pernambuco.
O ex-presidente pretendia apoiar o candidato socialista ao governo pernambucano. Mas, com o endurecimento de Siqueira, Costa emergiu como pré-candidato.
O PT filiou o senador Fabiano Contarato no Espírito Santo. Ele é um candidato potencial ao governo.
No Rio Grande do Sul, o PT mantém a pré-candidatura de Edegar Pretto, que aparece na frente de Beto Albuquerque, do PSB, nas pesquisas eleitorais.
Já Marcelo Freixo tem o apoio entusiasmado de Lula para concorrer ao governo do Rio. Mas o enterro da federação partidária poderia comprometer uma aliança dele com o PT, que neste caso lançaria candidato próprio.
Petistas avaliam que o fracasso de um acordo com o PSB seria muito ruim para Lula —mas ainda pior para os socialistas.
Eles teriam como opção lançar candidato próprio ou apoiar Ciro Gomes, que tem 7% nas pesquisas e não conseguiria alavancar candidaturas estaduais dos socialistas com a mesma força de Lula.
Interlocutores de Lula afirmam ainda que o lançamento de pré-candidaturas próprias neste momento nos estados não é uma retaliação do PT _mas apenas uma demonstração natural de força do partido, que teria alternativas viáveis em várias unidades da federação caso não consiga se juntar aos socialistas.
A posição dos deputados do PSB evidencia a divisão da legenda pois faz um contraponto a lideranças regionais, como França, que defendem que Carlos Siqueira siga endurecendo com o PT para arrancar concessões dos petistas nos estados. Ou àquelas que simplesmente não querem se juntar aos petistas, como Casagrande.
Em uma reunião com Carlos Siqueira, em dezembro, 18 diretórios estaduais do PSB votaram a favor da federação com o PT, contra apenas cinco que foram contrários: Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Mato Grosso não querem caminhar com os petistas. Tocantins é contra a formação de qualquer federação.