Exército, que Bolsonaro chamou de seu, começa a distanciar-se dele

By | 10/01/2022 7:26 am
(Ricardo Noblat, no Metrópoles,
Cerimônia de comemoração do dia do soldado no Quartel General do Exército agenda bolsonaro militares 4
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Há dois dias, irritado com o que leu ou leram para ele, o presidente Jair Bolsonaro pressionou o general Paulo Sérgio de Oliveira, Comandante do Exército, para que revisse sua diretriz que regula o retorno da tropa ao trabalho presencial em meio à pandemia da Covid-19 que matou no Brasil mais de 620 mil pessoas.

Bolsonaro interpretou a diretriz, ou interpretaram por ele, como uma forma de Oliveira cobrar “passaporte da vacina”, o que o presidente rejeita. Seu capacho, o general Walter Braga, ministro da Defesa, reuniu-se na tarde de sexta-feira para discutir o assunto com generais do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Então, deu-se como certo que o Comandante do Exército divulgaria uma nota a respeito da diretriz que recomenda o “uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização de mãos”, e ordena que os militares não reproduzam notícias falsas sobre a pandemia. Cadê a nota? Por ora, não saiu. Talvez jamais saia.

Se sair, dificilmente configurará um recuo de Oliveira que tomou, ontem, o café da manhã com Bolsonaro. “Não tem exigência nenhuma. Não tem mudança. Pode esclarecer”, pediu o presidente a jornalistas. “Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se não quiser, tá resolvido, não tenho que dar satisfação a ninguém”. Tem e deu.

A cobertura vacinal nas Forças Armadas é menor que a do Brasil. No país, é de 75%. No Exército, 56,3% e na Aeronáutica, 54,9%, conforme publicou o site Metrópoles. Ao todo, 36 mil militares das duas armas se recusam a serem vacinados. Oliveira está preocupado com isso, sempre esteve, daí a diretriz que editou.

No mesmo dia em que tentou enquadrar o Comandante do Exército, Bolsonaro partiu para cima da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), presidida pelo almirante Antonio Barra Torres, que liberou a vacinação infantil contra a Covid. Sugeriu que, ali, pode haver corrupção. Não apresentou provas.

Para quê fez isso… Na noite do sábado, em uma nota em tom pessoal, o almirante deu-lhe o troco. Disse, entre outras coisas:

“Senhor presidente, como oficial general da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. […] Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho”.

“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa. Aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho tenho o privilégio de integrar”.

“Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Pelo contrário”.

Bolsonaro emudeceu. Também não respondeu ao general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro do seu governo, que disse que ele faz “um show de besteiras todos os dias”. Tampouco ao general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras, nomeado por ele, mas que nem sempre faz as suas vontades.

Silva e Luna voltou a dizer que a política de preços da Petrobras será mantida. Bolsonaro quis alterá-la para baixar o preço dos combustíveis e faturar votos. “O que regula o preço é o mercado, particularmente quando se trata de commodities”, ensinou o general. “Essa percepção já está bem consolidada”.

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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