Desastres em dois dígitos

By | 12/01/2022 1:11 pm

Com inflação e desemprego acima de 10%, o Brasil de Bolsonaro mantém desempenho muito pior que o da maior parte do mundo

Dois desastres econômicos e sociais de dois dígitos, inflação e desemprego, enriqueceram o currículo tenebroso do presidente Jair Bolsonaro em 2021. Empobrecimento foi a contrapartida para a maioria das famílias, com miséria e fome para as mais desafortunadas. A alta de preços até dezembro, de 10,06%, foi a maior desde 2015, quando um aumento de 10,67% premiou os desmandos da presidente Dilma Rousseff. Mas nem com a recessão de 2015-2016 a petista conseguiu elevar a desocupação a 14%, taxa superada em vários trimestres pelo presidente negacionista e inimigo da vacinação. O último levantamento mostrou 12,9 milhões de desempregados, 12,1% da força de trabalho. Não há sinais de melhora significativa até o fim do ano recém-terminado nem expectativa de grande redução do desemprego em 2022.

Já acuados pelas dificuldades de emprego, os brasileiros ainda viram seus ganhos devastados pelo forte encarecimento de bens e serviços. Transportes, habitação e alimentação foram os itens com maiores aumentos e maiores impactos no resultado geral da inflação. Comer ficou 7,94% mais caro, mas essa variação, inferior à de outros itens, ocorreu sobre uma base muito elevada. No ano anterior os preços de alimentos e bebidas haviam subido 14,09%. A alta acumulada em dois anos chegou, portanto, à assustadora taxa composta de 23,15%, num quadro de míseras oportunidades de trabalho e de remuneração. Mas a inflação, dizem figuras do Executivo, é um desajuste espalhado globalmente a partir de 2020, como efeito da pandemia. A rápida retomada inicial da economia chinesa pressionou preços de produtos agrícolas e minerais. Em seguida, surgiram desarranjos nas cadeias de suprimento de insumos, como semicondutores. A indústria automobilística mostra com muita clareza os danos causados por esses problemas. Custos de produção subiram em vários setores e afetaram os preços finais cobrados no comércio.

Problemas ocorreram globalmente, de fato, mas na maior parte do mundo a evolução dos preços tem sido muito mais discreta do que tem sido no Brasil. Nos 38 países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a inflação acumulada em 12 meses chegou em novembro a 5,8%, a maior taxa desde maio de 1996. No Grupo dos 20 (G-20), a alta de preços acumulada nesse período atingiu 5,9%. Mas essa média foi claramente influenciada pelos aumentos ocorridos em três países: 51,2% na Argentina, 10,7% no Brasil e 8,4% na Rússia. No mundo rico, a economia com pior desempenho nos preços, nos 12 meses até novembro, foi a dos Estados Unidos, com variação de 6,4%. Na União Europeia a média ficou em 2,9%, com a maior taxa, de 4,6%, registrada na Alemanha.

Menos afetados pela alta de preços ao consumidor, os trabalhadores das economias avançadas e da maior parte das emergentes também foram menos pressionados que os brasileiros pelo desemprego. Na OCDE, o desemprego caiu de 5,8% em setembro para 5,7% em outubro. Na zona do euro, a taxa média recuou, no mesmo período, de 7,4% para 7,3%. Nos Estados Unidos, passou de 4,6% para 4,2%.

Várias dessas economias encolheram mais que a brasileira, em 2020, mas com efeitos menos dramáticos no emprego, desajustes menos prolongados e danos sociais menos sensíveis. No Brasil, o auxílio emergencial aos mais pobres foi menos contínuo, a desocupação continuou muito elevada e os preços aumentaram mais intensamente depois da fase inicial da pandemia. A insegurança em relação ao quadro fiscal, especialmente quanto à dívida pública, tem sido constante e assim permanece.

A gestão das contas federais, com pouco planejamento, generosa distribuição de dinheiro a aliados do presidente e excessiva atenção a interesses eleitorais, complica o financiamento do Tesouro, pressiona os juros e gera permanente desajuste cambial. Insegurança econômica e inflação acelerada são algumas das consequências. A maioria dos trabalhadores pode nem ter noção dessas questões, mas essa gente é quem paga a conta dos desmandos praticados em seu nome e com seu dinheiro.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *