A intenção do Ministério da Saúde é unicamente atender aos interesses do “cientista” Bolsonaro!

By | 10/01/2022 11:33 am

Governo federal usa consulta pública para adiar a decisão sobre kit covid

Após órgão técnico do próprio Ministério da Saúde atestar ineficácia desses remédios contra a doença, pasta ainda não definiu protocolo para tratar pacientes na rede pública

Após órgão técnico do próprio Ministério da Saúde atestar a ineficácia do chamado “kit covid”, a pasta ainda não definiu um protocolo de atendimento da doença para pacientes hospitalizados na rede pública. Com quase dois anos de pandemia, o governo brasileiro também não tem diretrizes para tratar casos clínicos. O secretário de Ciência e Tecnologia, Hélio Angotti Neto, engavetou duas de oito diretrizes contra a covid, aprovadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS, em junho e em dezembro. Ambas reprovam a hidroxicloroquina e outros remédios que não funcionam contra o novo coronavírus — e foram difundidos pelo presidente Jair Bolsonaro.

Aliado ideológico do presidente, Angotti Neto promoveu quatro audiências públicas em 2021. Metade era relacionada aos tratamentos hospitalar e ambulatorial para a covid, que ainda esperam desfecho. Inundadas com manifestações de negacionistas, as audiências e consultas públicas feitas pelo governo sobre o tema serviram para adiar a decisão e para não contrariar Bolsonaro. A Conitec reprovou o uso hospitalar das drogas em junho. Caberia a Angotti Neto mandar as diretrizes para publicação em Diário Oficial, para que as normas técnicas entrassem em vigor. Sem a oficialização do protocolo, a rede pública fica livre para adotar condutas próprias em diferentes regiões do País.

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A consulta do Ministério da Saúde recebeu mais de 20 mil comentários; segundo professor da USP, a maioria sem valor acadêmico Foto: Gerard Julien/AFP

Ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o sanitarista Claudio Maierovitch destaca que pacientes podem estar recebendo tratamentos sabidamente inadequados. “Quando não existe um protocolo nacional há uma liberdade para que cada um faça o próprio protocolo. Pode ser que alguns Estados e municípios adotem protocolos muito diferentes, que não respeitam bases científicas e o conhecimento construído durante essa pandemia. E isso pode continuar acontecendo na medida em que não há nenhum documento oficial que diga o que não é para fazer.”

Os documentos técnicos sobre remédios aprovados na Conitec foram produzidos por um grupo de pesquisadores, a pedido do próprio ministro Marcelo Queiroga. No caso dos pacientes internados, a recomendação era a de “não utilizar cloroquina ou hidroxicloroquina”. Em outra pesquisa, sobre pacientes tratados clinicamente, a Conitec concluiu, em dezembro, que remédios como cloroquina e azitromicina também não funcionam. A comissão precisou votar o tema duas vezes. Houve ainda uma consulta pública – instrumento que é praxe na comissão. Apesar de o relatório técnico ter sido aprovado em 8 de dezembro, Queiroga decidiu convocar uma audiência pública, 20 dias depois – o que não é comum –, para rediscussão.

A pasta chamou defensores do chamado tratamento precoce para debater o tema com representantes de entidades médicas. Ao insistir com a cloroquina, uma das convidadas da audiência pública, a professora de Educação Física Marcia Rohr da Cruz falou em “interesses geopolíticos” e afirmou que “estamos em guerra”. “Não tem tanque, não tem míssil”, disse. “Mas tem pânico, tem medo. Esta guerra foi declarada há bastante tempo.”

Segundo a educadora, “a crise é pensada” e “o único intuito” da imunização contra a covid é “a modificação genética”. “Acorda, povo de Deus. Eles vão eliminar parte dos nossos irmãos. Eles precisam retirar a nossa alma para alcançar o objetivo macabro de poder e dominação. Que Deus nos proteja desses hereges fariseus.” Quase uma semana após a audiência pública sobre tratamento ambulatorial, Angotti ainda não liberou o protocolo aprovado pela Conitec para publicação em Diário Oficial. A etapa é necessária para que o documento tenha validade e o SUS possa definir estratégias de tratamento a partir dele.

Engavetamento

O médico Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Unesp e consultor para covid-19 da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Associação Médica Brasileira (AMB), participou do grupo que elaborou as diretrizes para o tratamento ambulatorial contra a doença. Ao Estadão, Barbosa afirmou que o engavetamento do protocolo impede que uma informação avançada chegue aos médicos da linha de frente. Ainda segundo ele, o ministério represa um documento fruto de “meses trabalho árduo” que foi amplamente discutido em esferas técnicas.“ (No documento) tem a discussão sobre hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, nitazoxanida e colchicina, está tudo bem claro e com todas as evidências científicas de que essas medicações não funcionam. A gente ainda vê colegas com dúvidas,”.

Barbosa pontua ainda que as diretrizes sobre o tratamento hospitalar também apontam temas importantes como qual dose e tipo de corticoide, de anticoagulante e de antibiótico usar em pacientes internados. De acordo com o médico, todos esses tópicos ainda geram dúvidas em médicos. “O Ministério prepara esses protocolos para auxiliar quem está na linha de frente. Isso é um desserviço enorme.”

Atrasos

O expediente de usar ferramentas legais para adiar a decisão sobre assuntos que interessam ao bolsonarismo também surgiu no caso de vacinação de crianças e adolescentes contra a covid. Apesar de ter segurança e eficácia verificadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a imunização desse público foi contestada por Marcelo Queiroga. O ministro decidiu convocar uma consulta e uma audiência pública.

Nos casos em que receber a opinião da sociedade para embasar decisões é comum, como na análise de medicamentos para tratar a covid pela Conitec, a consulta não se mostrou útil. Apoiadores de Bolsonaro e leigos invadiram os formulários de contribuições.

Houve mais de 20 mil comentários. Todos precisaram ser analisados pela equipe do professor Carlos Carvalho, da USP. A maioria das sugestões carregava impressões pessoais, motivações políticas e religiosas. Havia citações a Deus, pedidos pelo fim da Conitec e até menções a uma “intervenção globalista”. “A maioria era sem grande valor acadêmico. Eram pessoas isoladas dizendo que tomou isso e aquilo. Era perceptível que alguém havia pedido esse tipo de contribuição.”

Desde o dia 31 de dezembro a reportagem pede ao Ministério da Saúde explicações sobre a demora para publicação dos protocolos. Até o momento, não houve respostas.

Nossa opinião

De um lado, cientistas e técnicos sérios, baseados no que há de melhor na pesquisa cientifica em todo o mundo. De outro lado, servidores “puxa-sacos”, do Ministério da Saúde, cujo único interesse é não contrariar as barbaridades defendidas pelo “cientista maluco”, Jair Bolsonaro. (LGLM)

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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