Bolsonaro quer aprovar pacote de bondades a PMs e bombeiros para impulsionar campanha à reeleição

By | 13/01/2022 4:18 pm

Consideradas estratégicas para o apoio ao presidente, categorias pressionam o governo após promessa de reajuste para a Polícia Federal

A nova articulação ocorre após o governo patrocinar um reajuste para policiais federais no Orçamento de 2022, o que provocou pressão dos policiais militares. A proposta inicialmente tirava poder dos governadores sobre o comando das polícias, mas deve agora se concentrar em um pacote de benefícios para os militares nos Estados, que formam o maior contingente de segurança pública no País.

Capitão Augusto
O deputado Capitão Augusto é coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública na Câmara dos Deputados Foto: Alex Silva/Estadão

Números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que só na ativa há 406 mil PMs e 56 mil bombeiros. No pacote em estudo pelo governo para consolidar o apoio das categorias estão previstas a criação de novas patentes e a possibilidade de policiais e bombeiros que se tornaram parlamentares voltarem à ativa, se não forem reeleitos. Há, ainda, a garantia de nomeação e promoção para investigados pela Justiça e mesmo para os que se tornaram réus.

Temor

A movimentação de militares desde que Bolsonaro tomou posse aumentou o temor sobre o uso político das PMs contra governadores. Um exemplo foi a pressão por reajuste salariais em vários Estados, em 2020, que desembocou em um motim no Ceará. O controle das polícias militares e dos bombeiros cabe aos gestores estaduais. A lei orgânica pode estabelecer políticas gerais, mas casos como revisão salarial ainda ficam sob o poder dos governadores.

A “bancada da bala” elegeu esse projeto como prioritário para este ano e quer aprovar o texto em março na Câmara e na sequência no Senado, a tempo da campanha eleitoral. Relator da proposta, o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Capitão Augusto (PL-SP), antecipou a nova versão do parecer ao Estadão/Broadcast Político e retirou alguns pontos questionados. O texto ainda deve passar por revisão.

 

“Esse projeto é algo muito caro para nós da polícia. Estamos aguardando há mais de 30 anos. Não tem custo, mas é importante para sedimentar vários direitos e garantias. Até agora, o governo não fez nada para as polícias estaduais, que formam a grande massa de policiais do Brasil e sempre apoiaram Bolsonaro”
Capitão Augusto, Deputado (PL-SP)

Diante da articulação pelo reajuste para policiais federais, impasse ainda não resolvido, o projeto se tornou uma estratégia para o governo agradar aos policiais militares, que passaram a reclamar por ficar “atrás” na fila das benesses. A queixa se avolumou porque os PMs representam o maior efetivo das forças de segurança, além de potencial apoio para a campanha da reeleição de Bolsonaro.

Policiais reclamavam da falta de empenho do governo e até de declarações públicas de Bolsonaro a favor da lei orgânica. No mês passado, articuladores do Planalto se mobilizaram pela aprovação de um requerimento de urgência para acelerar a tramitação do projeto no plenário da Câmara e colocá-lo na lista de prioridades para 2022.

A mudança acabou sendo adotada por aliados ligados à segurança pública que disputarão cargos em outubro. O requerimento de urgência foi aprovado por 264 votos a 141, placar suficiente para aprovação de um projeto de lei. Apenas os partidos de oposição orientaram contra.

“Várias entidades são a favor, o Ministério da Justiça é a favor, as Forças Armadas são a favor. Nesse sentido, o governo Bolsonaro também é a favor”, afirmou o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), durante a votação.

Em outra frente, policiais militares também pressionam os governadores nos Estados, como mostrou o Estadão.

Medidas

O projeto na Câmara revisa um decreto-lei de 1969 e promove mudanças na organização interna das polícias e bombeiros militares, instituições subordinadas aos governadores. A proposta é alvo de questionamento nos Estados, que alegam interferência do governo e do Congresso e pode acabar na Justiça. Para diminuir as resistências, o relator deve submeter o texto a instituições que representam os policiais e os gestores e, assim, reduzir a margem de questionamento.

O texto cria três novas patentes para policiais da cúpula (tenente-general, major-general, brigadeiro-general), garante revisão na remuneração, a ser definida pelos Estados, e estabelece uma série de privilégios para policiais, como tratamento diferenciado em caso de investigações ou prisão criminal.

Além disso, o projeto permite que profissionais indiciados em inquérito policial ou réus em processo judicial ou administrativo sejam nomeados e até promovidos nas corporações. A promoção de policiais investigados foi posta no projeto sob o argumento de que a Constituição garante o princípio da presunção de inocência.

Sob essa mesma regra, o Supremo Tribunal Federal (STF) revisou um entendimento recentemente e derrubou a prisão após condenação em segunda instância para crimes comuns. “É contra a nossa vontade, mas é a Constituição que está dizendo isso. Estamos acertando algo em que hoje há uma vedação velada, mas temos de respeitar a Constituição, mesmo sendo contrários”, disse Capitão Augusto.

 

PM
Policiais militares do Estado de São Paulo Foto: Hélvio Romero/Estadão

Para os policiais e bombeiros que se lançam na política, o texto garante o direito de um parlamentar não reeleito retomar as atividades na corporação, inclusive estendendo o direito aos congressistas atuais. Atualmente, eles são afastados e não podem voltar à ativa. “O que os PMs estão pedindo é para trabalhar. Se eu não fosse reeleito, eu gostaria de voltar e continuar trabalhando”, afirmou o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública. A regra para eleição de militares está na Constituição e este é outro ponto que pode ser questionado ao ser encaminhado por um projeto de lei.

A nova versão do parecer excluiu o tempo de mandato e a exigência de lista tríplice para escolha dos comandantes-gerais da Polícia Militar nos Estados, medida criticada por governadores no ano passado, após o Estadão revelar o teor do parecer. Hoje, a escolha é feita livremente pelos governadores e não há limitação ao período dos oficiais nos cargos.

Capitão Augusto também decidiu retirar a medida que obrigaria os chefes dos Executivos estaduais a comprovar os motivos para exoneração dos comandantes e o dispositivo que daria a esses oficiais a mesma condição de secretários. O relatório mantém, por outro lado, a exigência de que os comandantes sejam escolhidos por critério de antiguidade, entre aqueles que fazem parte do primeiro terço dos oficiais. “É o mínimo que existe em praticamente todos os Estados e estamos padronizando. Não há nada que restrinja os governadores”, argumentou o deputado.

Nossa opinião

Em sua tentativa desesperada de evitar a derrota, Bolsonaro não quer saber se estoura o orçamento, se provoca mais inflação, se provoca mais desemprego. Ele vai fazer de tudo para evitar o “estouro da boiada”. (LGLM)

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *